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DESNACIONALIZAÇÃO
Investimento estrangeiro na compra de empresas já instaladas pode ameaçar contas externas
Triplica a remessa de lucros ao exterior
da Redação
A desnacionalização da indústria e do setor de serviços no Brasil vem produzindo um salto na
remessa de lucros e dividendos
das empresas estrangeiras.
Nos anos do Real, o envio de dinheiro das multinacionais para
fora triplicou. Passou de US$ 2,5
bilhões em 1994 para US$ 7,2 bilhões no ano passado.
No mesmo período, inverteu-se
a tendência de os empresários estrangeiros virem para o Brasil para constituir novos negócios. Hoje, a maioria vem apenas para
comprar os já existentes, o que
tem provocado uma diminuição
na base de empresas nacionais em
relação às internacionais.
Em 1994, por exemplo, apenas
0,38% dos US$ 2,1 bilhões em investimentos externos foram para
a compra de empresas já constituídas. No ano passado o percentual já era de 74,1%.
Ou seja: dos US$ 28,7 bilhões
que entraram, US$ 21,3 bilhões
foram usados para que empresas
brasileiras passassem a ter donos
estrangeiros. A tendência deve se
acentuar neste ano por causa da
desvalorização do real em janeiro,
que deixou as empresas nacionais
ainda mais baratas.
Sem medidas compensatórias
que o governo poderia adotar, essas saídas podem provocar um
rombo nas contas externas do
país nos próximos anos, avaliam
economistas e empresários pró e
contra a forte abertura ao capital
estrangeiro.
""A desnacionalização indiscriminada vai pressionar o balanço
de pagamentos e está colocando o
país em uma posição de subordinação total", diz o empresário Roberto Nicolau Jeha, coordenador
do grupo de Política Industrial da
Fiesp.
Antônio Lacerda, economista
da alemã Siemens e vice-presidente da Sobeet, entidade que
reúne as empresas transnacionais, aponta os prós e contra da
desnacionalização.
O principal problema, afirma, é
que a maior parte das estrangeiras
que vêm ao Brasil não são empresas exportadoras. E elas remeterão lucros para fora sem trazer
dólares pela via da venda de seus
produtos ao exterior.
Outro ponto é que não tem havido efetivamente um substancial
aumento da capacidade produtiva. ""As empresas só estão trocando de mãos." Como fatores favoráveis, há o acesso à tecnologia
que as transacionais têm e a capacidade de obter novos financiamentos para investimentos.
O Brasil tem hoje um déficit em
suas contas externas de cerca de
5% do PIB. Para cobrir o rombo,
atrai capital estrangeiro volátil
(para a Bolsa e juros) e permanente (investimentos diretos).
O problema é que a tendência
dos investimentos estrangeiros
diretos no Brasil é declinante. Deve recuar para US$ 25 bilhões neste ano e se estabilizar na faixa de
US$ 10 bilhões ao ano no futuro,
segundo a Sobeet. Assim, as empresas continuarão a remeter lucros e dividendos sem trazer novos investimentos de vulto.
A economista Maria Helena
Zockun, da Universidade de São
Paulo, sustenta que a desnacionalização não é um problema. ""A remessa de lucros é apenas um item
da balança de pagamentos", diz.
Ela afirma, no entanto, que o
governo deveria ter políticas mais
ativas para obrigar as empresas
internacionais a exportar mais e,
assim, compensar o que mandam
em lucros e dividendos para fora.
Em um estudo recente, por
exemplo, a economista mostra
que as multis instaladas no Brasil
exportam 30% menos do que as
suas coligadas no resto da América Latina. ""O governo não está
usando o seu poder de negociação para obrigar essas empresas a
exportar mais", diz.
(FERNANDO CANZIAN)
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