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Nova manobra leva processo contra Renan à estaca zero
Presidente do conselho, Quintanilha devolve processo à Mesa sem avisar os colegas
Estratégia pode culminar em arquivamento do caso; despacho foi feito com base em pareceres do Senado que vêem "vícios" na tramitação
FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma manobra regimental
comandada por Renan Calheiros (PMDB-AL) e seus aliados
vai atrasar as investigações
contra o presidente do Senado
e poderá levar até ao arquivamento do processo contra ele
no Conselho de Ética.
Sem consultar os outros integrantes e respaldado pela consultoria legislativa e pela advocacia geral do Senado, o presidente do Conselho de Ética, senador Leomar Quintanilha
(PMDB-TO), devolveu ontem à
Mesa Diretora o processo contra Renan, apontando erros em
sua tramitação. O vice-presidente do Senado, Tião Viana
(PT-AC), convocou reunião da
Mesa para hoje às 10h.
O PSOL havia feito uma representação contra Renan no
Conselho de Ética por indícios
de quebra de decoro parlamentar. Renan é acusado de ter despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Gontijo
entregaria dinheiro em espécie
para a jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma
filha de três anos.
O despacho de Quintanilha,
que não compareceu ao Senado
ontem, afirma que a Mesa Diretora pode anular tudo o que foi
feito até agora: a Polícia Federal fez uma perícia nos documentos apresentados pela defesa de Renan e foram tomados
depoimentos de Gontijo e do
advogado de Mônica.
"Decido remeter a representação [contra Renan, feita pelo
PSOL] à consideração da Mesa
do Senado Federal para que,
reunida em sessão, delibere
quanto à admissibilidade desta
e para que proceda ao saneamento dos demais vícios, como
o referente à legitimidade para
solicitar de órgãos externos
[Polícia Federal] a apuração de
fatos e de responsabilidade, o
que pode levar à anulação de
todo o procedimento", afirma o
despacho do presidente.
Em nota, Quintanilha disse
que seu intuito foi "preservar a
imagem do Senado", corrigindo
vícios que poderiam anular o
processo mais adiante. Há uma
pressão de integrantes do conselho para afastar Quintanilha
do cargo devido a denúncias de
corrupção contra ele.
Em um ato extremo, a Mesa
Diretora pode arquivar o processo alegando falhas na representação feita pelo PSOL, que
deu origem ao caso. Uma delas
seria o fato de o partido não ter
pedido uma punição específica
contra Renan.
A Mesa também pode nomear um relator para analisar o
caso internamente e sugerir o
procedimento a ser adotado.
Esse parecer seria votado por
seus integrantes. Isso pode empurrar a eventual retomada do
processo contra Renan para depois do recesso parlamentar,
que começa no dia 15 de julho.
A estratégia de Renan de
atropelar os trabalhos do conselho aumentou a insatisfação
contra ele na Casa. Senadores
avaliam que essa atitude prejudica a imagem da instituição.
Depois do DEM e do PDT, o
PSDB deve pedir hoje o afastamento de Renan da presidência. "Chegamos a um ponto que
não dá mais. Está ruim para a
instituição", disse o líder tucano, Arthur Virgílio (AM).
Erros
O parecer da consultoria legislativa faz restrições ao
"acréscimos de novos fatos" à
representação do PSOL, criticando a investigação de supostas notas frias apresentadas por
Renan para justificar rendimentos agropecuários.
Entre os supostos erros
apontados pela consultoria legislativa e pela advocacia geral
do Senado está o fato de Renan
ter despachado a representação do PSOL para o conselho
sem reunir a Mesa Diretora.
Outra falha é que caberia à
Mesa, e não ao conselho, pedir
uma perícia nos documentos
apresentados pela defesa do
presidente do Senado. Há ainda
um entendimento de que a PF
não poderia fazer esse trabalho,
como fez, sem autorização do
Supremo Tribunal Federal.
Dizem ainda que houve inversão na tramitação quando o
conselho reabriu a fase de investigações após a leitura do
parecer do então relator Epitácio Cafeteira (PTB-MA).
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