São Paulo, quinta, 3 de dezembro de 1998

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REAÇÃO
Homens precisam de responsabilidade em casa, diz Rosiska Oliveira
Até amigas criticam frase de presidente sobre mulheres

PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local

O presidente Fernando Henrique Cardoso atiçou a "guerra dos sexos" ao declarar anteontem que as mulheres se aposentam cedo demais. Até mesmo feministas ligadas ao casal FHC-Ruth Cardoso criticaram a tese presidencial de que as regras da Previdência, que permitem a aposentadoria cinco anos mais cedo para as mulheres, estão distorcidas.
A presidente do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, Rosiska Darci de Oliveira, amiga da antropóloga Ruth e do sociólogo Fernando Henrique, questionou a argumentação do presidente.
Para Rosiska, no Brasil de hoje não dá para falar em igualdade de condições entre homens e mulheres. "Quando os homens começarem a ter mais responsabilidades na vida privada, poderemos falar em igualdade de condições, de ônus e bônus para ambos os sexos", afirmou. Ela acredita que o atual momento é uma boa ocasião para que a sociedade comece a discutir a partilha de tarefas domésticas entre homens e mulheres.
Outras feministas fizeram coro com Rosiska. Elas defendem que o direito de se aposentar mais cedo deve permanecer porque, mesmo com a evolução dos costumes, as mulheres ainda precisam conciliar o trabalho com as atribuições domésticas.
Mais ácida, a feminista Schuma Schumaher, do Movimento de Articulação das Mulheres Brasileiras, afirmou que FHC só deu essa declaração porque não engravida. "O presidente ainda não teve a possibilidade de parir para ver como é diferente a vida das mulheres. Aposto que dona Ruth defende essa diferença também", comentou.
Além do argumento da dupla jornada de trabalho, as feministas enumeram outros motivos para sustentar a defesa da manutenção do benefício diferenciado para as mulheres. Segundo elas, o Estado brasileiro não possui uma rede de creches e de escolas públicas de ensino integral para dar apoio às mães que trabalham e não têm onde deixar os filhos.
Essa falta de estrutura, no entender das feministas, prejudica as mulheres no mercado de trabalho.
"Estou indignada com essa declaração. Não é nenhum privilégio as mulheres se aposentarem mais cedo. A sociedade tem uma dívida social conosco em função da dupla jornada de trabalho", afirmou Nair Goulart, da Força Sindical.
A pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisas Aplicadas), Hildete Pereira de Melo, tem a mesma opinião. "Essa aposentadoria é um prêmio para as mulheres que passaram a vida cuidando dos filhos e trabalhando ao mesmo tempo. O presidente só falou aquilo porque é homem e rico. Não deve ter tomado conta dos filhos dele."



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