São Paulo, sábado, 03 de maio de 2008

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"Resolvi sair de reserva para não acontecer uma tragédia", diz agricultor

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA

Desde a homologação da reserva Raposa/Serra do Sol pelo presidente Lula, 252 das 284 ocupações de não-índios que viviam na área foram retiradas. O número significa 161 das 176 famílias -uma família pode ser dona de mais de uma ocupação, que são comércios, fazendas, casas ou sítios.
De acordo com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), 131 das 161 famílias retiradas da reserva foram reassentadas em terras adquiridas pelo instituto em Roraima.
Em Murupu (30 km de Boa Vista), a Folha visitou no início de abril o projeto de assentamento Nova Amazônia, onde há 36 famílias, chamadas pelos outros moradores de "desintrusados da Raposa/ Serra do Sol" -expressão que é rejeitada pelo grupo.
"Até o nome "desintrusado" é nojento", afirmou o produtor rural José Afonso Lima, 49, que saiu da terra em agosto de 2007. Mesmo antes de receber a área, ele invadiu o projeto para assegurar terra para os três filhos e a mulher, uma índia macuxi guianense de 32 anos. "Invadi porque, se fosse ao Incra, ia perder meu tempo e me angustiar mais."
Segundo o Incra, a situação do produtor está regularizada. Em seus 500 hectares no projeto de reassentamento (o equivalente a 700 campos de futebol), há água, gado, galinhas, porcos e plantações de cítricos. Com a indenização de R$ 75 mil que recebeu da Funai, comprou duas motos e um motor de luz -ele reivindicava R$ 500 mil. "Como o Luz Para Todos [programa federal] não botou energia, fiz um "gato" [ligação irregular]."
Lima disse que vivia na reserva desde 1977, em 1.200 hectares onde criava gado e plantava melancia. Afirmou que começou a ser pressionado por índios depois que a Funai determinou a retirada, em 2005, mas que saiu espontaneamente. "Fiquei seis meses sob pressão. Os índios queriam matar os bichos e cortar a cerca. Resolvi sair para não acontecer uma tragédia."
O Incra afirmou ter 50 projetos de assentamento destinados a pequenos produtores em Roraima, em áreas que somam 1,5 milhão de hectares. Para os arrozeiros, foram identificadas três áreas.
Pequenos e médios agropecuaristas que tinham lotes de até 500 hectares receberam indenizações da Funai que somam R$ 6,7 milhões. Outros R$ 5 milhões estão depositados em juízo para famílias que ainda não saíram da terra, como arrozeiros. (KÁTIA BRASIL)


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