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REGIME MILITAR
Morto em 1971, Flávio Molina foi enterrado com nome falso
Laudo confirma que ossada de Perus é de preso político
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
A luta de familiares de pelo menos 160 militantes políticos que
desapareceram durante o regime
militar (1964-85) ganhou ontem
nova esperança. Foi confirmado
que uma das ossadas encontradas
em 1990 na vala do cemitério de
Perus (zona norte de São Paulo) é
de Flávio Carvalho Molina, morto
em 1971, aos 24 anos, em uma sala
do extinto DOI-Codi paulista.
A ossada de Molina é a terceira a
ser identificada entre as 1.049 que
foram encontradas. Dessas, seis
eram de desaparecidos políticos.
Segundo o irmão de Molina, o
engenheiro Gilberto Carvalho, 62,
desde que a ossada foi encontrada
a família e a Comissão de Mortos
e Desaparecidos Políticos encaminharam o material para análise
em oito laboratórios, inclusive do
exterior. Mas nenhum deles conseguiu um resultado positivo.
O laudo foi elaborado em apenas 20 dias pelo laboratório Genomic, que foi contratado pela comissão com verba da Secretaria
Especial dos Direitos Humanos,
do governo federal.
Segundo a técnica do laboratório Delnice Ritsuko Sumita, o resultado é conclusivo, com margem de acerto "superior a
99,99%".
Críticas
Os procuradores da República
Marlon Alberto Weichert e Eugênia Fávero criticaram a "falta de
vontade política" do Estado e da
União em revelar o que realmente
aconteceu com os desaparecidos
políticos.
Weichert disse que o Ministério
Público Federal começou a atuar
no caso em 1999, após ser procurado pela comissão. Desde então,
segundo ele, as investigações encontraram "resistência" por parte
das autoridades.
"Na época, vimos que os trabalhos, até então sob responsabilidade dos peritos da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas), estavam abandonados",
disse o procurador.
Fávero criticou a Secretaria da
Segurança Pública pela falta de
agilidade nas investigações. Segundo ela, durante um ano a Procuradoria faz sugestões que agilizem as investigações, mas nenhuma proposta é aceita.
"O caso, na esfera policial, é investigado por um delegado da
Delegacia de Pessoas Desaparecidas (DHPP). Durante as investigações, o posto foi ocupado por
vários delegados. Cada um que
entrava, começava do zero. Passaram-se 15 anos e muito pouco foi
feito. As conquistas até agora se
devem ao empenho dos familiares e da comissão", afirmou.
A Secretaria de Segurança Pública não respondeu às críticas até
a conclusão desta edição.
História
Molina era militante do Molipo
(Movimento de Libertação Popular) e lutava contra a repressão
durante o regime militar. Um dos
militantes do grupo era o ex-ministro José Dirceu (PT-SP).
Capturado pela polícia e levado
ao DOI-Codi, Molina morreu durante sessões de tortura, segundo
a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.
Oficialmente, o governo informou à família que ele havia sido
assassinado.
Em 1979, a família, até então
sem notícias, descobriu que Molina havia sido enterrado, identificado como Álvaro Lopes Peralta.
Só em 1990, a família conseguiu
apoio técnico e político para que
fossem realizadas escavações em
uma das valas do cemitério de Perus, onde estava a ossada.
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