São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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Viúva de cabo quer indenização da União

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Passados mais de dois anos do assassinato em Angola do cabo Aladarque Cândido dos Santos, da Marinha, o governo brasileiro não indenizou a viúva, Adriana Reis da Silva dos Santos, 24, e as filhas do casal, Amanda, 4, e Andressa, 3.
Sem dinheiro, a família do cabo, que era enfermeiro do Corpo de Fuzileiros Navais e servia na Força de Paz da ONU em Angola, decidiu recorrer à Justiça contra a União.
A juíza Maria do Carmo Ribeiro, da 23ª Vara Federal do Rio, deverá anunciar no próximo mês a sentença da ação movida contra a União pela família do militar.
Santos tinha 28 anos quando foi morto a tiros, em 19 de maio de 97. Segundo informou o governo brasileiro à época, bandoleiros da província angolana de Huambo atacaram o comboio em que viajava.
Desde o crime, a viúva tenta ser indenizada. Ela também reivindica a liberação do dinheiro pago pela ONU ao cabo durante o período de serviço na Força de Paz.
O dinheiro -cerca de US$ 6.000, ou R$ 10.800- está retido na agência do Banco do Brasil em Nova York, segundo o advogado da família, Elias Tinoco.
O advogado disse que a família deveria ter sido ressarcida, de acordo com o contrato assinado entre Brasil e ONU sobre a participação de militares na Força de Paz.
"O contrato fala em ressarcimento no caso de morte ou invalidez. Nada foi pago à família. Também estamos pedindo indenizações por danos morais e materiais, mas não estipulamos valores", afirmou.
A viúva tem recebido apenas pensão mensal de R$ 1.050, valor referente ao salário de sargento. Por lei, a família recebe como pensão o salário pago ao militar de patente imediatamente superior.
Como Santos tinha sido aprovado para fazer curso que o tornaria sargento, o que não ocorreu por causa da morte, a família quer passar a receber pensão de tenente (patente seguinte).
A viúva está desempregada. Quando Santos morreu, trabalhava como vendedora, ganhando R$ 200 por mês. Ela abandonou o serviço para cuidar das filhas e voltar a estudar. Adriana está terminando o segundo grau.
A Marinha informou em nota oficial que a viúva não tem "direito a qualquer tipo de seguro ou indenização", pois a vítima era "militar falecido em operações militares".
A nota afirma ainda que "a possibilidade de morte é parte inerente à profissão militar".


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