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Pivô dos "aloprados" vira fazendeiro no sul da Bahia
Ex-assessor de Mercadante que ganhava R$ 5.000 agora é sócio em negócio de R$ 1,5 mi
Hamilton Lacerda, que levou a mala com R$ 1,7 mi para petistas comprarem o dossiê anti-PSDB, tem como sócio ex-assessor de Palocci
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A ENCRUZILHADA (BA)
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apontado pela Polícia Federal como o homem da mala de
dinheiro que seria usado na
compra de um dossiê contra tucanos, o empresário petista Hamilton Lacerda virou fazendeiro no sul da Bahia.
De assessor parlamentar do
senador Aloizio Mercadante
(PT-SP), com salário de cerca
de R$ 5.000, Lacerda passou a
tocar há dois anos uma fazenda
com plantação de eucalipto e
uma revenda de produtos agrícolas -negócios com capital
social de R$ 1,5 milhão.
Na propriedade, Lacerda tem
como sócio Juscelino Dourado,
ex-assessor de Antonio Palocci
envolvido com um suposto negociador de propina para o PT.
Foi Lacerda quem entregou a
mala com R$ 1,7 milhão de origem ilícita para emissários petistas comprarem o dossiê que
tentava ligar José Serra, então
candidato a governador, a um
esquema de venda fraudulenta
de ambulâncias a prefeitos.
O caso ficou conhecido como
o escândalo dos "aloprados"
-termo usado por Lula para
classificar os petistas envolvidos- e contribuiu para que a
eleição presidencial entre ele e
o tucano Geraldo Alckmin fosse levada para o 2º turno.
A PF indiciou Lacerda sob
acusação de lavagem de dinheiro, mas não descobriu de onde
veio o R$ 1,7 milhão -apreendido com dois emissários petistas num hotel em São Paulo. O
petista nunca revelou a origem
dos recursos. Na época, Lacerda era um dos coordenadores
da campanha de Mercadante a
governador. Com o escândalo,
perdeu o cargo e deixou o PT.
Em fevereiro deste ano, voltou ao partido. Em São Caetano
do Sul, onde mora, é conhecido
pelos companheiros petistas
apenas como professor universitário de vida social discreta.
Seus vizinhos desconhecem
seu lado empresarial. Ele é fundador e um dos sócios da Bahia
Reflorestamento, que mantém
plantações de eucalipto na fazenda Olho d'Água, no município de Encruzilhada (BA).
Com 247 hectares de área, a
propriedade está avaliada em
aproximadamente R$ 500 mil.
Dourado, seu sócio mais ilustre, foi chefe de gabinete de Palocci até setembro de 2005. Ele
deixou o cargo devido às suas ligações com um advogado que
afirmou ter negociado propina
de R$ 6 milhões para o PT em
troca da renovação de um contrato da Caixa Econômica.
O ex-assessor de Palocci entrou na empresa sete meses
após ela ter sido criada por Lacerda. É o "aloprado" quem está registrado na Junta Comercial como administrador do negócio, com poder para movimentar a sua conta bancária.
Os dois também foram sócios
na empresa de revenda de produtos agrícolas, a Destak Agrícola. Dourado deixou essa sociedade há um ano.
Para atuar na Bahia, Lacerda
usa uma empresa de consultoria aberta logo após o caso do
dossiê e que tem como endereço sua casa em São Caetano do
Sul. Outro artifício é utilizar
um preposto na Bahia, Breno
Macedo Santos, 27. Com profissão de estudante declarada à
Junta Comercial, ele serve tanto como atual sócio na revenda
de produtos agrícolas como para manter a fazenda registrada
em seu nome no cartório, como
se a área estivesse apenas arrendada a Lacerda.
Uma visita à propriedade,
porém, entrega a manobra. Na
porteira há uma placa onde está escrito que a dona do imóvel
é a Bahia Reflorestamento, comandada por Lacerda.
A fazenda está às margens da
BR-116, próximo a um posto da
Polícia Rodoviária Federal e à
divisa com Minas Gerais. A área
possui uma trilha de 200 metros de comprimento, com
plantações de eucalipto. As árvores estão em fase de crescimento -serão necessários
mais cinco anos para cortá-las.
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