|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEGUNDO MANDATO
Entre as propostas em análise está, ainda, a criação de uma instância para articular os dois ministérios
FHC estuda fundir Educação e Ciência
FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local
O Ministério da Educação (MEC)
e o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) poderão ser unidos
em um único ministério no próximo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Essa é uma das três alternativas
apresentadas na semana passada a
FHC pelo ministro da Educação,
Paulo Renato Souza. A idéia, segundo ele, é coordenar melhor as
ações desses dois ministérios em
relação às universidades federais.
As outras duas alternativas são:
1) manter a atual divisão, mas com
alguma instância encarregada de
fazer a articulação das ações; 2)
passar a administração das 52 Instituições Federais de Ensino Superior do MEC para o MCT.
"Essa coordenação tem o objetivo de aumentar os recursos e aumentar a eficiência desses recursos", afirmou Paulo Renato Souza.
"Especialmente nesse momento
de crise, de escassez de recursos",
acrescentou.
O ministro ressaltou diversas vezes na entrevista à Folha que o ministro Israel Vargas (Ciência e Tecnologia) "fez um excelente trabalho" -mas disse não saber se Vargas continua governo.
Segundo Paulo Renato Souza,
não há prazo definido para a mudança. "No momento em que forem anunciados os ministros da
Educação e da Ciência e Tecnologia, será uma tarefa dos ministros
propor um cronograma de ações."
O nome de Paulo Renato Souza
já foi confirmado por FHC para a
Educação no próximo mandato.
A seguir, trechos da entrevista.
Folha - Circula no meio acadêmico que o sr. propôs ao presidente
unir o MEC ao MCT...
Paulo Renato Souza - Na verdade, eu não propus isso. Eu levei ao
presidente três alternativas: manter os dois ministérios, incorporar
num só, ou passar as universidades para o MCT.
Eu realmente não estou defendendo uma ou outra idéia. O que
está por trás da minha colocação é
a necessidade especialmente nesse
momento de crise, de escassez de
recursos de haver uma coordenação maior entre as ações do MEC e
as ações do MCT, no que diz respeito às universidades federais.
Folha - Mas o sistema de ciência e
tecnologia não só envolve as universidades federais como todas as
universidades que desenvolvem
alguma forma de pesquisa, estaduais, particulares...
Souza - Não só as universidades.
A ciência é toda uma área de, por
exemplo, incentivos fiscais. O
MCT é um ministério que tem uma
complexidade grande.
Eu não quero que se entenda essa
minha posição como uma crítica
ao ministro Vargas ou ao desempenho do Ministério de Ciência e
Tecnologia nos últimos anos.
Ao contrário, eu acho que o ministro Vargas fez um excelente trabalho. Ele introduziu a idéia de
avaliação dos projetos e de competição pelos recursos.
O que eu acho é que nesse momento nós precisamos fazer mais
disso e precisamos levar em consideração uma coisa muito importante: o fomento de ciência e tecnologia em geral é um fomento
vinculado a projetos, o que acaba
em muitos casos colocando um estresse adicional sobre a infra-estrutura das universidades.
Folha - Em que sentido?
Souza - Por exemplo, a conta de
luz mensal da Universidade Federal do Rio de Janeiro é de R$ 650
mil. Quanto disso são gastos ligados aos projetos de pesquisa? Os
projetos de pesquisa muitas vezes
exigem reformas importantes nas
redes de infra-estrutura, de luz, de
água etc. Supõe-se que as universidades devam oferecer essa infra-estrutura. Mas os orçamentos (que
são pagos pelo MEC) têm tido restrições nos últimos anos.
Então, o que nós queremos é que
haja realmente essa coordenação,
para que as universidades possam
ajudar melhor a pesquisa.
Folha - Há um temor no meio
científico de que uma união possa
provocar uma queda no investimento total nessa área...
Souza - Ao contrário, há o risco
de um aumento de investimentos,
porque, ao haver uma coordenação maior, uma parte mais significativa dos incentivos fiscais, por
exemplo, seria canalizada para as
universidades.
Eu vejo essa coordenação maior
com o objetivo de, primeiro, aumentar os recursos e, segundo, aumentar a eficiência dos recursos.
Folha - Também circula nas universidades que, para isso, sairia o
ministro Israel Vargas e o sr. coordenaria essa redefinição de funções dos dois ministérios...
Souza - Eu fiz a exposição ao presidente mostrando as necessidades de coordenação, mais do que
uma proposta de reestruturação
imediata. O presidente escutou,
mas não me antecipou nenhuma
decisão.
O mais provável será, pelo menos inicialmente, a manutenção
dos dois ministérios, mas realmente com uma diretriz do presidente no sentido de uma coordenação maior das ações.
Folha - Há uma reclamação das
universidades de que elas não estão participando dessa discussão...
Souza - Não há discussão ainda.
No momento em que houver discussão eles serão chamados. O governo é eleito e tem direito de pensar internamente suas propostas.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|