São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2004

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Uiramutã pode deixar de existir

DA AGÊNCIA FOLHA, EM UIRAMUTÃ (RR)

Uma das áreas com maior potencial de conflito em Roraima é a região de Uiramutã (334 km de Boa Vista), município que pode ser extinto caso a área vire uma reserva indígena contínua.
A cidade é cortada por um igarapé. Ao lado de uma margem, fica o núcleo urbano, com ruas iluminadas, uma agência do correio, uma escola estadual e uma municipal (veja quadro nesta página). De outro, a menos de 1 km, fica a maloca (comunidade indígena) do Uiramutã, sem luz elétrica, com construções rústicas e uma escola com instrução apenas na língua macuxi.
No núcleo urbano, a prefeita da cidade, Florany Mota (PT), e os índios ouvidos pela Agência Folha são contrários à demarcação contínua da terra Raposa/Serra do Sol, pois isso pode causar a extinção do município. Na maloca, os índios têm posição oposta.
A proximidade entre as duas comunidades aponta para um possível conflito na área a partir da decisão do governo federal sobre a questão. A reportagem ouviu ameaças feitas pelos dois lados.
No total, o município tem 5.802 habitantes, entre eles 1.505 não-índios, segundo o Censo 2000 do IBGE. Esse número não inclui a maloca do Maturuca, onde os recenseadores foram impedidos de trabalhar pelos índios, que não aceitam a presença de "brancos".
No núcleo urbano, há casas com televisores, computadores e aparelhos de CD. Duas escolas bilíngües -em português e macuxi- são freqüentadas por mais de 700 crianças, moradoras da cidade e de vilas próximas ao município.
Para a prefeita, a homologação contínua inviabilizará o município. "Também somos índios, mas não queremos viver isolados."
Já do outro lado do igarapé, o índio macuxi Leonardo Pereira da Silva defende a proposta da Funai (Fundação Nacional do Índio) e do CIR (Conselho Indígena de Roraima) e exige a homologação contínua da área.
"A terra é do índio e é para ser usada pelo índio. Já fomos humilhados e escravizados por décadas pelo homem "branco". Agora queremos o que é nosso por direito." Ele também defende a retirada dos não-índios da área da reserva.
Na estrada que liga Uiramutã a Boa Vista há uma barreira montada por índios contrários à homologação contínua. Daquele trecho em diante, estrangeiros e pessoas ligadas à Funai têm dificuldade em seguir viagem. Índios acreditam que estrangeiros financiam ONGs a favor da demarcação contínua.
A 2 km do núcleo urbano, funciona desde 2002 o 6º Pelotão Especial de Fronteira do Exército, que monitora uma extensão de 324,5 km de fronteira. Dos 48 militares, 4 são índios macuxis da região. (JER)


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