São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Decisão de Jobim coloca investigação em xeque

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim de rejeitar a abertura de inquérito criminal contra o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), colocou em xeque a credibilidade da investigação de promotores de Justiça que atuam no caso e, por extensão, o trabalho do Ministério Público do Estado de São Paulo.
Os argumentos de Jobim para arquivar o caso também expuseram a atuação do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que se apoiou integralmente na apuração dos promotores de Santo André para pedir ao STF que abrisse o inquérito contra Dirceu. O ministro disse que as informações que fundamentaram o pedido de Brindeiro "não se apresentam com a idoneidade necessária para se caracterizar como fortes indícios". Essas informações foram repassadas a Brindeiro pelo procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Luiz Antônio Marrey.
O aspecto mais polêmico é a suspeita de que o autor da acusação e a testemunha secreta que confirmaria as declarações dele são a mesma pessoa. "O mais curioso de tudo é que tal testemunha, ao que tudo indica, é o mesmo João Francisco Daniel", disse o ministro. Irmão do prefeito assassinado Celso Daniel, João Francisco afirmou, em depoimento a promotores, que Dirceu recebera R$ 1,2 milhão de propina recolhida por autoridades da Prefeitura de Santo André.
Os depoimentos dele e da suposta testemunha anônima teriam teor idêntico e teriam sido tomados no mesmo dia, horário e local, perante os mesmos promotores. Por fim, as rubricas dos dois seriam semelhantes. "É surpreendente", concluiu Jobim.
Consta que ambos teriam dito, com as mesmas palavras, que Gilberto Carvalho havia confidenciado a cada um deles que, por diversas vezes, levara dinheiro pessoalmente a Dirceu e que entregara R$ 1,2 milhão em uma das vezes.
Segundo João Francisco, Míriam Belchior, ex-mulher do prefeito assassinado, dissera que recursos recolhidos de empresas eram desviados para o PT. Jobim observou que nenhum dos dois foi ouvido pelos promotores.
O advogado de Dirceu, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que o Ministério Público de São Paulo tem a obrigação de esclarecer as falhas na apuração.
A Folha tentou ouvir Marrey, mas ele não foi localizado ontem. Em entrevista recente, tanto ele quanto Brindeiro negaram a possibilidade de uso eleitoral da investigação contra Dirceu.



Texto Anterior: Citados por João Francisco negam todas as acusações
Próximo Texto: Brindeiro foi desmoralizado, diz Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.