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Minha Casa, Minha Vida privilegia corretora sindical
Dirigida por petistas, Fenae tem monopólio informal da venda de seguros do programa
Duas seguradoras fecham acordo com corretora para explorar mercado em que giram cerca de R$ 40 mi; CEF afirma que atuação é livre
Leonardo Wen/Folha Imagem
![](../images/n0311200901.jpg) |
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Operários rabalham no Complexo São Vicente, em Mauá (SP),
obras do Minha Casa, Minha Vida
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma corretora dirigida por
sindicalistas da Caixa Econômica Federal, que são filiados
ao PT e também doadores de
candidatos a deputado e prefeito pelo partido, é a maior negociadora de seguros de entrega
de obras do Minha Casa, Minha
Vida, programa do governo federal lançado há sete meses.
A Fenae Corretora é a única a
ter acordo com a Caixa para a
venda do seguro-garantia do
programa habitacional -um
negócio de milhões de reais.
Empreiteiras e corretores ouvidos pela Folha afirmam haver
um monopólio informal.
Construtoras que participam
do programa são obrigadas a
contratar um seguro para garantir a entrega das moradias,
caso as próprias empreiteiras
não cumpram o prometido.
Duas seguradoras, Caixa Seguros e J Malucelli, dominam o
mercado até o momento. A Fenae Corretora é quem faz a intermediação entre construtoras e seguradoras.
Em julho, Caixa Seguros, J
Malucelli e Fenae divulgaram
comunicado ao setor financeiro anunciando um acordo "para explorarem juntas esse mercado". À Folha, o setor de relações com investidores da J Malucelli confirmou que quase a
totalidade dos seguros é negociada, até agora, pela parceria
das três empresas.
A Caixa diz que quaisquer seguradoras e corretoras podem
participar e o mercado é livre.
A Fenae afirma ser uma das
mais experientes da área.
O Minha Casa, Minha Vida
-que é uma das principais
bandeiras da pré-campanha da
ministra Dilma Rousseff (Casa
Civil) ao Planalto- promete
investir R$ 34 bilhões na construção de um milhão de casas
populares. O valor a ser segurado é de 10% de cada obra.
Isso representaria um prêmio de cerca de R$ 40 milhões
para as seguradoras que atuarem nesse nicho -considerando uma taxa conservadora de
gratificação de menos de 1,5%
sobre o valor total segurado.
A comissão a ser recebida pelos corretores de seguro, segundo documento da própria J
Malucelli, chega a 10% do prêmio recebido pelas seguradoras (o que representaria um total de R$ 4 milhões para a Fenae, caso seja a única a explorar
o mercado).
Em pouco mais de três meses, mais de R$ 4 bilhões em financiamentos da Caixa para o
Minha Casa foram garantidos
pela J Malucelli, segundo a
própria empresa. Alexandre
Malucelli, vice-presidente da J
Malucelli Seguros, diz que a
Fenae "é a corretora cativa da
Caixa Seguros" e que por isso
foi escolhida para a parceria.
"O seguro-garantia é complexo e a Caixa tem o direito de
indicar a seguradora de sua
confiança. O que combatemos
é o abuso, a imposição de representantes", diz André Dabus, coordenador de Crédito e
Garantia do Sincor-SP (sindicato dos corretores). "Os corretores entendem que banco é
banco, corretora é corretora.
Monopólio não é sadio. Esperamos que a Caixa não fique na
contramão da história."
Doações
A Fenae Corretora é ligada à
Fenae (Federação Nacional das
Associações de Pessoal da Caixa Econômica Federal), entidade associada à CUT (Central
Única dos Trabalhadores). Pedro Beneduzzi Leite preside
tanto a corretora como a entidade sindical.
Filiado ao PT desde 1990 e
com carreira no Paraná, ele já
foi doador de campanha do presidente do PT, Ricardo Berzoini (R$ 4 mil em 2006), e da mulher do ministro Paulo Bernardo (Planejamento), Gleisi Hoffmann, a quem destinou R$ 4
mil em 2008, quando ela disputou a Prefeitura de Curitiba.
Alexandre Monteiro, diretor-executivo da Fenae Corretora, é doador de campanha de
Ricardo Berzoini (R$ 9 mil) e
de Geraldo Magela (R$ 1,5 mil).
Já Fernando Ferraz Rêgo
Neiva, presidente e membro
efetivo do conselho fiscal, foi
candidato pelo PT-MG a deputado federal em 2006.
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