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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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EUA são contra "otimismo exagerado" e FMI vê avanço na aprovação da PEC

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O diretor para a área de assuntos brasileiros e do Cone Sul do Departamento de Estado dos EUA, James Carragher, disse ontem que deve ser vista "com muita cautela e sem otimismo exagerado" a vitória do governo anteontem na votação da PEC que permite a regulamentação fatiada do artigo 192 da Constituição.
"O projeto votado era o do governo Fernando Henrique Cardoso, e não o do PT", disse Carragher, referindo-se ao fato de a Proposta de Emenda à Constituição aprovada por 442 votos ter sido redigida pelo ex-senador tucano José Serra.
Os comentários foram feitos durante seminário em Washington para avaliação dos primeiros cem dias (que vão se completar em breve) do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva.
Diante de um tom bastante positivo apresentado em relação ao novo governo, Carragher reagiu: "Não quero estragar o piquenique de vocês, mas a lei de autonomia do Banco Central ainda precisa ser regulamentada. Isso é outra história. A votação de ontem foi fácil e animou os mercados, mas há muito mais reformas complicadas pelo caminho. Vamos ver".
O embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa, ponderou que a agenda de reformas propostas pelo governo do PT é mesma que vinha sendo cobrada pelos partidos da base aliada durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
"As reformas não são novas e têm o apoio do PSDB e o do PFL. O PT agora está completando esse quadro", afirmou o embaixador, acrescentando que acredita na sua aprovação.

"Continuidade"
Barbosa afirmou que o governo Lula representa uma "continuidade" dos princípios do governo FHC e que a política externa brasileira sob o PT está mais "assertiva e pró-ativa" do ponto de vista comercial.
Carragher confirmou que o presidente norte-americano, George W. Bush, pretende realizar ainda neste ano um encontro de cúpula com Lula. Data e local ainda estão em aberto. "Mas a reunião vai ocorrer", disse.
Uma das discussões levantadas no seminário foi a oportunidade e o "ineditismo" do programa Fome Zero e o compromisso com os pobres assumido pelo PT.
O cientista político Luis Bitencourt, diretor do The Wilson Center, de Washington, e professor da Georgetown University, disse que "não há nada de novo" no projeto petista. "O governo Fernando Henrique tinha 17 programas do tipo, Fernando Collor se elegeu falando aos descamisados e até José Sarney tinha o seu programa do leite", disse.

Elogio do FMI
Já o FMI (Fundo Monetário Internacional) elogiou a aprovação da PEC. Para o Fundo, isto foi uma indicação da força do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para implementar sua agenda econômica.
A autonomia do Banco Central "é algo pelo qual temos expressado nosso apoio no passado", disse Thomas Dawson, porta-voz do Fundo, em entrevista coletiva.
"Creio que é outra indicação da capacidade do governo para ter sucesso para levar adiante sua agenda", acrescentou.
O FMI defende também as reformas tributária e previdenciária, para que o país disponha de recursos suficientes para pagar sua dívida pública.
"O novo governo fez um progresso muito grande e impressionante em termos de programa", afirmou Dawson.
O Brasil tem um programa de empréstimos com o FMI no valor de US$ 31 bilhões, selado em setembro do ano passado, quando o país atravessava uma crise de confiança às vésperas das eleições.


Com agências internacionais


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