São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2002

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Economia brasileira é aprovada no teste de NY

DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

A política econômica brasileira passou no teste representado pelo colapso da Argentina, ao menos na avaliação dos líderes mundiais (do governo e do setor privado) reunidos em Nova York para o Fórum Econômico Mundial.
Ao resumir ontem as discussões fechadas entre os líderes, Stanley Fischer, ex-número 2 do FMI, disse que "países bem administrados manejam bem as crises" e citou Brasil e México como dois exemplos. Mais: aprovou a convicção muito presente nos mercados de que o Brasil se descolou da Argentina. Pôs até data no descolamento: novembro. Armínio Fraga, o presidente do Banco Central, concorda, mas acha que o descolamento não é nem pode ser total.
"Se a Argentina estivesse crescendo digamos 2%, o "spread" cobrado do Brasil seria mais baixo", diz, aludindo à taxa de risco nos empréstimos ao país.
De todo modo, há uma segunda boa notícia para o Brasil: embora persistam incertezas sobre o panorama econômico global, "a maioria dos líderes diz que há sinais encorajadores de que o pior pode ter ficado para trás", conforme resumiu Paul Martin, ministro de Finanças do Canadá.
Se é assim -e há controvérsias entre os economistas-, o Brasil pode contar com a ajuda de um maior dinamismo externo para estimular sua economia.
As coisas ficariam ainda mais fáceis se, em matéria de comércio internacional, os líderes saíssem da pura retórica para a prática. Armínio fez, a portas fechadas, um duro discurso contra o protecionismo agrícola dos países ricos. Eles compraram a tese, ao menos segundo o canadense Martin, que condenou "o pernicioso impacto do protecionismo agrícola". Emendou: "É má política e má economia".
Ainda assim, Stanley Fischer reconheceu que é improvável, nos próximos anos, o abandono do protecionismo agrícola.
Se este atrapalha os países em desenvolvimento, há duas sombras sobre as perspectivas globais, no resumo das discussões econômicas feitas por Fischer: a possibilidade de um novo atentado terrorista e o caso da Enron, a companhia energética norte-americana que faliu, em meio à manobras fraudulentas. "O impacto da Enron poderia influir na confiança e nos investimentos", relatou.
Embora leve o rótulo "econômico" no título, o fórum de Nova York deu ênfase, nas discussões a portas fechadas, ao tema de Porto Alegre, a pobreza, definida como "inaceitável em termos humanos e morais" por Paul Martin.
Como eco longínquo de Porto Alegre, o pessoal de Nova York acha que "não pode haver mercados fortes sem boa educação da força de trabalho e sem bom atendimento à saúde", sempre no relato do ministro canadense.
Concessão à heterodoxia: líderes reunidos em Nova York apóiam "uma reestruturação ordenada das dívidas" (ou seja, moratória). "A corrida para a saída (de um país) não beneficia ninguém", diz Martin. (CR)

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