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São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2003

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REGIME MILITAR

Nota do grupo critica o governo Lula por recorrer de sentença

Tortura Nunca Mais condena decisão sobre caso Araguaia

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Uma nota divulgada pelo grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro ataca e qualifica como "retrocesso" a decisão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de recorrer da sentença que determinou a abertura dos arquivos sobre a guerrilha do Araguaia. A quebra do sigilo das informações da guerrilha (movimento armado organizado pelo PC do B na região do Bico do Papagaio -entre Tocantins, Pará e Maranhão- a partir de 1966 e extinto pelas Forças Armadas de 1972 a 1974) foi determinada pela Justiça Federal.
Na semana passada, a AGU (Advocacia Geral da União) recorreu parcialmente da decisão, emitida em junho pela juíza Solange Salgado, da 1ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, e publicada em julho no "Diário da Justiça". A decisão faz parte de um processo iniciado em 1982 por 22 parentes de vítimas pedindo a localização dos corpos.
"Ao analisar a ação do ponto de vista estritamente técnico, decorridos 21 anos de tramitação na Justiça, o governo federal usa um artifício para tentar encobrir o que de fato ocorre: a total falta de vontade política de esclarecer, de fato, os crimes de lesa-humanidade que foram cometidos pelas Forças Armadas na guerrilha do Araguaia", diz a nota.
O Tortura Nunca Mais foi fundado em 1985 por ex-presos políticos e parentes de mortos e desaparecidos no regime militar (1964-1985). É hoje um dos mais importantes grupos do movimento de direitos humanos do país. A nota cita a revogação de leis da anistia em outros países latino-americanos (como a Argentina) e afirma que o Brasil está indo "na contramão da história".
"O governo federal, além de perpetuar o sofrimento dos familiares e o desconhecimento da sociedade, mais uma vez perdeu a oportunidade de resolver definitivamente a questão dos desaparecidos políticos no Araguaia, contribuindo para fortalecer a impunidade em nosso país", diz a nota.
O recurso da AGU foi parcial. Reconhece o direito dos parentes de localizar os restos mortais e sepultá-los, bem como a obrigação da União de esforçar-se para encontrar os corpos.
Questiona, porém, a quebra do sigilo das informações e o fornecimento de dados sobre operações militares relacionadas à guerrilha. O documento alega que a juíza concedeu mais do que o que foi pedido, pois os parentes só solicitaram o paradeiro dos corpos. "Como iremos localizar os corpos se não forem fornecidas as informações? Foi uma decepção muito grande para os familiares. O governo Lula está descumprindo um compromisso com os direitos humanos", disse a presidente do grupo Tortura Nunca Mais-RJ, Elizabeth Silveira e Silva.
"É preocupante a força que os militares têm no cenário nacional. Vemos a preocupação em não constrangê-los. É incrível que, 30 anos depois, essa história ainda não seja contada. Não vai ser contada nunca?", questiona.


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