São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REMESSAS SUSPEITAS

Documento, enviado à Procuradoria, acusa ex-prefeito de obstruir apuração; Maluf vê "cortina de fumaça"

PF conclui inquérito e pede prisão de Maluf

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

A Polícia Federal pediu a prisão preventiva do ex-prefeito Paulo Maluf (PP) e do filho dele Flávio Maluf, que já haviam sido denunciados (acusados formalmente à Justiça) por remessa ilegal de dólares para o exterior. O pedido se estende ainda ao sucessor de Maluf na Prefeitura de São Paulo, Celso Pitta (1997-2000).
O pedido foi feito pelo delegado da PF Protógenes Queiroz, que concluiu sua investigação e encaminhou o inquérito policial ao Ministério Público Federal, para que este apresente à Justiça uma nova denúncia contra os citados.
A juíza Sílvia Maria Rocha, da 2ª Vara Criminal Federal, irá se manifestar sobre o pedido de prisão preventiva só após receber formalmente a denúncia da Procuradoria, ainda sem data prevista.
Durante a investigação, a PF interceptou ligações telefônicas de Maluf e de seu filho Flávio. Com base nelas, disse que "a intimidação pelo poder e força continua", e que Maluf e seu filho estavam fazendo "ameaças e ofertas generosas em troca de falsos depoimentos ou ocultação de provas".
No relatório em que pediu a prisão de Maluf, a PF transcreveu conversas de Flávio com o doleiro Vivaldo Alves, conhecido como Birigüi, que ocorreram nos dias 14 e 21 de junho deste ano. Os dois marcam um encontro na rua Oscar Freire. Segundo o relatório, esse encontro foi filmado pela PF.
Depois da reunião, foi interceptada uma conversa de Flávio com o pai. "Acho que a chance é um sessenta/quarenta", diz Flávio. Ele diz que uma conversa anterior de um emissário de Maluf com o doleiro foi "mal conduzida".
"De qualquer maneira, ele vai proteger quem nós queremos, é isso?", pergunta Maluf, segundo a transcrição da PF. "Não sei. Acho que vai", responde Flávio. Eles conversam ainda sobre a possibilidade de "um velhinho", amigo do doleiro, ajudar a avisar "para o cara não falar nada". "Na minha opinião, nós temos que dar um conforto, entendeu?", diz Flávio.
Em outro diálogo transcrito pela PF, Maluf conversa com um amigo, que pergunta: "Você gostou da pessoa que eu lhe botei ontem, né?". O ex-prefeito responde: "Gostei, mas ela tem influência?". "Muita", afirma o amigo. Em outro trecho, Maluf pergunta: "Você consultou, por acaso, seu amigo lá do Planalto Central?". O interlocutor diz: "Todo mundo".
Há ainda uma conversa entre Maluf e um de seus advogados. O assunto é a possibilidade de Birigüi incluir "o publicitário" no depoimento. Se isso ocorrer, dizem, "o chefão não deixaria o processo seguir adiante".
Em 18 de agosto, a Folha publicou reportagem sobre o depoimento de Birigüi ao Ministério Público e à PF. O doleiro disse que, em 1998, por ordem de Flávio, transferiu US$ 5 milhões para o publicitário Duda Mendonça numa conta no Citibank de Nova York. À época, o publicitário era o responsável pela campanha de Maluf ao governo de São Paulo.
Zilmar Silveira, sócia de Duda, diz que as afirmações são falsas e que Duda jamais recebeu recursos de Maluf no exterior.

Documentos
A Procuradoria e a PF reuniram também cópias de extratos de contas no exterior atribuídas a Maluf, aos familiares dele e a Pitta.
Somente na Suíça, o Ministério Público acredita que os Maluf tenham movimentado aproximadamente US$ 446 milhões. Nada foi declarado à Receita Federal. Há registros ainda de contas bancárias da família Maluf na França, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na ilha de Jersey (canal da Mancha) e em Luxemburgo.
O valor foi cobrado pela Promotoria de Justiça da Cidadania, que ofereceu uma ação cível contra a família do ex-prefeito.
Por conta das remessas para o exterior, duas ações criminais foram abertas contra Maluf. A primeira, em que é acusado de evasão de divisas, foi arquivada por prescrição (perda do prazo). A segunda, em que é acusado de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, tramita na Justiça.
Nesta segunda, são réus também a mulher de Maluf, Sylvia, os filhos Flávio e Lígia, uma nora e um cunhado.
O Ministério Público acusa Maluf de desviar dinheiro de obras públicas durante a gestão dele na Prefeitura de São Paulo, entre 1993 e 1996, e na de seu sucessor. As principais obras apontadas como superfaturadas são a avenida Água Espraiada (hoje Jornalista Roberto Marinho) e o túnel Ayrton Senna.


Texto Anterior: Hora dos resultados: Ministro da Justiça entrega a Lula balanço das ações da PF na crise
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.