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Petistas fazem ataque às Forças Armadas
Em moção aprovada em congresso, partido pede abertura de arquivos e diz que generais não podem elogiar ditadura
"Lula comprometeu-se a abrir arquivos [militares], mas até agora não o fez", diz texto, que é considerado documento oficial da sigla
EM SÃO PAULO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma moção aprovada ontem
por unanimidade no final do 3º
Congresso do PT pede a "democratização das Forças Armadas" e critica declarações de
generais em defesa do regime
militar (1964-1985).
"O PT entende ser uma tarefa urgente do governo brasileiro iniciar um processo de democratização das Forças Armadas, que precisam ser transformadas em instituições a serviço da população e da democracia", diz a moção.
De acordo com o documento,
"é inaceitável que alguns generais em postos de comando
continuem a fazer manifestações públicas em defesa da ditadura, ou que as instituições
militares possam constranger o
regime democrático, colocando-se acima da lei ao desacatar
decisões judiciais e administrativas legítimas".
A moção pede também a
abertura dos arquivos do regime militar e condena a tortura
por policiais contra suspeitos
de crimes.
"Já há decisões judiciais ordenando a abertura dos arquivos militares, decisões essas
desrespeitadas tanto pelo governo quanto pelas Forças Armadas. O governo Lula comprometeu-se a abrir tais arquivos, mas até agora não o fez",
diz o texto.
Na semana passada, houve
uma reação nos meios militares
ao lançamento de um livro pelo
governo federal relatando torturas e mortes de opositores do
regime militar e explicitando a
responsabilidade do Estado sobre elas.
De acordo com uma nota divulgada pelo Exército na última sexta-feira, "fatos históricos [referentes ao regime militar] têm diferentes interpretações, dependendo da ótica de
seus protagonistas". O Exército
também se colocou contrário à
mudança na Lei de Anistia, como foi defendido por alguns
dos participantes do lançamento do livro.
A apresentação de moções
tradicionalmente ocorre no fim
dos eventos petistas, e ontem
não foi diferente. A relativa às
Forças Armadas é uma exceção, uma vez que textos como
esse geralmente dizem respeito
a temas inofensivos ou pitorescos. Eles são consideradas documentos oficiais do partido.
Ontem, por exemplo, junto
da moção sobre os militares, foram aprovadas outras em apoio
aos índios tupiniquins do Espírito Santo, em defesa do adicional de periculosidade para carteiros e pelo banimento do
amianto. Todas foram votadas
em bloco, sem debate, num plenário já bastante esvaziado.
Mas vários dirigentes petistas
estavam no local neste momento, inclusive o presidente do
partido, Ricardo Berzoini.
A moção a respeito das Forças Armadas foi apresentada
pelo diretório petista de Pernambuco e, segundo a Folha
apurou, surpreendeu petistas
que tiveram parentes vítimas
da ditadura. Alguns manifestaram receio de que o texto acirre
os ânimos dos militares e atrapalhe o trabalho da Comissão
de Mortos e Desaparecidos.
A respeito das torturas, o
partido afirma que há uma "licença para matar concedida tacitamente às forças policiais,
sob o beneplácito de determinados governadores".
Participante do encontro petista, o ex-ministro dos Direitos Humanos Nilmário Miranda considerou positiva a moção
aprovada. "Essa é uma bandeira histórica do partido. O governo tem certas contingências, mas o PT tem autonomia e
deve se manifestar sobre o assunto", disse Miranda, que é
presidente do diretório mineiro do partido.
(FÁBIO ZANINI e JOSÉ ALBERTO BOMBIG)
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