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JANIO DE FREITAS
Nas asas da Varig
Cony já deve ter citado, porque não deixaria desperdiçada uma lembrança dessas, o slogan com que a loteria tentava os
menos céticos: "O seu dia chegará". Cony não ganhou aquela,
mas ganhou várias outras loterias na vida. Todas me escaparam com menos ou mais acinte, mas, desde que criada a coluna
do ombudsman na Folha dominical, o slogan voltou a frequentar minha memória. Não como aceno promissor, mas como a
advertência de que este velho cético jamais abriria mão: "O seu
dia chegará".
Chegou no domingo. No artigo
"Os nós da Varig", o ombudsman Bernardo Ajzenberg aborda situação da empresa, com dados de precisão pelo menos
discutível, e chega ao aspecto
jornalístico do assunto:
"Na terça-feira, num texto intitulado "A marcha da insensatez", Luís Nassif criticou a posição da FRB [Fundação Ruben
Berta, controladora da Varig e
constituída por funcionários],
que em assembléia no último
dia 22 vetou um entendimento
costurado pelo conselho com os
credores e o BNDES para "salvar"
a empresa".
Parágrafo seguinte: "Na quarta, em texto chamado "No ar",
Janio de Freitas fez o oposto: elogiou a recusa do plano por parte
da Fundação". E logo adiante:
(...) "ressalto a existência da polêmica para destacar um outro
problema": (...) teria o jornal
fornecido fatos e história o suficiente para que ele [leitor], ao
ler, por exemplo, as opiniões dos
colunistas, pudesse chegar a um
julgamento próprio, básico que
fosse, sobre a questão?"
Nassif tem a boa sorte de manter comigo muitas e sempre renovadas diferenças, o que ajuda a explicar seus êxitos tão maiores e variados. Mas, no caso, é
preciso dizer, antes de tudo, que
meu artigo não saiu na quarta,
dia seguinte ao de Nassif, e sim
na quinta. Não aborda, em contraposição e nem com simples citação, os pontos levantados por
Nassif para expor sua opinião.
Não foi criada uma "polêmica",
portanto, mas acontecida uma
divergência de opinião, ou de
conclusão a partir de dados e
avaliações diferentes.
Nem poderia haver polêmica
por este motivo lamentável: não
li o artigo de Nassif. Ou só o li
ontem, na redação carioca da
Folha. De volta ao Brasil e ao
Rio, consumi o domingo e a segunda com a pilha de jornais
acumulados durante a ausência.
Dessa melancólica obrigação fiz
mesmo, na segunda, o artigo de
terça. Mas dei forçada preferência à leitura de 13 dias do assunto em relevância no momento:
noticiário e artigos sobre novo e
velho governos e governantes. As
primeiras páginas não me exigiram a leitura imediata de economia, fazendo minha indigestão
apenas com as manchetes sobre
a volta da inflação e o aumento
do desemprego.
E não sei se caberia mesmo
atribuir-me "elogio" a quem
quer que fosse, por este parágrafo: "A cinco semanas de instalar-se, não demonstraria grande
sensatez a aceitação de um plano financeiro e administrativo
radical, não estando conhecidas
as intenções dos futuros governantes para os problemas da
aviação comercial".
Convém contestar, também,
que a Fundação tenha recusado
"um entendimento costurado
pelo conselho com os credores e o
BNDES para "salvar" a empresa". O plano foi montado, como
escrevi e não preciso corrigir, por
"um grupo de novos conselheiros
mais ou menos impostos, ex-integrantes do atual e de passados
governos" em ação conjunta
com os principais credores, entre
eles BR Distribuidora, BNDES e
Infraero, "por acaso, ou não, entidades orientadas por pessoas
do governo".
O Conselho de Administração
recusou o plano elaborado pelo
grupo e credores com o argumento, entre outros, de que estava proposta a liquidação de débitos, mas nenhuma das medidas esperadas para assegurar o
dia seguinte da empresa. Ao que
meu pequeno texto (foi parte de
um artigo) acrescentava: "Mais
significativo é que, por trás, sob
ou paralelamente ao plano está
o fantástico negócio de venda da
Varig".
Quem tiver dúvida a respeito,
pode começar por uma consulta
a alemães do comando da Lufthansa, já que seria mais difícil
obter certas informações com alguns dirigentes da BR Distribuidora (ou da Petrobras), do
BNDES e integrantes do próprio
grupo de novos conselheiros,
aliás, já ex-conselheiros que elaboraram a salvação sem salvação. Ou, pelo menos, uma salvação que melhor teria outro nome.
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