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Decisão de Jobim coloca investigação em xeque
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A decisão do ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim de rejeitar a abertura
de inquérito criminal contra o
presidente do PT, deputado José
Dirceu (SP), colocou em xeque a
credibilidade da investigação de
promotores de Justiça que atuam
no caso e, por extensão, o trabalho do Ministério Público do Estado de São Paulo.
Os argumentos de Jobim para
arquivar o caso também expuseram a atuação do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que se apoiou integralmente na apuração dos promotores de
Santo André para pedir ao STF
que abrisse o inquérito contra
Dirceu. O ministro disse que as
informações que fundamentaram
o pedido de Brindeiro "não se
apresentam com a idoneidade necessária para se caracterizar como
fortes indícios". Essas informações foram repassadas a Brindeiro pelo procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Luiz
Antônio Marrey.
O aspecto mais polêmico é a
suspeita de que o autor da acusação e a testemunha secreta que
confirmaria as declarações dele
são a mesma pessoa. "O mais curioso de tudo é que tal testemunha, ao que tudo indica, é o mesmo João Francisco Daniel", disse
o ministro. Irmão do prefeito assassinado Celso Daniel, João
Francisco afirmou, em depoimento a promotores, que Dirceu
recebera R$ 1,2 milhão de propina
recolhida por autoridades da Prefeitura de Santo André.
Os depoimentos dele e da suposta testemunha anônima teriam teor idêntico e teriam sido
tomados no mesmo dia, horário e
local, perante os mesmos promotores. Por fim, as rubricas dos dois
seriam semelhantes. "É surpreendente", concluiu Jobim.
Consta que ambos teriam dito,
com as mesmas palavras, que Gilberto Carvalho havia confidenciado a cada um deles que, por diversas vezes, levara dinheiro pessoalmente a Dirceu e que entregara
R$ 1,2 milhão em uma das vezes.
Segundo João Francisco, Míriam Belchior, ex-mulher do prefeito assassinado, dissera que recursos recolhidos de empresas
eram desviados para o PT. Jobim
observou que nenhum dos dois
foi ouvido pelos promotores.
O advogado de Dirceu, Antônio
Carlos de Almeida Castro, disse
que o Ministério Público de São
Paulo tem a obrigação de esclarecer as falhas na apuração.
A Folha tentou ouvir Marrey,
mas ele não foi localizado ontem.
Em entrevista recente, tanto ele
quanto Brindeiro negaram a possibilidade de uso eleitoral da investigação contra Dirceu.
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