São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997.



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HISTÓRIA
Mesmo tendo sido um crime passional, morte de político paraibano serviu de estopim para a Revolução de 30
Após 67 anos, João Pessoa volta à Paraíba

XICO SÁ
da Reportagem Local

Depois de 67 anos, os restos mortais de João Pessoa, cujo cadáver serviu de estopim para a chamada Revolução de 1930, voltaram à Paraíba, onde foram depositados, no último final de semana, em um mausoléu construído pelo governo do Estado.
Presidente da Paraíba, posto equivalente hoje ao de governador, João Pessoa foi assassinado em Recife, em 1930, pelo advogado João Dantas. O seu corpo seguiu na época de navio, para ser sepultado no Rio.
No trajeto, no entanto, o navio teve que parar em vários portos, para que o político morto fosse homenageado e visto pelo povo.
João Pessoa era candidato, naquele ano em que morreu, a vice-presidente na chapa encabeçada por Getúlio Vargas (1883-1954). A comoção derivada das homenagens ao seu corpo acabaram servindo como um dos fatores mais importantes na mobilização política que resultaria na queda da "República Velha".
O movimento, liderado por Vargas, derrubou do poder o presidente Washington Luís, que naquele ano de campanha eleitoral patrocinava a chapa da situação formada por Julio Prestes e Vital Soares.
O assassinato de João Pessoa, ocorrido na então glamourosa Confeitaria e Café Glória, no centro de Recife, foi utilizado pelos getulistas como a principal peça de propaganda para derrubar Washington Luís.
O crime foi definido como um atentado político e imediatamente atribuído aos aliados do presidente da República. O objetivo foi alcançado pela Aliança Liberal, conjunto das forças que marchavam com Getúlio Vargas.
O motivo mais provável do crime, no entanto, segundo vários historiadores e reportagens publicadas na época, foi passional. Essa versão também é narrada pelo filme "Parayba Mulher Macho", dirigido por Tizuka Yamazaki.
Dias antes do crime, o jornal aliado na Paraíba a João Pessoa, "A União", havia publicado a correspondência íntima entre Dantas, o advogado que matou o político, e a sua namorada Anayde Beiriz (leia texto abaixo).
Embora fossem adversários -a família de Dantas acusava Pessoa de perseguir o clã na Paraíba- o advogado não teria motivos políticos para assassinar o então presidente do Estado.
Para o atual governador do Estado, José Targino Maranhão, que promoveu uma cerimônia em João Pessoa para receber os restos mortais do político paraibano, o Estado recuperou parte importante da sua história.



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