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Desnutrição e alcoolismo assolam aldeias em MS
Prostituição, filhas grávidas do pai, violência e suicídio são registrados na região
Famílias dependem de cestas básicas oferecidas por governos estadual e federal; MS suspendeu distribuição em janeiro
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM DOURADOS (MS)
Donos de menos de 40 mil
hectares de terra, cerca de 30
mil índios guaranis e caiuás de
Mato Grosso do Sul estão confinados. Falta terra em um ambiente de miséria.
Há casos de desnutrição infantil, alcoolismo, prostituição,
filhas grávidas do pai, violência
(ao menos 60 índios são presidiários), suicídios (11 enforcamentos em 2006) e conflito pela posse da terra (uma índia de
70 anos foi morta a tiros em janeiro dentro de uma fazenda).
Com esse quadro, as famílias
dependem de cestas de alimentos dos governos estadual e federal. Apesar disso, algumas famílias trocam cestas por bebida
alcoólica, segundo lideranças.
Nas duas etnias, a desnutrição causou a morte de 47 crianças indígenas menores de quatro anos de 2005 a fevereiro
deste ano, segundo a Funasa
(Fundação Nacional de Saúde).
Em janeiro e fevereiro deste
ano foram seis mortes relacionadas à desnutrição.
"As cestas ajudam muito. O
reflexo vem rápido: cortou a
cesta, no outro mês começa a
complicar. Em janeiro, o número de crianças que perderam
peso aumentou muito", afirma
Hélder Lúcio Ganacin, médico
da Funasa.
Ao tomar posse neste ano, o
governador André Puccinelli
(PMDB) suspendeu a distribuição de 11 mil cestas de alimentos a indígenas. A Funasa seguiu distribuindo 5.500. O governo federal ainda prepara
uma intervenção maior, enquanto a Funai (Fundação Nacional do Índio) está ausente
(leia texto nesta página).
O alcoolismo atinge parte das
famílias. Não há estatísticas,
mas em Dourados (MS) a Funasa tem uma lista de 60 famílias em que os pais bebem e as
crianças são desnutridas.
Na reserva de 3.475 hectares
vivem cerca de 11 mil índios, incluindo terenas. Entre 2.338
crianças, 8,2% estão desnutridas. Há 20 em estado grave.
Três crianças morreram neste
ano de causa relacionada à desnutrição nessa área indígena,
situada a 5 km da cidade.
Conforme a Funasa, a densidade demográfica na aldeia
chega a 331 habitantes por quilômetro quadrado; em Dourados, é de 40,2. Motos, bicicletas
e carros ainda dividem espaço
com as carroças dos índios.
A situação é semelhante nos
2.430 hectares da reserva de
Amambaí, onde vivem 7.000
índios. Dentro das aldeias, a
Funasa mantém uma rede de
postos de saúde e atendimento
nas casas, mas passou também
a ser fundamental na distribuição de cestas de alimentos.
O chefe do Distrito Sanitário
Especial Indígena de Mato
Grosso do Sul, Wanderley
Guenka, montou a estratégia
para o mês de março: atenderá
8.239 famílias com crianças
menores de seis anos com 44 kg
de alimentos cada um. Outras
3.000, sem crianças pequenas,
receberão uma cesta de 22 kg.
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