São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2000

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SÃO PAULO

Nelson Biondi e ex-prefeito não chegam a acordo sobre custos do programa de TV para o segundo turno; orçamento proposto por publicitário superou os R$ 800 mil previstos

Marqueteiro deixa campanha de Maluf

ROGÉRIO GENTILE
DO PAINEL

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O publicitário Nelson Biondi, responsável pelo marketing de Paulo Maluf, deixou ontem a campanha do candidato do PPB à Prefeitura de São Paulo horas depois da confirmação da ida do ex-prefeito para o segundo turno.
O principal reflexo da saída do publicitário da disputa será a radicalização do discurso do candidato pepebista contra Marta Suplicy (PT), segundo a Folha apurou com malufistas históricos.
A partir de agora, temas envolvendo a vida particular da candidata e seus projetos sobre a parceria civil entre homossexuais e sobre a ampliação do aborto serão abordados com mais ênfase pelo marketing pepebista.
Reunidos na casa do candidato ontem pela manhã, Biondi e Maluf não chegaram a um acordo quanto aos custos da campanha para o segundo turno.
Diante das poucas chances de vitória, a quantia pedida por Biondi foi avaliada como excessiva por Maluf, que tem afirmado passar por dificuldades na arrecadação de recursos.
O ex-prefeito considera mais importante economizar recursos para a disputa pelo governo do Estado em 2002, seu grande objetivo. Para ele, o fato de ter chegado ao segundo turno na disputa deste ano já pode ser interpretado como uma grande vitória.
Com a ida ao segundo turno, Maluf imagina ter conseguido "limpar" sua imagem, deteriorada pelas acusações envolvendo a sua própria gestão e a de seu ex-afilhado Celso Pitta (PTN).
O novo encarregado da campanha será o produtor André Madri, do Grupo 11, de propriedade de Flávio Maluf, filho do candidato. No primeiro turno, Madri trabalhou para Ângela Amin (PPB), reeleita em Florianópolis.
Assumem também os publicitários José Maria Braga, um dos responsáveis pela campanha de Romeu Tuma (PFL), e Márcio Pitti.
A Folha apurou que o PPB previa gastos com a publicidade do segundo turno de cerca de R$ 800 mil e que o orçamento do publicitário superou essa estimativa.
""Não chegamos a um acordo, mas deixo a campanha com a sensação de que minha missão foi bem cumprida. Claro que com a ajuda divina, mas só tem sorte quem joga", disse ontem Biondi, desde 88 com o pepebista.
O publicitário declarou ainda que sua saída não representa um rompimento com Maluf, ao contrário do que ocorreu com seu ex-sócio Duda Mendonça e o pepebista, depois da derrota do partido na eleição estadual de 98.
""Nada impede que estejamos juntos em outras campanhas se nos acertarmos sobre preços."
Desde o início do horário eleitoral, o desempenho de Biondi vinha sendo avaliado entre pessoas próximas ao pepebista que pregavam a radicalização do discurso como inferior ao das propagandas adversárias. Descontentes, alguns malufistas chegaram a divulgar informações falsas sobre a saída do publicitário.
Malufistas históricos afirmam que o marqueteiro teria elevado o valor da campanha com o objetivo de provocar sua própria saída.
A avaliação é a de que Biondi pretendia com isso sair "por cima" -isto é, estrategicamente depois de ter conseguido levar Maluf ao segundo turno mesmo contrariando todas as previsões.
O publicitário nega. "Melhorei muito a imagem dele. O pior foi o primeiro turno, e isso já passou."
A saída de Biondi foi encarada como um alívio por setores do malufismo, defensores da adoção do ""bateu-levou" na televisão.
Aliados tradicionais do pepebista culpam Biondi e Duda pela derrota do candidato para o governador Mário Covas (PSDB) em 98. Na ocasião, o ex-prefeito, por recomendação de seus marqueteiros, não revidou as acusações do tucano sobre falta de ética e corrupção em suas gestões.
Os pepebistas avaliam que as eventuais fragilidades de Marta, sejam elas quais forem, devem ser colocadas na TV e que o publicitário se oporia a isso.


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