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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A LISTA DE VALÉRIO
O ex-secretário-executivo da Integração Nacional Márcio Lacerda disse que dinheiro era para cobrir despesas de campanha de Lula
Saque de R$ 457 mil derruba assessor de Ciro
MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Exonerado ontem do cargo
de secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, Márcio Lacerda disse que o
pagamento atribuído a ele pelo
publicitário Marcos Valério de
Souza quitou dívida da campanha do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva ao Planalto.
Amigo do ministro Ciro Gomes, Lacerda pediu para sair
do segundo cargo mais importante da pasta depois que seu
nome apareceu como beneficiário de R$ 457 mil do caixa
dois do PT. De acordo com Valério, o dinheiro teria sido pago
em duas parcelas, em 2003.
Em carta a Ciro e em entrevista à Folha, Lacerda afirmou
que o dinheiro foi destinado à
agência New Trade por serviços prestados no
segundo turno
da eleição presidencial de 2002.
Lacerda afirma
que pediu ajuda
ao ex-tesoureiro
petista Delúbio
Soares para o pagamento à agência que trabalhara para Ciro no
primeiro turno.
"A campanha
do Ciro terminou
sem dívida e, no
segundo turno,
com o apoio à
candidatura do presidente Lula, houve uma junção das equipes na campanha do PT", disse.
"O pessoal da agência New
Trade, responsável pelo seu [de
Ciro] marketing, integrou-se a
convite de Duda Mendonça
[marqueteiro petista] à campanha do PT e de aliados nos Estados", escreveu ao ministro.
Em nota distribuída ontem, o
ministério informa que Ciro
aceitou o pedido de demissão
de seu principal auxiliar, "presume a inocência" de Lacerda e
ajudará a esclarecer o caso.
"Para assegurar a normalidade da missão institucional do
Ministério da Integração Nacional e compreendendo que
estaria em marcha uma tentativa de envolver esta pasta e seu
titular no ambiente de escândalo por que passa o país, o sr.
Márcio Lacerda solicitou seu
afastamento do cargo."
A reação do ministério busca
isolar Ciro da crise e preservar
seu principal projeto no governo, a transposição do rio São
Francisco, obra polêmica de R$
4,5 milhões. No momento, o
ministério escolhe as empreiteiras que cuidarão da construção dos mais de 700 quilômetros de canais de concreto que
levarão parte das águas do São
Francisco a áreas secas dos Estados do Ceará, Pernambuco,
Paraíba e Rio Grande do Norte.
O nome de Márcio Lacerda
não é novo nas investigações
do chamado "mensalão". No
mês passado, apareceu em registros da agenda da ex-secretária de Valério Fernanda Karina Somaggio.
Na ocasião, o então secretário-executivo da
Integração Nacional confirmou três encontros com o publicitário: "Ele estava interessado
em publicidade
(da transposição
do São Francisco), e eu disse
que o ministério
não tinha verba.
O assunto morreu", afirmou
Lacerda, à época.
Ontem, Lacerda insistiu que os
encontros ocorreram em dezembro de 2003, sem conexão
com os pagamentos registrados por Valério na contabilidade do caixa dois do PT.
A exoneração foi acertada logo depois de a Folha ter noticiado a lista de pagamentos de
R$ 55,8 milhões do caixa dois
do PT assinada por Valério. O
publicitário registra um primeiro pagamento a Lacerda,
no valor de R$ 300 mil, em 16
de abril de 2003. O segundo pagamento, de R$ 157 mil, teria
sido feito dois meses depois,
em 17 de junho.
Assim como Valério, Márcio
Lacerda é empresário em Minas Gerais, dono de uma empresa na área de telecomunicações, a Construtel.
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