São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Palocci é o mais cotado; Mercadante e Dirceu também têm chances

Lula pretende indicar um petista à pasta da Fazenda

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A intenção do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, é indicar um petista para o Ministério da Fazenda. Hoje, o mais cotado é Antônio Palocci Filho, coordenador da equipe de transição. Aloizio Mercadante, senador eleito por São Paulo, e José Dirceu, presidente do PT, também são cotados para a Fazenda. A interlocutores, Lula dá a entender que tem mais opções petistas do que Palocci, Mercadante e Dirceu.
Segundo a Folha apurou, Lula quer montar um núcleo duro de governo muito ligado a ele e formado exclusivamente por petistas. Esse núcleo teria mais três ministérios: Casa Civil, para o qual o mais cotado é Dirceu, Planejamento, pasta que deverá ser de Palocci se ele não for para a Fazenda, e Secretaria Geral da Presidência, que pode ser de Luiz Gushiken, um dos mais influentes colaboradores de Lula.
Por conta desse formato de governo que prevê um núcleo duro, perdeu força a idéia de nomear para a Fazenda uma pessoa de fora do PT, hipótese aventada antes da eleição para agradar ao mercado e não totalmente descartada.
O mais provável é que o futuro presidente do Banco Central seja de fora do PT e que outras pastas, como o Ministério do Desenvolvimento, acolham pessoas que se aproximaram recentemente do petismo, como o empresário Eugênio Staub.
Montado o núcleo duro, Lula cumpriria, então, a promessa de fazer um governo amplo, com participação de aliados dos meios políticos e empresariais.
As boas notícias econômicas pós-eleitorais, com queda do dólar e do risco-país (indicador que mede a capacidade de uma nação de honrar compromissos externos), também contribuíram para diminuir a hipótese de não-petista na Fazenda.
Em conversas reservadas, Lula diz que o mercado entendeu bem sua eleição e que o PT deve saber tirar proveito disso para montar a equipe que julgar mais adequada.

Os cotados
Palocci é o mais cotado para a Fazenda devido à boa interlocução que conquistou junto ao empresariado na condição de coordenador do programa de governo de Lula. Ele deu declarações simpáticas ao mercado, como fazer em 2003 o superávit primário necessário, até de 5%. E disse que o PT fará um "ajuste fiscal brabo".
Uma alternativa seria tirar da Fazenda algumas atribuições e órgãos, levando-os para o Planejamento. Nesse formato, Palocci ficaria no Planejamento e voltaria a crescer a idéia de nome extra-PT na Fazenda. No entanto, como o PT prevê uma fase gradualista de dois anos para superar a vulnerabilidade externa da economia herdada de FHC, a Fazenda continuará a ser muito importante, pois tem a chave do cofre e determina a macroeconomia.
Não faria sentido, crê a cúpula petista, entregar esse posto a alguém que chegou faz pouco tempo às fileiras lulistas. Palocci, por exemplo, já concentrou poderes na equipe de transição, num sinal claro de que aumentaram suas atribuições econômicas. Além de coordenador, negocia diretamente com a Fazenda, o Banco Central e a Presidência.
Em relação a Mercadante, circulam duas versões no PT:
1) Lula não quer tê-lo na Fazenda, por avaliar que ele se expôs muito nos últimos anos criticando a política econômica e que, se for para a Fazenda e tiver de adotar medidas que combatia, será foco constante de cobranças.
O presidente eleito ainda acha Mercadante bom de discurso, o que seria fundamental para defendê-lo no Senado, onde ele seria líder do governo. E há uma terceira razão: Lula julga Palocci mais habilidoso que Mercadante, que já comprou briga com alguns economistas do partido.
2) Eleito senador com mais de 10 milhões de votos, Mercadante seria muito cobrado por abandonar seu mandato por um ministério. Em disputas eleitorais futuras, pagaria esse preço. Daí ele próprio estar em dúvida quanto à conveniência de ocupar o posto.
José Dirceu é lembrado para a Fazenda devido à força que conquistou junto a Lula nos últimos anos. É o número dois do PT.
Na Fazenda, cercaria-se de uma equipe respeitada pelo mercado, num sinal de que a liderança da economia terá força política para cumprir as promessas eleitorais de responsabilidade fiscal, de respeito aos contratos e de cumprimento de metas de inflação.
Como o presidente do PT tem conduzido com maestria as articulações políticas, Lula tem se inclinado pela opção Palocci ou Mercadante para a Fazenda. Estes dois se encontraram na quinta-feira com Armínio Fraga, presidente do Banco Central, e marcaram nova conversa para a próxima quarta-feira.
Se mantiver as intenções que demonstrou a poucos homens de confiança nos últimos dias, Lula se inclinará por um dos três. Essa escolha dependerá ainda de como a economia vai se comportar. A opção PT na Fazenda perderá força se voltarem as complicações econômicas pré-eleitorais.



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