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ELIO GASPARI
O servidor merece respeito e concurso
De tanto defender as
idéias que não tem, o comissariado petista desaprendeu
a defesa das idéias que tem. Encastelou-se de tal forma na retórica da desqualificação, que perdeu a capacidade de argumentar. Veja o caso do comissário
Luiz Marinho, presidente da
CUT, defendendo a contratação
(por meio de concursos públicos) de 41 mil novos servidores
para a máquina federal. Ele diz:
"É preciso fortalecer o Estado e
é bastante irresponsável criticar
a contratação de mais funcionários."
Criticar a providência não é
irresponsabilidade. É direito.
Com estilistas como Marinho, o
comissariado petista não precisa de Fashion Show.
A contratação dos 41 mil funcionários por concurso público
não tem nada a ver com o trem
blindado da alegria do comissário José Dirceu, que vai coordenar a nomeação de 2.800 pessoas para cargos de confiança.
(Confiança de quem, ou para
quê, resta saber.) O concurso
cria servidores, como o fiscal de
ensino Graciliano Ramos; o ascensorista Platão, do Ministério
da Fazenda, aquele que a plutocracia bajulava durante o milagre econômico, ou os fiscais do
Trabalho e o motorista assassinados pela pistolagem de Unaí.
Os servidores públicos brasileiros sofrem um processo de satanização que dura mais de
uma década. Nisso Collor,
FFHH e Lula formaram uma
trindade. Deram à palavra servidor o sentido de privilegiado,
marajá e, no limite, vagabundo.
Quando olharam em volta, tinham desmanchado a máquina
do Estado. O Brasil deve, e muito, à sua burocracia. Às vezes ela
é autoritária, burra e aproveitadora. No essencial, contudo, é
uma defensora do interesse público.
Quando o governo anunciou
que abrirá concurso para contratar 41 mil funcionários, ficou
a impressão de que a opção é
contratá-los ou não contratá-los. Na realidade, trata-se de
contratar servidores ou trabalhadores cadastrados por empresas de locação de mão-de-obra. São os "gatos" da modernidade tucana. Há cerca de 50
mil brasileiros prestando serviços ao poder público como terceirizados. Eram 40 mil em
1995. O dinheiro que será gasto
com os servidores seria gasto
com a mão-de-obra alugada. O
trabalhador terceirizado pode
até sair mais caro para a Viúva.
Trocando-se uma burocracia
a serviço do Estado por trabalhadores sem vínculos empregatícios nem direitos funcionais,
dispensa-se aquele código profissional que uniu as vidas públicas de pessoas como Celso
Furtado, Octavio Gouvea de
Bulhões e o médico Noel Nutels.
Voando mais baixo, pode-se
lembrar um caso ocorrido por
conta de um sábio do Itamaraty
que decidiu terceirizar a contratação das pessoas que cuidavam
da mapoteca do ministério.
Uma jóia da cultura nacional,
onde estavam a coleção do Barão do Rio Branco e álbuns de
fotografias da Casa Imperial. É
provável que se tenha feito
grande economia. Um êxito, até
o dia em que se deu pela falta de
um mapa. E outro, e mais outro.
Em julho do ano passado, a mapoteca foi saqueada.
Resultou o seguinte: os sábios
terceirizaram a inteligência,
privatizaram a mão-de-obra e
produziram a ruína cultural.
Economizaram um trocado e
perderam algumas das peças
mais valiosas do acervo. Coisa
de milhões de dólares. Feito o
desastre, fechou-se a mapoteca.
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