|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Senado desiste de juntar processos contra Renan
Pressionado, presidente do Conselho de Ética recua em manobra favorável ao colega
Aliados de senador também não conseguem arquivar caso Schincariol; definição de investigações pode ficar para 2008, diz Quintanilha
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionado por senadores
da oposição e da base governista, em mais uma sessão marcada por bate-boca e tensão, o
presidente do Conselho de Ética da Casa, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), desistiu de
juntar dois processos contra
Renan Calheiros (PMDB-AL)
por quebra de decoro.
Quintanilha foi criticado por
quase todos os membros do
conselho por ter escolhido Almeida Lima (PMDB-SE) para
analisar, em conjunto, os dois
processos pendentes contra
Renan: um que trata de denúncia do uso de "laranjas" na compra de rádios em Alagoas e outro que o acusa de ter se beneficiado de um esquema de desvio
de recursos de ministérios comandados pelo PMDB.
"Quero fazer um apelo ao
bom senso. Para mim, a decisão
soou como provocação", disse o
líder do DEM, José Agripino
Maia (RN). "Está desagradável
conviver nesta Casa e essa atitude amplia isso", afirmou.
"O senhor não deveria ter
convidado o senador Almeida
Lima, e ele não deveria ter aceitado. A decisão expõe o Senado,
a dose do remédio foi exagerada e pode virar veneno", disse
Renato Casagrande (PSB-ES).
A discussão irritou Almeida
Lima, que reagiu aos gritos e
deu o tom do que seria a reunião do Conselho de Ética.
"Não sou advogado de Renan",
disse. Depois, atacou Agripino:
"Não vejo em vossa Excelência
condições morais nem éticas
acima das minhas".
O peemedebista ainda discutiu com Cristovam Buarque
(PDT-DF). "Vossa Excelência
não tem a capacidade de auscultar a opinião pública, não
tem representação nacional e o
resultado das urnas não lhe foi
favorável", disse.
Cristovam rebateu. "Vamos
fazer essa reunião no Maracanã
ou na rodoviária para ver qual é
a opinião pública, o que pensa a
opinião pública."
A líder do PT, Ideli Salvatti
(SC), que tradicionalmente
participa das reuniões do conselho, não apareceu. O senador
Aloizio Mercadante (PT-SP)
defendeu que os processos fossem analisados separadamente
e concluídos em 30 dias.
DEM e PSDB tentaram derrubar a decisão de anexar os
processos por meio de um requerimento, mas Quintanilha
não acatou. Após três horas de
discussão, entretanto, ele cedeu à pressão e prometeu
anunciar hoje mais um relator.
"A prerrogativa é minha, mas
resolvi atender ao apelo da
maioria dos membros do conselho", afirmou.
Com essa decisão de Quintanilha, Renan perde o controle
de uma das relatorias no conselho. Ele também não conseguiu
arquivar o segundo processo,
sobre o caso Schincariol.
Relator do caso Schincariol, o
senador João Pedro (PT-AM)
acatou "sobrestar" (congelar) o
caso até a Câmara concluir suas
investigações, que envolvem o
deputado Olavo Calheiros
(PMDB-AL), irmão de Renan.
"Não estou encerrando o processo, esse não é o relatório",
disse João Pedro.
Antes da reunião do conselho, Renan defendeu a escolha
de Almeida Lima. "O pouco
usual seria colocar uma dessas
pessoas [do PSDB ou do DEM]
para ser relator, já que assinaram a própria petição", disse.
"Tivemos 46 votos pela absolvição, portanto é difícil saber quem é o principal aliado
ou quem é a pessoa de vanguarda na oposição. Isso é um processo político, e processo político é assim mesmo."
Apesar de ceder, Quintanilha
ainda deixou uma margem de
manobra para Renan. Segundo
ele, Almeida Lima continuará
como relator de um dos dois
processos, mas não definiu
qual. Nos bastidores, os aliados
de Renan optarão por aquele
que julgarem ser mais complicado -em princípio, o da compra de rádios.
Além disso, os peemedebistas tentarão esticar o calendário do conselho. Questionado
se havia garantia de que os processos estarão concluídos até o
final do ano, Quintanilha respondeu: "Nenhuma".
O nome preferido da oposição para ocupar uma das relatorias é Demóstenes Torres
(DEM-GO), mas a avaliação é
que Renan pressionará Quintanilha para não aceitar. Diante
disso, as alternativas seriam
Jefferson Péres (PDT-AM) e
Eduardo Suplicy (PT-SP).
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frases Índice
|