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PT contraria Lula e quer ser cabeça de chapa em 2010
Ao encerrar 3º Congresso, partido decide que apresentará nome para "liderar" coalizão
Lula e governo temem que a antecipação da sucessão afete relação com aliados; para Berzoini, decisão do PT prejudica busca de alianças
FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
No encerramento de seu 3º
Congresso, o PT aprovou ontem, três anos e um mês antes
da próxima eleição presidencial, uma diretriz que diz com
todas as letras que o partido terá candidato à Presidência da
República em 2010.
Foi uma derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e o grupo mais afinado com o
Planalto, que não querem a antecipação do debate sucessório
e temem a repercussão desta
resolução nos partidos aliados.
O texto, um consenso entre
todas as tendências, faz as devidas referências a conversar sobre a eleição com os aliados,
mas é claro sobre quem deveria
ocupar a cabeça de chapa. "O
PT deve [...] apresentar uma
candidatura petista à sucessão
de Lula capaz de liderar, juntamente com outros partidos,
uma ampla aliança partidária e
social e vencer as eleições de
2010", diz a diretriz.
Aprovado o texto pelo plenário, os mais afinados com Lula
acharam que o tom precisava
ser um pouco amenizado, e fizeram acrescentar mais um parágrafo, que reforça que o a
candidatura será "construída"
com outros partidos aliados.
"Infantilidade política"
O resultado final contrariou
o presidente do partido, Ricardo Berzoini, que, em jogo afinado com o governo, disse à Folha há menos de duas semanas
que considerava uma "infantilidade política" tratar agora da
eleição de 2010.
Ontem, em entrevista, Berzoini demonstrou seu desconforto. "Se nós partirmos do
pressuposto de que o candidato
necessariamente tem que ser
do PT, vamos dar uma mensagem que não é boa para quem
quer construir alianças."
O presidente petista acabou
atropelado pela pressão do partido, inclusive dentro de sua
própria tendência interna, por
começar agora a construir um
nome, temendo um enfraquecimento muito grande quando
vier a primeira eleição presidencial sem Lula desde 1989.
O próprio discurso de Lula de
anteontem, em que ele prometeu "lutar" para fazer o sucessor, embora sem dizer claramente que seria do PT, acabou
dando gás aos que defendiam a
antecipação do debate.
O descontentamento ontem
era evidente entre os mais afinados com o governo. "Essa
discussão está sendo colocada
um pouco cedo demais. Não é
bom isso para o Brasil. As últimas eleições estão quentes ainda. É hora de trabalhar", disse o
ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), ele próprio cotado para ser o candidato petista em 2010.
Já o governador de Sergipe,
Marcelo Déda, muito próximo
a Lula, afirmou que qualquer
antecipação do debate sucessório é ruim para quem está no
governo. "Isso não precisaria
ter sido explicitado em uma decisão do congresso, muito embora o mérito esteja correto",
afirmou Déda.
Satisfação
As tendências que fazem
oposição interna ao grupo majoritário não seguravam a satisfação. "A nota para mim deixa
bastante claro que a candidatura será do PT. E que não será
uma candidatura para marcar
posição, mas para ganhar a eleição", disse o secretário de Relações Internacionais, Valter Pomar, da ala Articulação de Esquerda.
O ex-ministro José Dirceu
(Casa Civil), outro defensor da
candidatura própria petista,
ressaltou a necessidade de entendimento com os partidos
aliados, mas não se conteve e
chegou a elencar possíveis nomes do partido.
"O PT tem nomes importantes, como a ministra Dilma
[Rousseff, Casa Civil], o ministro Tarso Genro [Justiça], o senador [Eduardo] Suplicy, o senador [Aloizio] Mercadante, a
ministra Marta Suplicy [Turismo] e os governadores Jaques
Wagner [Bahia] e Marcelo Déda [Sergipe]".
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