São Paulo, domingo, 04 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diretor da campanha de 98 responde a processo

LUÍS INDRIUNAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O diretor financeiro da campanha do presidente do Senado Jader Barbalho (PMDB) para governador em 1998, Jamil Moisés Xaud, 74, responde a processo na Justiça Federal do Pará por gestão temerária na época em que foi diretor do Banpará (Banco do Estado do Pará), entre 1983 e 1987.
O Ministério Público Federal apresentou denúncia contra Xaud e mais quatro diretores baseando-se em um relatório do Banco Central, de 20 volumes, feito depois da intervenção no Banpará em 1987. Todos os diretores foram afastados do banco durante a intervenção.
Na época, a comissão do Banco Central, formada por cinco técnicos, encontrou concessões de empréstimos ""sem obediência aos consagrados princípios de seletividade, garantia, liquidez e diversificação de riscos" a mais de 40 empresas.
Segundo o relatório, os empréstimos ""desmoronaram a estrutura econômico-financeira do Banco do Estado do Pará", que teria acumulado prejuízos de Cz$ 8.956.439.852, valor estimado em dezembro de 1987, equivalente hoje a R$ 427,8 milhões.

Irregularidades
Segundo o procurador da República Ubiratan Cazzeta, foram listadas 13 irregularidades em financiamentos concedidos durante a administração do Banpará no primeiro governo estadual de Jader (1983-86).
Algumas das empresas citadas na denúncia do Ministério Público Federal tinham contratos com o governo estadual.
A empresa Sacolão de Carnes, ligada aos Frigoríficos A.R. Gomes, foi contratada em 1983 por Jader para um programa de venda de produtos alimentícios.
Durante 1985, a empresa recebeu empréstimos que somariam Cr$ 4,7 bilhões (R$ 1,6 milhão, em valores de hoje). Segundo os técnicos do Banco Central, estes empréstimos não seriam possíveis porque o capital do Sacolão de Carnes era de Cr$ 2 milhões (equivalentes a R$ 712).
A Eccir, empresa de construção civil e rodoviária que tinha contratos com a Secretaria dos Transportes, recebeu Cr$ 30 bilhões em 1985 (equivalentes a R$ 10,68 milhões). Segundo o relatório, parte desse dinheiro foi usado para pagar pendências da própria empresa com o Banpará.

Títulos protestados
Já a exportadora de madeira Xylo do Brasil teria conseguido aprovação de 87 operações de câmbio, mesmo com títulos protestados na praça.
Xaud ocupou os cargos de diretor administrativo, financeiro e de câmbio na época.
Além dele, estão sendo processados os ex-diretores Vitor Hugo Moreira da Cunha e Hamilton Francisco de Assis Guedes.
Dois réus acabaram sendo excluídos: o ex-diretor Nelson de Figueiredo Ribeiro teve sua denúncia arquivada por falta de provas e Joaquim Oliveira Figueiredo morreu.
Xaud foi presidente do comitê financeiro do PMDB estadual durante a campanha de Jader ao governo em 98. Ele acabou perdendo a eleição para Almir Gabriel (PSDB), que buscava a reeleição.

Ressalvas
O juiz eleitoral Rubens Rollo D'Oliveira aprovou a prestação de contas com ressalvas, por considerar que ""o porte da campanha desenvolvida pelo candidato autoriza a presunção, salvo prova em contrário, de que foram efetuados gastos com pessoal, veículos, cachês de artistas; despesas não-declaradas".
Barbalho declarou ter gasto R$ 512.192,78. A maior parte (R$ 400 mil) foi doada pela Companhia Vale do Rio Doce. O comitê financeiro do PMDB, cujo presidente era Xaud, declarou a doação de R$ 112.192,78. Este dinheiro teria vindo em forma de papel para impressão doado pela Champion Papel e Celulose, de Mogi Guaçu, São Paulo, e pelo jornal ""Diário do Pará", cujo um dos proprietários é o próprio Jader.



Texto Anterior: Outro lado: "Dói não atender a um amigo", diz presidente do BC
Próximo Texto: Outro lado: Comissão aprovava transações, afirma advogada de Xaud
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.