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"Resolvi sair de reserva para não acontecer uma tragédia", diz agricultor
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA
Desde a homologação da reserva Raposa/Serra do Sol pelo presidente Lula, 252 das
284 ocupações de não-índios
que viviam na área foram retiradas. O número significa 161
das 176 famílias -uma família
pode ser dona de mais de uma
ocupação, que são comércios,
fazendas, casas ou sítios.
De acordo com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), 131
das 161 famílias retiradas da
reserva foram reassentadas
em terras adquiridas pelo instituto em Roraima.
Em Murupu (30 km de Boa
Vista), a Folha visitou no início de abril o projeto de assentamento Nova Amazônia, onde há 36 famílias, chamadas
pelos outros moradores de
"desintrusados da Raposa/
Serra do Sol" -expressão que
é rejeitada pelo grupo.
"Até o nome "desintrusado"
é nojento", afirmou o produtor rural José Afonso Lima,
49, que saiu da terra em agosto de 2007. Mesmo antes de
receber a área, ele invadiu o
projeto para assegurar terra
para os três filhos e a mulher,
uma índia macuxi guianense
de 32 anos. "Invadi porque, se
fosse ao Incra, ia perder meu
tempo e me angustiar mais."
Segundo o Incra, a situação
do produtor está regularizada. Em seus 500 hectares no
projeto de reassentamento (o
equivalente a 700 campos de
futebol), há água, gado, galinhas, porcos e plantações de
cítricos. Com a indenização
de R$ 75 mil que recebeu da
Funai, comprou duas motos e
um motor de luz -ele reivindicava R$ 500 mil. "Como o
Luz Para Todos [programa federal] não botou energia, fiz
um "gato" [ligação irregular]."
Lima disse que vivia na reserva desde 1977, em 1.200
hectares onde criava gado e
plantava melancia. Afirmou
que começou a ser pressionado por índios depois que a Funai determinou a retirada, em
2005, mas que saiu espontaneamente. "Fiquei seis meses
sob pressão. Os índios queriam matar os bichos e cortar
a cerca. Resolvi sair para não
acontecer uma tragédia."
O Incra afirmou ter 50 projetos de assentamento destinados a pequenos produtores
em Roraima, em áreas que somam 1,5 milhão de hectares.
Para os arrozeiros, foram
identificadas três áreas.
Pequenos e médios agropecuaristas que tinham lotes de
até 500 hectares receberam
indenizações da Funai que somam R$ 6,7 milhões. Outros
R$ 5 milhões estão depositados em juízo para famílias que
ainda não saíram da terra, como arrozeiros.
(KÁTIA BRASIL)
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