São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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JANIO DE FREITAS

Balanços sem balanço

A imprensa brasileira e seus jornalistas estão entre os melhores do mundo. Talvez não pela qualidade técnica, também não pela firmeza ética. Mas, se tomarmos melhor como superlativo de bom e bom no sentido de bondoso, tudo se explica.
Foram necessários sete anos para que a imprensa começasse a admitir alguns possíveis aspectos negativos do governo Fernando Henrique. Foi preciso ainda outro ano, ou o fim do governo, para referências mais explícitas a efeitos da política econômica agravantes de vários problemas nacionais. Hoje, todos viram e apontaram os aspectos maléficos desde os primórdios do governo passado. Mas a generosidade não se perdeu por isso. Apenas foi transferida: os balanços do primeiro ano do governo Lula, mais do que bondosos, chegam a ser caridosos.
É verdade que o governo preparou esse tratamento especial ao longo do ano, dirigindo para determinados setores da mídia uma quantidade de verbas "publicitárias" como só na ditadura Médici se vira. Para que não falte um exemplo: o mesmo Ministério da Educação que não se move por falta de verba, como diz (e logo se desdiz) o seu ministro, agora é grande anunciante em rádio e paga até por um programa seu, de inutilidade comprovada pelo próprio ministério.
Nem tudo, porém, pode estar assim à vista. E então as estatais recebem ordem de anunciar ou fazer patrocínios em áreas da mídia indicadas pela Presidência da República. Ainda não é tudo. Também à maneira do que era feito na ditadura Médici, entidades oficiosas (associações, confederações e atividades suas) têm sido solicitadas a colaborar, com anúncios e patrocínios sem sentido, para a maior massa de verbas com que o governo acaricia grandes grupos de mídia em dificuldades financeiras.
A transparência de que Lula e José Dirceu gostam de falar não alcança nem a propaganda governamental, quanto mais as outras manipulações políticas de verbas públicas. Não é por acaso que o Siafi, Sistema de Acompanhamento Financeiro do governo pela internet, preserva o acompanhamento real a muito poucos e, de vez em quando, nem isso.
Aumento do desemprego, estagnação industrial, corte brutal de verbas com destinação social são realidades escandalosas do governo Lula e, como tais, só poderiam resultar em balanços escandalosos de um ano escandalosamente frustrante para os que deram a vitória a Lula.


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