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'11 de setembro deu fôlego ao militarismo'
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A ativista guatemalteca Rigoberta Menchú, 42, ganhadora do
Prêmio Nobel da Paz em 1992 pela
sua atuação em favor das populações indígenas no seu país, declarou ontem, em entrevista, que os
militares latino-americanos retomaram fôlego após o atentado
terrorista do dia 11 de setembro
nos Estados Unidos.
De acordo com a ativista, a necessidade de segurança recupera
um protagonismo no poder que
as forças armadas dos diversos
países não tinham desde a derrocada dos regimes militares que
prosperaram nos anos 70 e 80.
""Na Guatemala, os militares estão rindo à toa. Deram-lhes um
cheque em branco", disse Menchú, que participa do Fórum Social Mundial, que acontece até
amanhã, em Porto Alegre.
Ela também questiona o tratamento que os presos estão recebendo dos EUA na ilha de Guantánamo, em Cuba. Para Menchú, ,
os direitos humanos devem ser os
mesmos para todos, independentemente da nacionalidade do criminoso. "Por mais que sejamos
solidários ao povo norte-americano pela atrocidade da qual foi vítima, todos os criminosos têm de
ter igual tratamento."
Leia trechos da entrevista concedida à Agência Folha.
Agência Folha - Como a sra. vê a
manutenção de uma prisão norte-americana em Guantánamo, em
pleno território cubano, com detidos afegãos?
Rigoberta Menchú - É claro que é
ruim haver aquela prisão em Cuba, há tantos anos. Quanto à situação dos presos, não temos informações suficientes, pois a censura aos meios de comunicação é
forte. Não se sabe como estão
aquelas pessoas. A Anistia Internacional tentou obter informações e não conseguiu. É tudo muito delicado nessa questão do terrorismo, mas é importante, de
qualquer forma, que o público
saiba o que ocorre.
Agência Folha - Como essa situação, da guerra contra o terror, está
afetando os direitos humanos
mundialmente?
Menchú - Há várias implicações.
Primeiro, por mais que sejamos
solidários ao povo norte-americano pela atrocidade da qual foi vítima, todos os criminosos têm de
ter igual tratamento. As vítimas
norte-americanas têm o mesmo
valor que as latino-americanas.
Mudaram muitas coisas depois
do 11 de setembro, especialmente
em relação aos imigrantes, quanto à xenofobia e à discriminação.
Nos Estados Unidos, estão afetados programas de educação e saúde, pois os investimentos estatais
são dirigidos à área militar.
Agência Folha - Os gastos militares podem ter repercussão na América Latina?
Menchú - Sim, necessidade de
segurança tem efeitos como o fortalecimento de militares que estavam desacreditados no nosso
continente. Na Guatemala, os militares estão rindo à toa. Deram-lhes um cheque em branco. Isso é
muito perigoso. Nosso continente
já sofreu muito. A democracia deve ser preservada.
Agência Folha - Como se comportam os países latino-americanos?
Menchú - Eles não estão tendo
um espírito nacionalista. No México, por exemplo, as fronteiras
são controladas pelos Estados
Unidos sem reações. São governos que cedem à chantagem feita
por Bush [o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush], de
que se está contra eles ou com
eles. Nossos governos têm de ter
legitimidade para defender os interesses nacionais.
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