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"OPERAÇÃO GATINHO"
Policiais de São Paulo não foram informados de ação planejada por Brasília para prender empresário
Delegados reagem à suspeita sobre PF de SP
DA REPORTAGEM LOCAL
A operação que prendeu o empresário Law Kin Chong, idealizada e realizada pela Polícia Federal
de Brasília, provocou reação de
um grupo de delegados baseados
na capital paulista. A Folha apurou que a ação foi executada sem
o conhecimento da PF de São
Paulo, mas a polícia nega.
Todo o trabalho de investigação
foi feito por um delegado federal
de Brasília, Protógenes Queiroz,
indicado para a tarefa pelo diretor-geral do órgão, Paulo Lacerda.
Chong e o despachante Pedro
Lindolfo Sarlo foram presos anteontem sob acusação de terem
tentado corromper, com oferta
que começou em US$ 2 milhões e
caiu para US$ 1,5 milhão, o presidente da CPI da Pirataria, o deputado federal Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP), que foi o próprio
autor da denúncia.
Segundo o presidente da Federação Nacional dos Delegados da
Polícia Federal, Armando Coelho
Neto, um grupo de 20 delegados
cogita entregar um pedido de
transferência coletiva da superintendência de São Paulo, em protesto contra o que consideram
"uma suspeição" lançada "pela
imprensa" e pelo deputado contra os policiais federais do Estado.
Coelho Neto disse que pretende
apresentar a idéia para votação
em assembléia dos delegados.
Antes, buscará novas adesões.
O grupo de 20 colegas -há cerca de 150 delegados federais no
Estado- estava reunido ontem
por outro motivo, mas a Operação Shogun acabou sendo o centro da discussão.
Durante a operação, os policiais
e integrantes da CPI não pronunciavam o nome de Chong. Para se
referir a ele, chamavam-no de
"Gatinho". Por isso, a investigação ganhou o nome informal de
"Operação Gatinho". O nome oficial foi "Shogun" -senhor da
guerra do Japão medieval.
"Suspeição"
"As declarações de [Luiz Antonio de] Medeiros [deputado presidente da CPI da Pirataria] estão
colocando todo o efetivo sob suspeição", disse Coelho.
O deputado federal disse ontem
que não acusa "ninguém especificamente", mas reafirmou que
considera a PF paulista "contaminada". Ontem, em Brasília, ele teve uma audiência com o ministro
da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na qual teria narrado que a
ação teve de ser feita por um grupo seleto de policiais sob comando do diretor-geral da PF.
Ontem o porta-voz da PF em
São Paulo, Wagner Castilho, negou que a superintendência desconhecesse a possível prisão de
Chong. Primeiro, disse aos jornalistas que o aviso tinha ocorrido
um dia antes. Depois, afirmou
que isso ocorrera dois dias antes.
Questionado sobre a contradição,
disse ter sido mal compreendido
na primeira declaração.
"Com certeza ninguém [de São
Paulo] sabia", reafirmou ontem o
deputado Medeiros. "Não existe
PF de São Paulo ou de Brasília. A
PF é uma só, é em São Paulo ou
em Brasília", defendeu Castilho.
O diretor do COT (Comando de
Operações Táticas) de Brasília,
Daniel Sampaio, em uma entrevista coletiva concedida sob os
olhares do porta-voz da PF paulista, apresentou versão diferente.
Disse que a superintendência da
PF em São Paulo foi avisada sobre
a operação há cerca de 30 dias.
Sampaio, no entanto, confirmou que nenhum policial federal
da cidade de São Paulo participou
da investigação. Ele confirmou
também que todo o material
apreendido pela Polícia Federal
em São Paulo será analisado e periciado em Brasília.
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