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REAÇÃO
Homens precisam de responsabilidade em casa, diz Rosiska Oliveira
Até amigas criticam frase de presidente sobre mulheres
PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local
O presidente Fernando Henrique Cardoso atiçou a "guerra
dos sexos" ao declarar anteontem que as mulheres se aposentam cedo demais. Até mesmo feministas ligadas ao casal FHC-Ruth Cardoso criticaram a tese
presidencial de que as regras da
Previdência, que permitem a
aposentadoria cinco anos mais
cedo para as mulheres, estão distorcidas.
A presidente do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, Rosiska Darci de Oliveira,
amiga da antropóloga Ruth e do
sociólogo Fernando Henrique,
questionou a argumentação do
presidente.
Para Rosiska, no Brasil de hoje
não dá para falar em igualdade
de condições entre homens e
mulheres. "Quando os homens
começarem a ter mais responsabilidades na vida privada, poderemos falar em igualdade de
condições, de ônus e bônus para
ambos os sexos", afirmou. Ela
acredita que o atual momento é
uma boa ocasião para que a sociedade comece a discutir a partilha de tarefas domésticas entre
homens e mulheres.
Outras feministas fizeram coro com Rosiska. Elas defendem
que o direito de se aposentar
mais cedo deve permanecer porque, mesmo com a evolução dos
costumes, as mulheres ainda
precisam conciliar o trabalho
com as atribuições domésticas.
Mais ácida, a feminista Schuma Schumaher, do Movimento
de Articulação das Mulheres
Brasileiras, afirmou que FHC só
deu essa declaração porque não
engravida. "O presidente ainda
não teve a possibilidade de parir
para ver como é diferente a vida
das mulheres. Aposto que dona
Ruth defende essa diferença
também", comentou.
Além do argumento da dupla
jornada de trabalho, as feministas enumeram outros motivos
para sustentar a defesa da manutenção do benefício diferenciado para as mulheres. Segundo elas, o Estado brasileiro não
possui uma rede de creches e de
escolas públicas de ensino integral para dar apoio às mães que
trabalham e não têm onde deixar os filhos.
Essa falta de estrutura, no entender das feministas, prejudica
as mulheres no mercado de trabalho.
"Estou indignada com essa declaração. Não é nenhum privilégio as mulheres se aposentarem
mais cedo. A sociedade tem uma
dívida social conosco em função
da dupla jornada de trabalho",
afirmou Nair Goulart, da Força
Sindical.
A pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisas Aplicadas),
Hildete Pereira de Melo, tem a
mesma opinião. "Essa aposentadoria é um prêmio para as mulheres que passaram a vida cuidando dos filhos e trabalhando
ao mesmo tempo. O presidente
só falou aquilo porque é homem
e rico. Não deve ter tomado conta dos filhos dele."
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