São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS CORREIOS

Segundo relator, presidente pode ser acusado de crime de responsabilidade se petistas insistirem ter havido caixa dois, e não "mensalão"

Relatório do PT é pior para Lula, diz Serraglio

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmou ontem que se o PT insistir em apresentar um relatório paralelo reduzindo o "mensalão" a caixa dois complicará a situação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que poderia ser acusado, segundo ele, de crime de responsabilidade.
O relatório final da comissão afirma que o esquema operado pelo publicitário Marcos Valério de Souza serviu para a compra de apoio parlamentar pelo governo, mas os petistas não concordam com essa afirmação.
"Eles dizem que os recursos para os mensaleiros são de caixa dois. Se eu admitir isso, estou dizendo que o dinheiro foi para a campanha do presidente Lula. Aí temos crime de responsabilidade", afirmou Serraglio. "O PT fez os pagamentos durante o mandato dele", acrescentou o relator.
A suposta comprovação de crime de responsabilidade pode justificar o pedido de impeachment do presidente. Para o processo ser aberto, porém, é preciso autorização da Câmara. O PT precisa derrubar primeiro o relatório de Serraglio, para só então aprovar o paralelo. O governo tem uma pequena maioria na comissão, de no máximo dois votos, embora não seja confiável. Há o risco de os governistas, depois da eventual rejeição do texto original, não conseguirem apoio para aprovar o documento produzido por eles. A comissão ficaria sem conclusão.
No relatório, Serraglio poupou o presidente Lula ao dizer que não há provas de que ele se omitiu em relação ao esquema do "mensalão". Apesar disso, o documento afirma que ele não teria "dificuldade" em perceber a suposta compra de apoio parlamentar.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), estão tentando intermediar um acordo entre Serraglio e o PT. Eles avaliam que, para a imagem do governo e do Congresso, é melhor manter o texto do relator com alterações pontuais do que derrubá-lo.
O início da discussão está previsto para hoje, mas o documento só deve ser votado amanhã. Até ontem Serraglio não estava disposto a acatar mudanças em seu texto e não havia acordo entre governo e oposição.
"É um relatório que procurou ser correto. Se me mostrarem incorreções, estou aberto para corrigir. Por enquanto não vi nada que tivesse que ser modificado", afirmou o relator.
Além de afirmar que o repasse de dinheiro para parlamentares da base aliada era caixa dois de campanha, o relatório paralelo também exclui dos pedidos de indiciamento o lobista Nilton Monteiro, que entregou a "lista de Furnas" à Polícia Federal.
Essa lista aponta 156 políticos, especialmente da oposição, que teriam recebido dinheiro, em esquema de caixa dois, arrecadado na estatal Furnas Centrais Elétricas. Serraglio pediu o indiciamento de Monteiro por calúnia, falsidade ideológica e falsidade de sinal público, devido a suposta falsificação do logotipo da empresa.
Parlamentares do PSDB e do PFL acusam petistas de estarem por trás da suposta montagem da lista e o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) de ter usado politicamente o documento.


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