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LEME VERMELHO
Dirigentes mundiais de esquerda cobraram posicionamento duro do ministro sobre o governo
Quarta Internacional orienta Rossetto
Bruno Stuckert/Folha Imagem
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O presidente Lula e o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) em reunião com agricultores sobre estiagem no Sul |
EDUARDO SCOLESE
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ataque do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel
Rossetto, contra os cortes orçamentários na pasta, nesta semana, ocorreu pouco mais de um
mês após dirigentes mundiais de
esquerda com os quais ele tem
forte ligação terem cobrado um
posicionamento duro seu sobre
o governo.
No fim de janeiro, uma carta
de líderes da Quarta Internacional, organização sediada em Paris que reúne movimentos de esquerda do mundo, reclamou
que o ministro "tem permanecido muito discreto" diante dos
"atrasos" no programa de reforma agrária.
A Democracia Socialista, corrente do PT ao qual Rossetto é filiado, é alinhada politicamente
com a Quarta Internacional, de
linhagem trotskista. A DS participa da indicação de líderes e integra fóruns, mas não é obrigada
a se submeter a suas deliberações. A carta, em português, surgiu pela primeira vez no Fórum
Social Mundial, em Porto Alegre, e causou polêmica na DS. Os
três autores, o deputado socialista português Francisco Louçã, o
francês Daniel Bensaid e o franco-brasileiro Michel Lowy são figuras respeitadas na Quarta Internacional e atuam como porta-vozes eventuais da DS.
"Diante dos obstáculos, orçamentários notadamente, teria sido possível [a Rossetto] elevar o
tom para fazer a responsabilidade pelos atrasos recair sobre opções macroeconômicas e preparar dessa forma uma possível
saída do governo ou, ao menos,
a apresentação de balanço defensável diante dos movimentos
sociais."
A repercussão foi tamanha
que motivou a DS a enviar uma
resposta em 24 de fevereiro: "A
carta e a forma como foi utilizada para tentar impor uma orientação a uma corrente política nacional rompem com a boa tradição da colaboração amiga. Cria
um ambiente absolutamente
constrangedor para o debate".
Na esquerda petista, a carta está sendo vista como uma vocalização da insatisfação de integrantes da DS com a timidez de
Rossetto nas críticas ao governo.
O texto dos dirigentes mundiais faz um alerta: "Parece que o
MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário] tem permanecido muito discreto na sua expressão pública. Ele se arrisca,
assim, a ser imprensado entre
uma política de governo da qual
quase não se demarcou e o descontentamento crescente dos
movimentos agrários".
Internamente, no ministério e
no Incra, os reclamos de Rossetto foram vistos em grande parte
como uma satisfação à corrente
petista e aos movimentos sociais. Isso porque, em 2004, a
pasta enfrentou esses problemas, e o ministro preferiu não
polemizar publicamente. Desta
vez, o ministro tomou a iniciativa de ligar para algumas redações e rotular de "pesado" o corte de R$ 2 bilhões.
Há ainda uma notória preocupação com os rumos tomados
por alguns ministros. Neste ponto, Rossetto é citado.
"A participação no governo
torna-se cada vez mais problemática. (...) Sobre a participação
de Miguel [Rossetto no governo]
existiam, desde o início, avaliações diversas, tanto na Internacional quanto entre vocês [dirigentes da DS]." Procurado ontem, o ministro não comentou.
Um dos líderes da DS, o deputado estadual Raul Pont (RS) diz
que Rossetto não acatou ordens
da organização e que a posição
de saída do governo é minoritária.
História
Entidade mundial esquerdista
com sede em Paris (França), a
Quarta Internacional foi criada
em 1938 pelo líder comunista
russo Leon Trotsky (1879-1940),
que, em 1917, foi um dos artífices
da Revolução Russa.
A organização, que teve em
seus quadros o marido de Marta
Suplicy, Luis Favre, defende linha revolucionária e reúne partidos e movimentos de todo o
mundo.
A Quarta Internacional se considera herdeira das tradições da
Primeira Internacional, fundada
por Karl Marx e Friedrich Engels, da Segunda Internacional e
da Internacional Comunista. Ela
é adversária da Internacional
Socialista. Uma parte do PT
"moderado" defende a integração à última.
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