São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2000


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MEMÓRIA
Dornelles afirma que houve pressão para ex-prefeito renunciar à disputa em 85
Maluf evitou golpe, diz ministro

da Reportagem Local

O ministro do Trabalho e Emprego, Francisco Dornelles (PPB), sobrinho de Tancredo Neves (1910-1985), disse ontem que o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf se recusou a renunciar à sua candidatura à Presidência da República, no colégio Eleitoral (eleição indireta), realizada em 15 de janeiro de 1985, evitando assim a realização de um "golpe militar".
O hoje também pepebista Maluf perdeu a eleição para Tancredo Neves, mas este morreu antes de tomar posse.
Segundo Dornelles, as pressões para que Maluf renunciasse, permitindo que o governo militar "tivesse continuidade", partiram de setores diretamente ligados ao Palácio do Planalto, então ocupado pelo general João Baptista Figueiredo (1918-1999).
"Eu não posso avaliar essa história que o Newton Cruz falou, que Maluf foi na casa dele", disse o ministro, referindo-se a declarações recentes de Cruz, segundo as quais Maluf o teria convidado, no final de 84, para liderar um golpe.
"Quero dizer que, em determinado período da campanha, final de novembro (de 84), o Tancredo foi informado de que havia um movimento muito grande visando à renúncia de Paulo Maluf e que aquela renúncia era um instrumento para que surgisse um movimento de permanência do Figueiredo por mais um ano, com eleição direta depois."
Conforme Dornelles, Tancredo lhe pediu que marcasse um encontro com o general Golbery do Couto e Silva, que havia sido chefe da Casa Civil até 1981.
"Na minha casa, Tancredo disse ao Golbery que estava com informações muito seguras de que havia uma pressão muito grande do Palácio para o Maluf renunciar. O Golbery disse: "Se renunciar, é muito ruim, porque pode haver esse movimento de prorrogação do Figueiredo um ano com eleições diretas e essas eleições não vão acontecer nunca"."
Golbery teria dito a Tancredo que faria alguns contatos e que depois voltaria a falar com ele.
"Umas duas horas depois o Golbery voltou, dizendo que realmente havia um movimento muito grande em cima do Maluf para ele renunciar, mas que ele estivera com o Maluf e trazia ali a palavra dele de que não ia renunciar".
Na opinião de Dornelles, "história, cada um vê um lado". "Mas eu tenho esse fato objetivo, de que o Maluf se comprometeu a não retirar a candidatura. Eu sou testemunha."
Dornelles afirmou ainda que, naquele período, sempre conversou "muito" com Newton Cruz. "Eu nunca senti dele nenhuma intenção de virar a mesa".


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