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1ª VIAGEM
Órgão da ONU propõe que países latino-americanos possam usar instrumento multilateral em momentos de insolvência
Cepal defende criação de "lei" para moratória
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO
Um dia antes de se reunir em
Santiago com o presidente eleito
Luiz Inácio Lula da Silva, o secretário-geral da Cepal (Comissão
Econômica para a América Latina), José Antonio Ocampo, defendeu que o Brasil e demais países latino-americanos apresentem uma proposta conjunta para
a criação de um mecanismo multilateral de renegociação da dívida
externa, ao qual possam recorrer
em momentos de insolvência.
A possibilidade de os países recorrerem a uma moratória "negociada", no marco do FMI (Fundo
Monetário Internacional), vem
sendo discutida há cerca de um
ano, por iniciativa da americana
Anne Krueger, vice-diretora-gerente do Fundo. Entretanto, tanto
o Brasil quanto o México se opuseram, por considerar que uma
iniciativa do tipo inibiria ainda
mais o financiamento externo às
economias em desenvolvimento.
"O mundo tem que desenvolver
um mecanismo multilateral para
fazer frente ao problema do superendividamento, para evitar que
se repita a crise dos anos 80, quando cada país buscou saídas individuais. Algo como foram os Planos
Baker e Bradley [promovidos no
fim dos anos 80 e início dos anos
90 pelos Estados Unidos, para levar as economias em moratória
de volta ao sistema financeiro internacional], mas dentro de um
ordenamento regular", disse.
Ocampo deu entrevista a jornalistas latino-americanos que participam, na sede da Cepal, órgão
da ONU, de um seminário sobre
recursos hídricos promovido pela
comissão e pelo Banco Mundial.
O secretário-geral da Cepal afirmou que um mecanismo internacional que permita a suspensão
do pagamento da dívida seria "tão
natural quanto um país ter uma
lei de falências; faz parte do sistema em que vivemos".
Mas reconheceu que qualquer
proposta individual nesse sentido
"será malvista".
"Pode ter um efeito bumerangue, acabando com o financiamento externo", disse. Por isso,
sugeriu uma ação conjunta latino-americana. Questionado sobre que país poderia liderar o debate, riu e comentou: "O melhor é
que seja um que não esteja em risco [de moratória]".
Ele não quis revelar se tratará do
assunto na reunião de uma hora
que terá hoje com Lula, a partir
das 16h (17h no Brasil).
Ocampo fez questão de salientar que, diferentemente do que
defendem os Estados Unidos, o
mecanismo que ele propõe não
seria um substituto para os pacotes de ajuda do Fundo.
"Seria um complemento. Os financiamentos do Fundo são para
resolver problemas de liquidez; o
mecanismo seria para resolver
crises de solvência."
Para o secretário-geral da Cepal,
será necessário também oferecer
uma "cenoura" aos países que se
exponham ao "garrote" da moratória. "É preciso dar garantias
multilaterais aos que queiram
voltar a ter acesso ao mercado de
capitais". Ou seja, criar uma espécie de "seguro" internacional que
garanta o pagamento dos novos
créditos.
Apesar de admitir a possibilidade de outros países latino-americanos suspenderem o pagamento
de sua dívida externa ou de parte
dela, como fez recentemente a Argentina, Ocampo afirmou que "é
pouco provável" uma nova crise
generalizada, como nos anos 80.
"O endividamento é similar ao
de 20 anos atrás, mas naquela
época o fator determinante foi a
elevação da taxa de juros americana. Hoje, a probabilidade de um
novo choque de juros é nula. A
política do FED [Federal Reserve,
o BC americano] é exatamente
oposta", afirmou.
Ao comentar as eleições presidenciais no Brasil e no Equador
(onde foi eleito o ex-coronel Lucio Gutiérrez, representante de
uma frente de esquerda), Ocampo disse que houve uma "evidente
rejeição a alguns dos resultados
das reformas econômicas dos
anos 90". "No Brasil e no Equador, todos os candidatos eram
contra o neoliberalismo."
A jornalista CLAUDIA ANTUNES viajou
a Santiago a convite da Cepal e do Banco
Mundial
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