São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

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REGIME MILITAR

Morto em 1971, Flávio Molina foi enterrado com nome falso

Laudo confirma que ossada de Perus é de preso político

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

A luta de familiares de pelo menos 160 militantes políticos que desapareceram durante o regime militar (1964-85) ganhou ontem nova esperança. Foi confirmado que uma das ossadas encontradas em 1990 na vala do cemitério de Perus (zona norte de São Paulo) é de Flávio Carvalho Molina, morto em 1971, aos 24 anos, em uma sala do extinto DOI-Codi paulista.
A ossada de Molina é a terceira a ser identificada entre as 1.049 que foram encontradas. Dessas, seis eram de desaparecidos políticos.
Segundo o irmão de Molina, o engenheiro Gilberto Carvalho, 62, desde que a ossada foi encontrada a família e a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos encaminharam o material para análise em oito laboratórios, inclusive do exterior. Mas nenhum deles conseguiu um resultado positivo.
O laudo foi elaborado em apenas 20 dias pelo laboratório Genomic, que foi contratado pela comissão com verba da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, do governo federal.
Segundo a técnica do laboratório Delnice Ritsuko Sumita, o resultado é conclusivo, com margem de acerto "superior a 99,99%".

Críticas
Os procuradores da República Marlon Alberto Weichert e Eugênia Fávero criticaram a "falta de vontade política" do Estado e da União em revelar o que realmente aconteceu com os desaparecidos políticos.
Weichert disse que o Ministério Público Federal começou a atuar no caso em 1999, após ser procurado pela comissão. Desde então, segundo ele, as investigações encontraram "resistência" por parte das autoridades.
"Na época, vimos que os trabalhos, até então sob responsabilidade dos peritos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), estavam abandonados", disse o procurador.
Fávero criticou a Secretaria da Segurança Pública pela falta de agilidade nas investigações. Segundo ela, durante um ano a Procuradoria faz sugestões que agilizem as investigações, mas nenhuma proposta é aceita.
"O caso, na esfera policial, é investigado por um delegado da Delegacia de Pessoas Desaparecidas (DHPP). Durante as investigações, o posto foi ocupado por vários delegados. Cada um que entrava, começava do zero. Passaram-se 15 anos e muito pouco foi feito. As conquistas até agora se devem ao empenho dos familiares e da comissão", afirmou.
A Secretaria de Segurança Pública não respondeu às críticas até a conclusão desta edição.

História
Molina era militante do Molipo (Movimento de Libertação Popular) e lutava contra a repressão durante o regime militar. Um dos militantes do grupo era o ex-ministro José Dirceu (PT-SP).
Capturado pela polícia e levado ao DOI-Codi, Molina morreu durante sessões de tortura, segundo a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.
Oficialmente, o governo informou à família que ele havia sido assassinado.
Em 1979, a família, até então sem notícias, descobriu que Molina havia sido enterrado, identificado como Álvaro Lopes Peralta. Só em 1990, a família conseguiu apoio técnico e político para que fossem realizadas escavações em uma das valas do cemitério de Perus, onde estava a ossada.


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