São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Denúncia liga sanguessugas a parlamentares

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL EM BRASÍLIA

Na ação do Ministério Público Federal contra a máfia dos sanguessugas, foram denunciados assessores, ex-assessores e até um suplente (que exerceu o cargo em 2003 e 2004) de 21 deputados e de um senador, Ney Suassuna (PMDB-RN).
A denúncia, apresentada anteontem à Justiça Federal em Cuiabá (MT), inclui também nove ex-deputados e o ex-senador Carlos Bezerra (PMDB-MT), presidente estadual do partido e que dirigiu o INSS em 2004, no governo Lula.
No total foram denunciadas 81 pessoas por corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro, crime contra a lei de licitações e formação de quadrilha. Os detalhes da ação estão sob segredo de Justiça. A lista traz nomes de oito assessores que ainda trabalham na Câmara, segundo registros da Casa.
Zenon de Oliveira Moura é funcionário da deputada Sandra Rosado (PSB-RN). A parlamentar anunciou ontem a demissão do assessor. Marido dela, o ex-deputado Laire Rosado Filho e um ex-funcionário também foram denunciados.
Outro acusado, Newton Augusto Sabaraense, está no gabinete de Teté Bezerra (PMDB-MT), mulher de Bezerra.
Responsável pela denúncia, o procurador da República em Cuiabá Mário Lúcio Avelar disse que Sabaraense recebia propina da Planam, empresa que vendia ambulâncias superfaturadas a prefeituras. Ele diz que o ex-senador Bezerra também aparece lista de pagamentos.

O esquema
Segundo o procurador, havia pagamento de propina para elaboração de emendas ao Orçamento destinadas à compra da ambulâncias.
A Procuradoria-geral da República pediu ao Supremo Tribunal Federal abertura de inquérito contra 15 deputados, mas não divulgou o nome deles.
Na Operação Sanguessuga, realizada no dia 4 de maio, a Polícia Federal prendeu 54 pessoas, entre empresários, lobistas, 12 assessores de deputados e dois do senador Suassuna, demitidos logo após as prisões. O senador nega envolvimento.
Os deputados que tiveram assessores presos são: Nilton Capixaba (PTB-RO), Benedito Dias (PP-AP), Reginaldo Germano (PP-BA), Elaine Costa (PTB-RJ), Edna Macedo (PTB-SP), João Mendes (PSB-RJ), Maurício Rabelo (PFL-TO), Laura Carneiro (PFL-RJ), Vieira Reis (PRB-RJ) e Pedro Ribeiro (PMDB-CE). Capixaba teve quatro ex-assessores denunciados, segundo a PF.
Em sua denúncia, a Procuradoria incluiu o suplente do deputado Múcio Gurgel Sá (PSB-RN). Ele substituiu seu colega de partido Iberê Ferreira (RN) em 2003 e 2004, conforme informa a Câmara. A secretária de Ferreira informou que ele estava incomunicável no interior Rio Grande do Norte.
Os demais deputados com assessores ou ex-funcionários envolvidos são Lino Rossi (PP-MT), Airton Roveda (PPS-PR), João Caldas (PL-AL), Jorge Pinheiro (PL-DF), João Batista (PP-SP), Vanderlei Assis (PP-SP), Helenildo Ribeiro (PSDB-AL) e Eduardo Gomes (PSDB-TO). Não há acusação contra esses deputados.

Outro lado
Carlos Bezerra e sua mulher, Teté Bezerra, disseram por meio do advogado Elarmin Miranda que não possuem qualquer ligação com o suposto esquema de fraude.
"O advogado Eduardo Mahon, que defende Maria da Penha Lino [ex-assessora do Ministério da Saúde], disse que ela não apontou o nome da deputada e ou do senador. Ela listou mais de 250 parlamentares supostamente envolvidos", disse Miranda, referindo-se ao depoimento de Penha à PF.
Bezerra afirma ainda que o Congresso, por meio da Comissão Mista de Orçamento, aponta que ele não apresentou nenhuma emenda durante seu mandato (1995-2002) para compra de ambulâncias.
Funcionário de Teté, Newton Augusto Sabaraense disse que recebe documentação de prefeituras para liberação de verba nos ministérios, mas diz que não trabalhou com verbas para compra de ambulâncias.
A assessoria de Sandra Rosado informou que a parlamentar "nada teme" e quer a apuração da denúncia. A parlamentar vai demitir o funcionário acusado.
Armando Holanda, advogado de Laire Rosado e do suplente de Múcio Gurgel de Sá, disse ter documentação para contestar as acusações.
Procurado desde o início de maio pela Folha, Nilton Capixaba não se pronunciou até hoje sobre as acusações.


Texto Anterior: Suposto líder de esquema contra Itaipu fica preso
Próximo Texto: CPI deve propor a liberação dos bingos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.