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Arquivo detalha dossiê da Casa Civil contra FHC
EXCLUSIVO Conjunto de planilhas, com 27 páginas, saiu pronto do Planalto
Organização dos dados sobre gastos da Presidência começou em 11 de fevereiro e seguiu diretriz política, e não lógica administrativa
Nauro Júnior/Agência RBS
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Dilma Rousseff e Lula conversam em visita a Rio Grande (RS), acompanhados de Jobim e Tarso
LEONARDO SOUZA
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cópia de arquivo extraído diretamente da rede de computadores da Casa Civil mostra que
o dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, da sua mulher, Ruth,
de ministros tucanos e até da
chef de cozinha de FHC saiu
pronto do Palácio do Planalto.
O documento, a que a Folha
teve acesso, afasta a possibilidade de que tenha havido adulteração nos dados arquivados
pela Casa Civil que o governo
chama de base de dados, feito
de forma paralela ao sistema de
controle de gastos de suprimento de fundos, o Suprim.
O conjunto das planilhas,
com 27 páginas e 532 lançamentos de despesas ao todo,
revela que às 15h28 do dia 11 de
fevereiro, a Casa Civil começou
a lançar nas planilhas dados colhidos de processos de prestações de contas dos gastos de suprimentos de fundos da Presidência entre 1998 e 2002. Os
processos foram retirados do
arquivo morto, guardado num
prédio anexo do Planalto.
O documento digital revela
que, no período de uma semana, foram criadas pastas diferentes para 1998, ano em que
FHC foi reeleito, e os quatro
anos do segundo mandato.
Foram agrupadas separadamente, também, as despesas de
Ruth Cardoso, da chef de cozinha Roberta Sudbrack e de dois
dos ministros mais poderosos
do Planalto na época, Eduardo
Jorge (Secretaria Geral da Presidência) e Clóvis Carvalho
(Casa Civil e Desenvolvimento), além de Arthur Virgílio, senador tucano que exerceu o
cargo de secretário-geral da
Presidência.
O documento mostra como
estava essa base de dados da
Casa Civil até 18 de fevereiro,
mais de um mês antes de a revista "Veja" noticiar a existência de um dossiê destinado supostamente a constranger a
oposição a Lula no Congresso.
Na data da criação do arquivo ainda não havia sido instalada a CPI dos Cartões, mas a investigação no Congresso de
despesas do governo Lula com
cartões corporativos tornara-se inevitável. Aliados governistas conseguiriam depois estender as investigações a 1998 e ao
segundo mandato de FHC.
A organização dos dados seguiu uma lógica política, e não
administrativa. As planilhas,
fartas em registros de compras
de bebidas alcoólicas, trazem
anotações que poderiam orientar os aliados governistas nos
trabalhos da CPI.
É identificada também a sigla PR (Presidência da República) na planilha Excel como a
empresa onde foi gerado o arquivo. Conforme a Folha revelou na sexta-feira passada, a ordem para a confecção do dossiê
foi dada por Erenice Guerra, a
número dois da ministra Dilma
Rousseff na Casa Civil.
Detalhes do arquivo afastam
a possibilidade de montagem a
partir de "fragmentos" da base
de dados do Planalto.
Anteontem à noite, por meio
de nota de sua assessoria, a Casa Civil levantou essa possibilidade como uma nova versão
para o caso do dossiê.
"A planilha de 13 páginas,
mencionada pelo jornal em
suas reportagens, contém informações que constam no
banco de dados, como reconhecemos desde o início. No entanto, ela não confere com as
nossas nem na seqüência nem
na forma de organização das
informações. Tal fato sugere a
possibilidade de ter sido montada com fragmentos da base
de dados", diz a nota.
As pastas do arquivo mostram que não foi mudada nem
sequer uma vírgula no relatório de 13 páginas que circulou
no Congresso -nem na ordem
dos dados nem na organização
das informações, com viés claramente político.
Ou seja, o dossiê que chegou
às mãos de parlamentares saiu
como estava arquivado nos
computadores da Casa Civil.
O arquivo registra, nas propriedades do programa Excel,
datas e horários de acesso à base de dados do Planalto. Essas
informações poderiam ser verificadas por meio de perícia,
mas a Casa Civil não admite essa possibilidade.
Desde o início da crise do
dossiê, 13 dias atrás, a equipe
da ministra Dilma, assim como
o ministro da Justiça, Tarso
Genro, descartam a possibilidade de a Polícia Federal participar das investigações.
Por ora, elas estão restritas a
uma comissão de sindicância
composta por três funcionários
públicos e que se reporta à Casa Civil, de onde partiu a ordem
para montar o banco de dados.
A Casa Civil reconheceu que
mandou fazer o banco de dados
visando eventuais requerimentos da CPI -que nem estava
instalada. Em 20 de fevereiro,
dois dias depois da abertura do
arquivo do dossiê na Casa Civil,
Dilma diria a empresários em
um jantar que estava levantando gastos tucanos e que o governo não iria apanhar quieto.
Na versão da Casa Civil, os
dados seriam transferidos para
o sistema oficial de controle de
despesas de suprimento de
fundos da Presidência da República, o Suprim.
O governo alegou problemas
de ordem tecnológica e a desorganização dos processos de
prestação de contas de FHC
para justificar a montagem de
uma base de dados paralela ao
Suprim.
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