São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

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ELEIÇÕES 2004/ALIANÇAS

Declarações de Marta contrariaram Quércia, que acabou se aliando a Luiza Erundina na disputa pela Prefeitura de São Paulo

PT buscou apoio do PMDB até a última hora

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão do PMDB de apoiar a candidatura de Luiza Erundina (PSB) a prefeita de São Paulo aumenta mais a distância entre o PT e os peemedebistas. Representou também um duro golpe contra a campanha à reeleição da prefeita Marta Suplicy (PT).
Nesta semana, depois de meses de negociação infrutífera, o PMDB desistiu de esperar uma aliança paulistana com o PT.
O presidente estadual do PMDB, Orestes Quércia, chegou a lançar o deputado federal Michel Temer (SP) a prefeito da capital. Com desempenho fraco nas pesquisas, o próprio Temer propôs a aliança com Erundina.
Na última terça-feira, por volta das 22h30, teve uma conversa com Quércia: "Vamos apoiar a Erundina, mas acho que eu não deva ser o vice". E Quércia: "Por que não? É bom para você ficar em evidência. Mostra que não está fugindo e dá uma demonstração de humildade".
Os petistas ainda tentaram conseguir o apoio de Quércia até o último momento. Antes, na mesma terça-feira, por volta das 19h, ele recebeu no seu escritório o presidente do PT paulista, Paulo Frateschi, e o secretário de governo de Marta, Gilmar Tatto.
"Quércia, vim aqui pedir água", disse Tatto, preocupado com a não-aliança com o PMDB. Quércia, porém, já tinha conhecimento de que Marta havia declarado que ela não tinha confiança no PMDB.
No dia seguinte, Frateschi fez um último apelo. Disse que Marta não teria dito exatamente aquilo. "Ela falou isso mesmo! Vi e ouvi", respondeu Quércia. Em seguida, comunicou a aliança com Erundina (com Temer como vice), que seria anunciada logo depois.
A reação do dirigente petista foi de desolação: "Não é possível, Quércia... Vocês fazerem uma coisa dessas...".
O motivo do fracasso de uma aliança do PT com o PMDB em São Paulo foi um erro de cálculo entre os petistas, que acumularam equívocos no manejo com Quércia, ainda o mais poderoso peemedebista paulista.
Já em 2002, Quércia se sentiu traído. O PT se comprometeu a apoiar Quércia, além de Aloizio Mercadante, na disputa pelo Senado. A militância petista fez campanha para Wagner Gomes, do PC do B. Quércia acabou em terceiro e não foi eleito.
Quando Lula assumiu o Planalto, Quércia conseguiu colocar o ex-deputado federal Marcelo Barbieri, seu aliado, para trabalhar como assessor da Casa Civil. Mas ele logo foi expelido do cargo.
No início deste ano, o dirigente petista Sílvio Pereira dizia que o PMDB iria apoiar Marta. "Sem um candidato forte a prefeito, os vereadores peemedebistas não se reelegem."
O raciocínio era correto, mas o PT não contava que Quércia comandava o PMDB com mais poder que os cinco vereadores. Ao perceber a estratégia, ordenou que fosse retirado do cargo de líder do partido o vereador Milton Leite. Há um mês, fez uma intervenção no diretório municipal. Quércia nomeou-se presidente do PMDB paulistano. Trocou diretores e detém cerca de 80% da sigla.


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