São Paulo, quarta, 4 de março de 1998

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Presidente diz que juros altos é "tiro no pé'

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

O presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que as contas públicas "não são animadoras" e que o resultado negativo de R$ 306 bilhões se deveu ao excesso de pedidos de aposentadoria, aos juros da dívida pública e ao déficit nos Estados e municípios.
Segundo ele, a reforma da Previdência e as transferências das dívidas dos Estados para a União devem ajudar a solucionar o problema.
Quanto aos juros, disse que espera que, em média, as taxas deste ano sejam equivalentes às do ano passado.
"Fica claro que a taxa de juros tem de baixar, senão é um tiro no pé (do governo). Quem sofre com a taxa de juros alta são os governos e o consumidor. O agricultor não paga essa taxa de juros. (O setor de) exportação tem formas de se defender."
A declaração faz parte de uma entrevista gravada na sexta-feira passada em Brasília e exibida ontem à noite pelo Canal 23, por meio do sistema de TV a cabo de Belo Horizonte. Um dos proprietários do Canal 23 é o jornalista Alberico Souza Cruz.
Segundo FHC, o governo não gastou mais do que recebeu, e tanto o Tesouro Nacional quanto as empresas estatais federais tiveram superávit.
Por outro lado, a Previdência teve um déficit de quase R$ 4 bilhões. "Muita gente correu para se aposentar, com medo da reforma e porque as nossas leis permitiam a uma pessoa se aposentar com menos de 50 anos de idade."
O presidente disse que o resultado se deveu também ao déficit em "algumas empresas públicas estaduais" e, "em parte", aos gastos com folha de pagamento e Previdência dos funcionários públicos dos Estados e municípios.
Ele afirmou ainda que a expansão da dívida do governo federal foi, na verdade, muito menor do que aparece nas contas públicas.
"Esta expansão da dívida é uma expansão aparente. Houve também (expansão), mas muito menor do que aparece. O governo federal engoliu 50 e tantos bilhões de reais que, antes, apareciam como dívida de São Paulo."
Segundo ele, o país tem condições de controlar o futuro das dívidas dos Estados porque os contratos assinados não permitem aos governos aumentar a dívida e eles passam a pagar, porque, senão, a União desconta dos repasses dos fundos de participação.
"Esse desequilíbrio é uma fase de transição da nossa economia. Na verdade, houve uma mudança na forma do déficit. Não estou negando que haja déficit, sobretudo na Previdência, mas não é gastança da União."

Eleições
Ele afirmou que não fará "retaliações", se a convenção do PMDB decidir lançar candidatura própria à Presidência, mas que espera que os ministros do partido deixem o governo.
"Isso criará um constrangimento para o peemedebistas. Se eles quiserem ficar no governo e ficar contra ao mesmo tempo, dá aquela espécie de geléia geral, que não é boa."
Sobre a possibilidade de uma candidatura do ex-presidente Itamar Franco, o presidente disse que não fará críticas a ele, devido às relações anteriores dos dois.
"Em homenagem ao presidente Itamar Franco, fiz muito empenho para que a fábrica da Mercedes-Benz fosse para Juiz de Fora (terra natal do ex-presidente)."

Desemprego
O presidente disse, na entrevista ao Canal 23, que em qualquer lugar do mundo as taxas de desemprego no Brasil seriam consideradas indicativo de "pleno emprego".
"A sensação do desemprego é maior do que o próprio desemprego. No Rio de Janeiro, o desemprego no ano passado foi de 3,47% e, não obstante, as pessoas do Rio de Janeiro estão convencidas de que é um grande problema."



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