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REGIME MILITAR
Nota do grupo critica o governo Lula por recorrer de sentença
Tortura Nunca Mais condena decisão sobre caso Araguaia
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Uma nota divulgada pelo grupo
Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro ataca e qualifica como "retrocesso" a decisão do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de
recorrer da sentença que determinou a abertura dos arquivos sobre
a guerrilha do Araguaia. A quebra
do sigilo das informações da
guerrilha (movimento armado
organizado pelo PC do B na região do Bico do Papagaio -entre
Tocantins, Pará e Maranhão- a
partir de 1966 e extinto pelas Forças Armadas de 1972 a 1974) foi
determinada pela Justiça Federal.
Na semana passada, a AGU
(Advocacia Geral da União) recorreu parcialmente da decisão,
emitida em junho pela juíza Solange Salgado, da 1ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, e
publicada em julho no "Diário da
Justiça". A decisão faz parte de
um processo iniciado em 1982 por
22 parentes de vítimas pedindo a
localização dos corpos.
"Ao analisar a ação do ponto de
vista estritamente técnico, decorridos 21 anos de tramitação na
Justiça, o governo federal usa um
artifício para tentar encobrir o
que de fato ocorre: a total falta de
vontade política de esclarecer, de
fato, os crimes de lesa-humanidade que foram cometidos pelas
Forças Armadas na guerrilha do
Araguaia", diz a nota.
O Tortura Nunca Mais foi fundado em 1985 por ex-presos políticos e parentes de mortos e desaparecidos no regime militar
(1964-1985). É hoje um dos mais
importantes grupos do movimento de direitos humanos do
país. A nota cita a revogação de
leis da anistia em outros países latino-americanos (como a Argentina) e afirma que o Brasil está indo "na contramão da história".
"O governo federal, além de
perpetuar o sofrimento dos familiares e o desconhecimento da sociedade, mais uma vez perdeu a
oportunidade de resolver definitivamente a questão dos desaparecidos políticos no Araguaia, contribuindo para fortalecer a impunidade em nosso país", diz a nota.
O recurso da AGU foi parcial.
Reconhece o direito dos parentes
de localizar os restos mortais e sepultá-los, bem como a obrigação
da União de esforçar-se para encontrar os corpos.
Questiona, porém, a quebra do
sigilo das informações e o fornecimento de dados sobre operações
militares relacionadas à guerrilha.
O documento alega que a juíza
concedeu mais do que o que foi
pedido, pois os parentes só solicitaram o paradeiro dos corpos.
"Como iremos localizar os corpos
se não forem fornecidas as informações? Foi uma decepção muito
grande para os familiares. O governo Lula está descumprindo
um compromisso com os direitos
humanos", disse a presidente do
grupo Tortura Nunca Mais-RJ,
Elizabeth Silveira e Silva.
"É preocupante a força que os
militares têm no cenário nacional.
Vemos a preocupação em não
constrangê-los. É incrível que, 30
anos depois, essa história ainda
não seja contada. Não vai ser contada nunca?", questiona.
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