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Uiramutã pode deixar de existir
DA AGÊNCIA FOLHA, EM UIRAMUTÃ (RR)
Uma das áreas com maior potencial de conflito em Roraima é a
região de Uiramutã (334 km de
Boa Vista), município que pode
ser extinto caso a área vire uma
reserva indígena contínua.
A cidade é cortada por um igarapé. Ao lado de uma margem, fica o núcleo urbano, com ruas iluminadas, uma agência do correio,
uma escola estadual e uma municipal (veja quadro nesta página).
De outro, a menos de 1 km, fica a
maloca (comunidade indígena)
do Uiramutã, sem luz elétrica,
com construções rústicas e uma
escola com instrução apenas na
língua macuxi.
No núcleo urbano, a prefeita da
cidade, Florany Mota (PT), e os
índios ouvidos pela Agência Folha são contrários à demarcação
contínua da terra Raposa/Serra
do Sol, pois isso pode causar a extinção do município. Na maloca,
os índios têm posição oposta.
A proximidade entre as duas comunidades aponta para um possível conflito na área a partir da
decisão do governo federal sobre
a questão. A reportagem ouviu
ameaças feitas pelos dois lados.
No total, o município tem 5.802
habitantes, entre eles 1.505 não-índios, segundo o Censo 2000 do
IBGE. Esse número não inclui a
maloca do Maturuca, onde os recenseadores foram impedidos de
trabalhar pelos índios, que não
aceitam a presença de "brancos".
No núcleo urbano, há casas com
televisores, computadores e aparelhos de CD. Duas escolas bilíngües -em português e macuxi-
são freqüentadas por mais de 700
crianças, moradoras da cidade e
de vilas próximas ao município.
Para a prefeita, a homologação
contínua inviabilizará o município. "Também somos índios, mas
não queremos viver isolados."
Já do outro lado do igarapé, o
índio macuxi Leonardo Pereira
da Silva defende a proposta da Funai (Fundação Nacional do Índio)
e do CIR (Conselho Indígena de
Roraima) e exige a homologação
contínua da área.
"A terra é do índio e é para ser
usada pelo índio. Já fomos humilhados e escravizados por décadas
pelo homem "branco". Agora queremos o que é nosso por direito."
Ele também defende a retirada
dos não-índios da área da reserva.
Na estrada que liga Uiramutã a
Boa Vista há uma barreira montada por índios contrários à homologação contínua. Daquele trecho
em diante, estrangeiros e pessoas
ligadas à Funai têm dificuldade
em seguir viagem. Índios acreditam que estrangeiros financiam
ONGs a favor da demarcação
contínua.
A 2 km do núcleo urbano, funciona desde 2002 o 6º Pelotão Especial de Fronteira do Exército,
que monitora uma extensão de
324,5 km de fronteira. Dos 48 militares, 4 são índios macuxis da região.
(JER)
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