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MEMÓRIA
Dornelles afirma que houve pressão para ex-prefeito renunciar à disputa em 85
Maluf evitou golpe, diz ministro
da Reportagem Local
O ministro do Trabalho e Emprego, Francisco Dornelles (PPB),
sobrinho de Tancredo Neves
(1910-1985), disse ontem que o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf
se recusou a renunciar à sua candidatura à Presidência da República, no colégio Eleitoral (eleição
indireta), realizada em 15 de janeiro de 1985, evitando assim a
realização de um "golpe militar".
O hoje também pepebista Maluf
perdeu a eleição para Tancredo
Neves, mas este morreu antes de
tomar posse.
Segundo Dornelles, as pressões
para que Maluf renunciasse, permitindo que o governo militar "tivesse continuidade", partiram de
setores diretamente ligados ao
Palácio do Planalto, então ocupado pelo general João Baptista Figueiredo (1918-1999).
"Eu não posso avaliar essa história que o Newton Cruz falou,
que Maluf foi na casa dele", disse
o ministro, referindo-se a declarações recentes de Cruz, segundo as
quais Maluf o teria convidado, no
final de 84, para liderar um golpe.
"Quero dizer que, em determinado período da campanha, final
de novembro (de 84), o Tancredo
foi informado de que havia um
movimento muito grande visando à renúncia de Paulo Maluf e
que aquela renúncia era um instrumento para que surgisse um
movimento de permanência do
Figueiredo por mais um ano, com
eleição direta depois."
Conforme Dornelles, Tancredo
lhe pediu que marcasse um encontro com o general Golbery do
Couto e Silva, que havia sido chefe
da Casa Civil até 1981.
"Na minha casa, Tancredo disse
ao Golbery que estava com informações muito seguras de que havia uma pressão muito grande do
Palácio para o Maluf renunciar. O
Golbery disse: "Se renunciar, é
muito ruim, porque pode haver
esse movimento de prorrogação
do Figueiredo um ano com eleições diretas e essas eleições não
vão acontecer nunca"."
Golbery teria dito a Tancredo
que faria alguns contatos e que
depois voltaria a falar com ele.
"Umas duas horas depois o Golbery voltou, dizendo que realmente havia um movimento muito grande em cima do Maluf para
ele renunciar, mas que ele estivera
com o Maluf e trazia ali a palavra
dele de que não ia renunciar".
Na opinião de Dornelles, "história, cada um vê um lado". "Mas eu
tenho esse fato objetivo, de que o
Maluf se comprometeu a não retirar a candidatura. Eu sou testemunha."
Dornelles afirmou ainda que,
naquele período, sempre conversou "muito" com Newton Cruz.
"Eu nunca senti dele nenhuma intenção de virar a mesa".
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