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JANIO DE FREITAS
Desinteresse nas mudanças
O governo não quer a obrigação de dar à segurança pública as verbas que ele inclui no Orçamento
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A CRIMINALIDADE cria mais
monstruosidades a cada dia,
mas o clamor provocado pela
morte do menino João Hélio cumpre o estigma brasileiro do rápido
esquecimento, e disso se aproveitam deputados e senadores para
reativar a sua relutância em aprovar
projetos capazes, em princípio, de
atenuar a insegurança pública. Vários deles, dormitando no Congresso há mais de dez anos.
A semana foi farta em manobras
protelatórias e em protelações sem
necessidade de manobra. Três
exemplos são suficientes para ilustrar os truques da relutância e a gravidade de seus efeitos.
Sob o eloquente rótulo de "grupo
de trabalho de segurança pública"
da Câmara, os deputados assim reunidos recusaram, abrandando-as,
alterações para maior rigor, em tempo e em destinação, na prescrição de
crimes. O facilitário de muitas das
prescrições, variáveis segundo o crime, tem sido eficiente e banal porta
de saída para a impunidade. Por esta
porta passa uma fila sem fim de criminosos financeiros.
Entre garfadas e goles no restaurante do Senado, a primeira reunião
dos senadores indicados para dirimir a divergência que paralisou a
Comissão de Constituição e Justiça,
a propósito da maioridade penal, teve assim o seu melhor resultado:
comprovou que o óbvio continua
sendo óbvio. Como se sabia, e se publicou, a idéia de redução da maioridade penal não permitiria acordo, a menos que um dos lados cedesse, e
nenhum deles aceitava comprometer-se com recuo. A atual questão da
maioridade não comporta meio termo. Mas, com isso, a CCJ adiou por
mais um mês e meio a apreciação
dessa e de outras votações finais.
A retenção de verbas orçamentárias do Ministério da Justiça, e portanto da Polícia Federal, é um dos
problemas de graves conseqüências
que nascem no próprio governo.
Não começou no governo Lula, mas,
quando se pensou que chegara ao
máximo com Malan/Fernando
Henrique, Antonio Palocci e Joaquim Levy elevaram-no, quando na
Fazenda e no Tesouro Nacional, a
proporções que um Código Penal
democrático, mesmo, não aceitaria
como atos só administrativos.
Decisão inaugural do que seria a
resposta do Congresso ao agravamento da criminalidade, afinal o Senado aprovou a proibição de que
verbas para a segurança sejam retidas, transformando-se em pagamento de juros e em saldos gloriosos
do governo. O projeto seguiu para a
votação na Câmara. E lá foi direto
para o dormitório. O governo não
quer a obrigação de dar à segurança
pública as verbas para a segurança
pública que ele inclui no Orçamento
e o Congresso aprova.
Para completar, com maior amplitude, a relutância de socorros à insegurança pública, a Câmara realça o
tema da reforma política. Mas sem
disposição de considerar a proposta
da Ordem dos Advogados do Brasil,
que não se presta aos interesses dos
parlamentares. E, em lugar desta,
reabrindo as preliminares aprovadas para que os novos deputados sugiram modificações. Inovação cujo
efeito é protelar também o arremedo de reforma política.
Como está, seja na legislação política, seja na legislação penal, continua muito bom para os parlamentares, que têm muitos interesses pessoais assegurados na primeira ou
em ambas as legislações.
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