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Limite de 5% criará "partidos-zumbis", afirma pesquisador
Para o cientista político Jairo Nicolau, cláusula de barreira provocará migração de deputados para as grandes legendas
Partidos que não tiverem 5% dos votos na eleição para a Câmara perderão verbas do Fundo Partidário e tempo de propaganda na televisão
MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO
Em 2007 entrará plenamente em vigor a cláusula de barreira, que restringe o acesso das
legendas que não alcançarem
5% dos votos para a Câmara
dos Deputados às verbas do
Fundo Partidário e à propaganda no rádio e na TV -o que certamente provocará uma redução do número de legendas.
Em 2002, o PTB e o PL não
alcançaram o patamar mínimo
de 5% nas eleições para a Câmara. Para não perderem tempo na TV e recursos do Fundo
Partidário, o PTB (que recebeu
4,6% dos votos) incorporou o
PSD (que recebeu 0,5%) em 20
de janeiro de 2003, enquanto o
PL, que teve 4,3% dos votos, incorporou o PST (0,6%) e o PGT
(0,2%) em 1º de abril de 2003.
Na opinião do cientista político Jairo Marconi Nicolau, 42,
"os partidos que não ultrapassarem a barreira ficarão como
partidos-zumbis: sem poder
participar das comissões, indicar votações, sem direito a uma
série de benesses". No próximo
ano, as fusões de partidos devem aumentar. Professor do
Iuperj (Instituto Universitário
de Pesquisas do Rio de Janeiro)
e pesquisador visitante do Centro de Estudos Brasileiros da
Universidade de Oxford, Nicolau observa que, "seja quem for
o presidente, outra configuração partidária lhe espera".
FOLHA - Acreditava-se que a Lei dos
Partidos Políticos provocaria uma
forte redução do número de partidos, mas isso não ocorreu. Por que a
legislação tem sido incapaz de promover a concentração partidária?
JAIRO NICOLAU - A lei de 1995 tornou extremamente difícil organizar um partido no Brasil. De
lá para cá, poucos partidos foram criados. Os mais importantes ou foram criados antes dessa data ou apenas mudaram de
nome. Não devemos nos assustar com 29 partidos: hoje praticamente todas as democracias
têm um número muito grande
de partidos. Nas eleições locais
inglesas de maio, mais de 30
partidos concorreram. Na última eleição italiana, mais de 60
partidos disputaram.
FOLHA - No próximo ano, alguns
partidos relevantes podem não alcançar o limite de 5% dos votos na
eleição para a Câmara. Apesar disso,
as tentativas de fusão dessas legendas não vingaram. Por que a eventual perda de recursos e de exposição na mídia não foi suficiente para
estimular fusões de partidos? Ou o
sr. acha que essa concentração só
deve ocorrer após a eleição?
NICOLAU - A entrada da cláusula
de 5% provavelmente terá um
efeito devastador sobre a representação dos partidos na
Câmara em 2007. Os que partidos que não ultrapassarem a
barreira ficarão como partidos-zumbis: sem poder participar
das comissões, indicar votações, sem direito a uma série de
benesses. Provavelmente teremos uma migração dos deputados eleitos por essas legendas
para as quatro grandes (PT,
PSDB, PFL e PMDB). Se não
mudarem a legislação, devemos ter um forte realinhamento no sistema partidário brasileiro no ano que vem.
FOLHA - Cinco partidos (PT, PMDB,
PFL, PSDB e PP) recebem hoje R$ 90
milhões ao ano -três quartos do
Fundo Partidário. No próximo ano,
essa fatia aumentará ainda mais.
Apesar disso, a soma das bancadas
eleitas por esses partidos na Câmara
caiu de 74,5% (1998) para 67,3%
(2002). Dinheiro não ganha eleição?
NICOLAU - O Fundo Partidário
hoje é um recurso fundamental
para os partidos. Eles mantêm
a sedes, financiam pesquisas,
contratam funcionários, financiam viagens dos dirigentes. Os
grandes partidos recebem muito mais dinheiro, mas os pequenos tem um bem fundamental
na política moderna: acesso ao
rádio e a TV durante a campanha. Lembre o impacto da candidatura Éneas para presidente
em 1994 e para deputado federal em 2002, com seus poucos
segundos. A correlação entre
dinheiro e voto existe, mas não
é perfeita. Ainda bem que o sucesso eleitoral depende de fatores para além do dinheiro.
FOLHA - Quais seriam as vantagens
de reduzir o número de partidos? As
pequenas legendas não expressam
segmentos minoritários da opinião
pública, que seguirão existindo?
NICOLAU - A Constituição de
1988 tem vigido em um quadro
de extrema fragmentação partidária. Há muitos anos um
partido não tem mais de cem
deputados na Câmara. Todos
os presidentes governaram assim. O nosso presidencialismo
exige um permanente negociação parlamentar, e não creio
que essa característica mude a
partir do ano que vem. Há duas
hipóteses: a otimista acredita
que um número menor de partidos daria mais inteligibilidade ao sistema político e facilitaria as negociações no interior
do Congresso. A pessimista
acredita que a situação pode ficar mais instável, pois a tensão
e o conflito aumentariam no interior das grandes legendas. Para o bem ou para o mal, a cláusula de 5% será a primeira medida com efeitos fortes sobre o
sistema partidário organizado
no pós-1985. Seja quem for o
presidente, uma outra configuração partidária lhe espera.
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