São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A LISTA DE VALÉRIO

O ex-secretário-executivo da Integração Nacional Márcio Lacerda disse que dinheiro era para cobrir despesas de campanha de Lula

Saque de R$ 457 mil derruba assessor de Ciro

MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Exonerado ontem do cargo de secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, Márcio Lacerda disse que o pagamento atribuído a ele pelo publicitário Marcos Valério de Souza quitou dívida da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto.
Amigo do ministro Ciro Gomes, Lacerda pediu para sair do segundo cargo mais importante da pasta depois que seu nome apareceu como beneficiário de R$ 457 mil do caixa dois do PT. De acordo com Valério, o dinheiro teria sido pago em duas parcelas, em 2003.
Em carta a Ciro e em entrevista à Folha, Lacerda afirmou que o dinheiro foi destinado à agência New Trade por serviços prestados no segundo turno da eleição presidencial de 2002. Lacerda afirma que pediu ajuda ao ex-tesoureiro petista Delúbio Soares para o pagamento à agência que trabalhara para Ciro no primeiro turno.
"A campanha do Ciro terminou sem dívida e, no segundo turno, com o apoio à candidatura do presidente Lula, houve uma junção das equipes na campanha do PT", disse. "O pessoal da agência New Trade, responsável pelo seu [de Ciro] marketing, integrou-se a convite de Duda Mendonça [marqueteiro petista] à campanha do PT e de aliados nos Estados", escreveu ao ministro.
Em nota distribuída ontem, o ministério informa que Ciro aceitou o pedido de demissão de seu principal auxiliar, "presume a inocência" de Lacerda e ajudará a esclarecer o caso.
"Para assegurar a normalidade da missão institucional do Ministério da Integração Nacional e compreendendo que estaria em marcha uma tentativa de envolver esta pasta e seu titular no ambiente de escândalo por que passa o país, o sr. Márcio Lacerda solicitou seu afastamento do cargo."
A reação do ministério busca isolar Ciro da crise e preservar seu principal projeto no governo, a transposição do rio São Francisco, obra polêmica de R$ 4,5 milhões. No momento, o ministério escolhe as empreiteiras que cuidarão da construção dos mais de 700 quilômetros de canais de concreto que levarão parte das águas do São Francisco a áreas secas dos Estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O nome de Márcio Lacerda não é novo nas investigações do chamado "mensalão". No mês passado, apareceu em registros da agenda da ex-secretária de Valério Fernanda Karina Somaggio.
Na ocasião, o então secretário-executivo da Integração Nacional confirmou três encontros com o publicitário: "Ele estava interessado em publicidade (da transposição do São Francisco), e eu disse que o ministério não tinha verba. O assunto morreu", afirmou Lacerda, à época.
Ontem, Lacerda insistiu que os encontros ocorreram em dezembro de 2003, sem conexão com os pagamentos registrados por Valério na contabilidade do caixa dois do PT.
A exoneração foi acertada logo depois de a Folha ter noticiado a lista de pagamentos de R$ 55,8 milhões do caixa dois do PT assinada por Valério. O publicitário registra um primeiro pagamento a Lacerda, no valor de R$ 300 mil, em 16 de abril de 2003. O segundo pagamento, de R$ 157 mil, teria sido feito dois meses depois, em 17 de junho.
Assim como Valério, Márcio Lacerda é empresário em Minas Gerais, dono de uma empresa na área de telecomunicações, a Construtel.


Texto Anterior: Artigo: A solidão de um caipira
Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/A lista de Valério: Agência de Duda sacou em ano não-eleitoral
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.