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Drogas chegam às tribos e desestruturam famílias
Segundo a Funasa, substância mais difundida nas aldeias é a pasta-base de cocaína
Crianças passam a semana
em abrigos da Funasa e,
ao voltar para casa, perdem
peso porque pais não têm
comida, conta nutricionista
DA AGÊNCIA FOLHA, EM DOURADOS (MS)
Fome, alcoolismo e uso de
drogas desestruturam famílias
indígenas guaranis e caiuás em
Mato Grosso do Sul. O resultado disso são crianças desnutridas ou em risco nutricional.
A Folha constatou essa situação em visita a aldeias de
Amambaí e Dourados.
"Como dar todo dia comida
para as crianças se às vezes não
tenho para dar?", pergunta a
índia caiuá Élida Vilhalva, 33,
mãe de sete filhos, da aldeia de
Amambaí. O mais velho tem 15
anos e o mais novo, Aleson, de
um ano e seis meses, está com
desnutrição grave. Pesa 6,1 kg,
mas deveria ter 12 kg, diz a nutricionista da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) Lady
Mary Crespão Mallmann.
Há mais de um ano, Vilhalva
perdeu o marido. Sem renda, a
família passou então a morar
em um barraco de aproximados 2 metros de comprimento
por 1,50 m de largura, coberto
de sapé e restos de lona, no
meio de um matagal. Sem cama, a família dorme no chão.
Faltam roupas e comida.
"Está fazendo dois meses
que não vem a cesta [de alimentos] do governo [do Estado]. Trabalho para ganhar
mandioca. Dinheiro mesmo eu
não vejo. As crianças comem só
mandioca. Recebi uma cesta da
Funasa, mas deu para 15 dias."
Aleson passa a semana no
Centrinho da Funasa (abrigo
que dá alimento a crianças), na
aldeia de Amambaí, com mais
33 crianças desnutridas ou em
risco nutricional. No fim de semana, fica em casa.
É justamente nos fins de semana que, segundo Lady Mary,
a indiazinha desnutrida Joseane, de um ano e três meses,
costuma perder 200 gramas.
Na semana, a menina engorda,
pois fica no Centrinho.
De sexta à noite a segunda-feira pela manhã, Joseane perde peso devido à situação da
mãe, Olinda Ribeiro, 25, grávida (não sabe de quanto meses)
e alcoólatra, segundo a Funasa.
Além do álcool, as drogas
chegaram às aldeias. Maricleide Isnarde, 28, precisou ser
resgatada na aldeia Bororó, em
Dourados, por uma equipe da
Funasa, na noite de terça-feira,
com seis crianças -a mais velha com nove anos e a menor,
de dois meses de vida.
Drogado, segundo constatou
a Funasa, o marido bateu em
Isnarde e ameaçou as crianças.
Três delas são irmãs de Isnarde, cuja mãe morreu, e as outras três são filhas dela. Outros
dois filhos ficaram na aldeia.
"Ele [o marido] queria dinheiro para comprar droga. Eu
queria guardar para a comida",
afirmou Isnarde. A família foi
levada para a Casa do Índio
(um abrigo da Funasa) na cidade, que já abrigava quatro
crianças -três desnutridas.
O marido deverá passar por
um programa de recuperação
de usuário de drogas. Segundo
a Funasa, a droga mais difundida nas aldeias de MS é a pasta-base de cocaína.
(HUDSON CORRÊA)
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