|
Texto Anterior | Índice
ELIO GASPARI
Lula foi do
linchamento às ilusões
Lula voltou a informar que
é contra a redução da maioridade penal. Com isso, o presidente da República alimenta
seu estilo de cidadão das ilusões.
Defende todas as causas sem
custo e todos os custos sem causa.
No caso da redução da maioridade dos bandidos que ainda
não completaram 18 anos, pode-se ficar contra ou favor sem
que isso afete o Orçamento. A
segurança pública é um dos únicos itens da agenda nacional em
que se pode ser altruísta sem que
a banca, o FMI e o doutor Antonio Palocci ameacem a choldra
com uma retaliação do mercado. Pode-se defender um sistema penal finlandês sem que isso
custe um só centavo.
O governo diz que não se pode
baixar a maioridade de um garoto de 16 anos porque os menores de idade não podem ser colocados nas máquinas de formar
criminosos das penitenciárias
brasileiras. Falso. Ninguém
quer colocar os delinquentes de
16 anos nas penitenciárias. Só os
latrocidas. É forte? Então só os
latrocidas reincidentes.
A violência urbana já fez três
vítimas no círculo próximo do
atual presidente da República.
O primeiro marido de sua mulher foi assassinado. Depois assassinaram o pai do morto. Isso
quando Lula era um sindicalista. Como presidente, mataram-lhe o segurança de um de seus filhos.
Afora Prudente de Moraes,
cujo pai foi morto por um escravo, Lula é o presidente brasileiro
que esteve mais perto de uma
cena de violência homicida. É
ele quem conta o caso, no excepcional livro "Lula, o Filho do
Brasil", da jornalista Denise Paraná, editado pela Fundação
Perseu Abramo: "Se não me engano, foi em 1962. Tinha uma
fábrica na rua Vemag, uma pequena tecelagem, uma fábrica
de meia. Lá eu presenciei a cena
mais violenta de uma greve. O
pessoal vinha numa passeata e
tentou parar a fábrica, que era
pequena. Deveriam trabalhar
umas oito ou nove pessoas, no
máximo. Ficava num sobrado.
O pessoal entrou e foi subindo as
escadarias. Então o dono da fábrica atirou. Atirou e o tiro pegou na bexiga de um companheiro que estava na frente. O
pessoal ficou invocado e jogou
pela janela o dono da fábrica;
ele caiu do segundo andar. O cidadão caiu no chão e lá embaixo o pessoal chutou ele, agrediu.
[...] Ele foi para o hospital, mas
acho que ele morreu. A impressão que eu tenho é que ele não
sobreviveu [...] Eu achava que o
pessoal estava fazendo justiça".
Certamente Lula mudou de
opinião a respeito da justiça dos
linchamentos.
Lula, o ministro da Justiça e a
torcida do Flamengo sabem que
os estupradores não temem os
códigos. O que eles temem é a lei
da massa, aquela que vigora nos
presídios infames do Estado
brasileiro. Temem o pessoal que
fica invocado.
Coisas de Lula: defende leis
finlandesas, promete presídios
americanos e não libera as verbas necessárias para trancar os
bandidos brasileiros.
A discussão politicamente correta é assim: quando interessa,
passa-se o adversário nas armas
ou no pau. Fora da cena, muda-se de chapéu. O cidadão se
transforma num iluminista ambulante. Um estranho iluminista, pois em nome da civilização
interdita o debate. Fica a impressão de que todo bandido
tem algo de carente e todo defensor da redução da maioridade tem algo de bandido. Nesse
mundo politicamente correto,
defender a convocação de um
plebiscito para decidir com
quantos anos um assassino deve
pagar integralmente pelo seu
crime parece coisa de selvagem.
Plebiscito? Reponde o general
João Baptista Figueiredo, que
governou o Brasil de 1979 a
1985. Depois de ter sido sovado
na eleição de 1974, concluiu:
"Povo de merda, que não sabe
votar".
Texto Anterior: Reformas sob pressão: Impasse sobre guerra fiscal impede acordo da tributária Índice
|