|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
As reuniões do G8 já não fazem muito sentido
DO "FINANCIAL TIMES"
"Sua viagem é realmente
necessária?", perguntavam
os cartazes de uma campanha por
economia de energia, meio século
atrás. É uma pergunta que deveria
ser feita aos participantes das cúpulas do G8. A reunião em Evian
salientou, mais que nunca, a natureza redundante das extravagâncias de mídia que levam o nome
inócuo de cúpula do G8.
Poucos dos participantes pareciam demonstrar interesse real. O
presidente George W. Bush esteve
lá menos de 24 horas. Passou o
mesmo tempo no Air Force One.
O presidente Jacques Chirac
tentou ampliar a frequência, convidando representantes dos países menos desenvolvidos. Mas isso só serviu para enfatizar quão
secundário se tornou o G8.
Tony Blair parecia distraído e
desconectado depois de uma longa semana fora de casa. As declarações formais da cúpula foram
mais uma vez tão insípidas e anódinas quanto a valiosa água engarrafada nas nascentes de Evian.
Existe hoje algo gritantemente
anacrônico na própria idéia do
grupo dos países mais industrializados. Em termos econômicos,
nem o Canadá nem a Rússia merecem lugar no grupo. O próprio
termo "industrializado" parece
datado, um recuo à década de 70,
num mundo cada vez mais pós-industrial. O planeta enfrenta
problemas econômicos talvez tão
sérios quanto aqueles colocados
na primeira reunião, em 1975.
Mas ninguém está contando com
o G8 para oferecer as respostas
políticas necessárias.
Pior ainda, o G8 se tornou, à revelia, a principal vitrine em que os
ruidosos descontentes do mundo
podem expressar suas vagas frustrações. As campanhas cada vez
mais agressivas de manifestantes
anticapitalistas e o medo do terrorismo levaram as reuniões para
trás de um cordão de segurança
que é tão sufocante para as atividades dentro dele quanto impenetrável para as pessoas de fora.
Por que se dar a esse trabalho?
Os defensores da cúpula dirão
que, apesar de todos os defeitos,
ela ainda representa o único ponto fixo no calendário em que algumas das figuras políticas mais influentes do mundo podem se reunir. No frio clima diplomático
atual, talvez isso não seja ruim.
Pode parecer traumático demais, nestes tempos perturbados,
eliminar a cúpula. Mas, se for o
caso, talvez a reunião possa ser radicalmente reestruturada, restaurada à sua premissa básica. A
idéia original era a de uma reunião informal, um bate-papo em
que líderes, desejosos de compartilhar suas preocupações e manifestar idéias, poderiam se reunir
em relativo isolamento. Que seja
assim na próxima vez. Do contrário, sempre existe o telefone.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
Texto Anterior: Presidente testa capital político Próximo Texto: G8 tenta cicatrizar racha e condena terror Índice
|