|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REMESSAS SUSPEITAS
Documento, enviado à Procuradoria, acusa ex-prefeito de obstruir apuração; Maluf vê "cortina de fumaça"
PF conclui inquérito e pede prisão de Maluf
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
A Polícia Federal pediu a prisão
preventiva do ex-prefeito Paulo
Maluf (PP) e do filho dele Flávio
Maluf, que já haviam sido denunciados (acusados formalmente à
Justiça) por remessa ilegal de dólares para o exterior. O pedido se
estende ainda ao sucessor de Maluf na Prefeitura de São Paulo,
Celso Pitta (1997-2000).
O pedido foi feito pelo delegado
da PF Protógenes Queiroz, que
concluiu sua investigação e encaminhou o inquérito policial ao
Ministério Público Federal, para
que este apresente à Justiça uma
nova denúncia contra os citados.
A juíza Sílvia Maria Rocha, da 2ª
Vara Criminal Federal, irá se manifestar sobre o pedido de prisão
preventiva só após receber formalmente a denúncia da Procuradoria, ainda sem data prevista.
Durante a investigação, a PF interceptou ligações telefônicas de
Maluf e de seu filho Flávio. Com
base nelas, disse que "a intimidação pelo poder e força continua",
e que Maluf e seu filho estavam fazendo "ameaças e ofertas generosas em troca de falsos depoimentos ou ocultação de provas".
No relatório em que pediu a prisão de Maluf, a PF transcreveu
conversas de Flávio com o doleiro
Vivaldo Alves, conhecido como
Birigüi, que ocorreram nos dias 14
e 21 de junho deste ano. Os dois
marcam um encontro na rua Oscar Freire. Segundo o relatório, esse encontro foi filmado pela PF.
Depois da reunião, foi interceptada uma conversa de Flávio com
o pai. "Acho que a chance é um
sessenta/quarenta", diz Flávio. Ele
diz que uma conversa anterior de
um emissário de Maluf com o doleiro foi "mal conduzida".
"De qualquer maneira, ele vai
proteger quem nós queremos, é
isso?", pergunta Maluf, segundo a
transcrição da PF. "Não sei. Acho
que vai", responde Flávio. Eles
conversam ainda sobre a possibilidade de "um velhinho", amigo
do doleiro, ajudar a avisar "para o
cara não falar nada". "Na minha
opinião, nós temos que dar um
conforto, entendeu?", diz Flávio.
Em outro diálogo transcrito pela PF, Maluf conversa com um
amigo, que pergunta: "Você gostou da pessoa que eu lhe botei ontem, né?". O ex-prefeito responde:
"Gostei, mas ela tem influência?".
"Muita", afirma o amigo. Em outro trecho, Maluf pergunta: "Você
consultou, por acaso, seu amigo lá
do Planalto Central?". O interlocutor diz: "Todo mundo".
Há ainda uma conversa entre
Maluf e um de seus advogados. O
assunto é a possibilidade de Birigüi incluir "o publicitário" no depoimento. Se isso ocorrer, dizem,
"o chefão não deixaria o processo
seguir adiante".
Em 18 de agosto, a Folha publicou reportagem sobre o depoimento de Birigüi ao Ministério
Público e à PF. O doleiro disse
que, em 1998, por ordem de Flávio, transferiu US$ 5 milhões para
o publicitário Duda Mendonça
numa conta no Citibank de Nova
York. À época, o publicitário era o
responsável pela campanha de
Maluf ao governo de São Paulo.
Zilmar Silveira, sócia de Duda,
diz que as afirmações são falsas e
que Duda jamais recebeu recursos de Maluf no exterior.
Documentos
A Procuradoria e a PF reuniram
também cópias de extratos de
contas no exterior atribuídas a
Maluf, aos familiares dele e a Pitta.
Somente na Suíça, o Ministério
Público acredita que os Maluf tenham movimentado aproximadamente US$ 446 milhões. Nada
foi declarado à Receita Federal.
Há registros ainda de contas bancárias da família Maluf na França,
na Inglaterra, nos Estados Unidos, na ilha de Jersey (canal da
Mancha) e em Luxemburgo.
O valor foi cobrado pela Promotoria de Justiça da Cidadania, que
ofereceu uma ação cível contra a
família do ex-prefeito.
Por conta das remessas para o
exterior, duas ações criminais foram abertas contra Maluf. A primeira, em que é acusado de evasão de divisas, foi arquivada por
prescrição (perda do prazo). A segunda, em que é acusado de formação de quadrilha e lavagem de
dinheiro, tramita na Justiça.
Nesta segunda, são réus também a mulher de Maluf, Sylvia, os
filhos Flávio e Lígia, uma nora e
um cunhado.
O Ministério Público acusa Maluf de desviar dinheiro de obras
públicas durante a gestão dele na
Prefeitura de São Paulo, entre
1993 e 1996, e na de seu sucessor.
As principais obras apontadas como superfaturadas são a avenida
Água Espraiada (hoje Jornalista
Roberto Marinho) e o túnel Ayrton Senna.
Texto Anterior: Hora dos resultados: Ministro da Justiça entrega a Lula balanço das ações da PF na crise Próximo Texto: Frase Índice
|