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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PUBLICITÁRIO
Transferências entre empresas do publicitário datadas de 2001 têm contratos selados sob legislação que entrou em vigor em janeiro de 2002
Perícia aponta fraude em contratos de Valério
Sérgio Lima/Folha Imagem
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O relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio, que afirmou que Marcos Valério não será punido |
ANDRÉA MICHAEL
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Laudo feito pelo Instituto Nacional de Criminalística da Polícia
Federal afirma que 30 de 176 operações financeiras realizadas entre as empresas de Marcos Valério
Fernandes de Souza usaram, nos
respectivos contratos, uma legislação que não existia na ocasião
em que foram firmados.
Os chamados contratos de mútuo, que registram na contabilidade os repasses de dinheiro de uma
para outra empresa de Valério, fazem referência ao artigo 586 do
Código Civil, que define o que é
"mútuo". Apesar de exibirem como data de assinatura o ano de
2001, os 30 contratos em questão
apontam como teor do artigo 586
a redação que lhe foi dada pelo
novo Código Civil, que só entrou
em vigor em janeiro de 2002.
Valério disse ontem à Folha que
contestará o laudo da PF na Justiça, que os contratos foram redigidos "de acordo com a legislação
vigente" e que as declarações retificadoras da contabilidade de suas
empresas foram apresentadas,
em 2005, "dentro do tempo hábil". Valério disse que contratou
uma auditoria independente de
uma empresa internacional e que
apresentará os resultados ao STF
(Supremo Tribunal Federal).
O publicitário contestou também a afirmação de que foram
emitidas notas fiscais frias. "Não
existe nenhum serviço não prestado a qualquer órgão público
que contratou nossas empresas."
Conforme o laudo, que demandou o trabalho de seis peritos da
PF ao longo de quatro meses, a
contabilidade das empresas de
Valério representou manipulação, adulteração e omissão de dados. As 176 operações financeiras
entre as empresas de Valério analisadas pelos peritos somam R$
51,41 milhões entre 2001 e 2005.
O laudo traz uma tabela comparativa entre os resultados contábeis indicados nos documentos
apreendidos pela PF nas empresas de Valério e aqueles apresentados em contabilidade que o
próprio empresário encaminhou
à CPI dos Correios.
O mais evidente descompasso
detectado pelos peritos nas duas
análises é o valor dos ativos, que
somaram R$ 28,75 milhões em
dezembro de 2004, de acordo
com os documentos apreendidos,
e R$ 72,39 milhões, conforme a
contabilidade posterior.
Em 2003, a diferença relativa
aos ativos entre o que havia sido
registrado pelas empresas e o que
Valério apresentou depois foi ainda maior: de R$ 5,87 milhões para
R$ 53,20 milhões.
Ao analisar a documentação
apreendida e aquela enviada por
Valério, os peritos detectaram
fraudes em Autorizações para
Impressão de Documento Fiscal.
Com a falsificação das autorizações emitidas pelas cidades mineiras de Rio Acima, Igarapés e
Catas Altas foram produzidas 80
mil notas fiscais. Há uso de carimbos e assinaturas que divergem
daqueles usados por essas prefeituras em procedimentos padrão.
O Instituto Nacional de Criminalística também está trabalhando em laudos relativos à contabilidade dos bancos Rural e BMG,
que teriam concedido empréstimos de R$ 55,8 milhões a Valério.
O dinheiro seria a fonte do "mensalão", a mesada paga a deputados da base aliada.
A análise preliminar da contabilidade do Rural indica que efetivamente ocorreram e foram contabilizados, conforme as normas do
Banco Central, um total de R$ 36
milhões em empréstimos destinados às empresas de Valério.
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