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QUESTÃO AGRÁRIA
Os policiais que participaram da retirada de sem-terra podem ter ganho R$ 200 cada de fazendeiros PMs podem ter sido pagos por ação no PA
ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Parauapebas
A Polícia Civil
do Pará tem indícios de que os
11 policiais militares que participaram da desocupação ilegal
dos sem-terra
da fazenda Goiás 2, em Parauapebas, receberam R$ 200 dos fazendeiros.
O pagamento teria sido intermediado por um dos dois oficiais de
Justiça que notificaram os
sem-terra, há dez dias, da decisão
judicial de reintegração de posse.
Após a desocupação, dois líderes
do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) do sul
do Pará, Onalício Araújo Barros, o
"Fusquinha", e Valentin Serra, o
"Doutor", foram assassinados.
A Justiça decretou a prisão provisória de 11 fazendeiros acusados
pelas mortes, mas nenhum deles
havia sido preso até a noite de ontem. Os fazendeiros culpam os
sem-terra pelos assassinatos. Para
eles, os líderes foram mortos após
discutir com os sem-terra.
Em depoimento à Polícia Civil,
os 11 policiais negaram ter recebido o dinheiro, mas afirmaram que
foram recrutados pelo oficial de
Justiça José Eduardo Ferreira do
Vale e pelo proprietário da fazenda Goiás 2, Carlos Antônio da
Costa, o Carlinhos.
Vale negou em depoimento ter
recrutado os policiais. "Ele (Vale)
nos falou que precisava da ajuda
para conter a fúria dos fazendeiros
e fomos mesmo assim, sem ordem
do comando, disse em depoimento o sargento Luiz Augusto Costa.
"Temos depoimentos que indicam o pagamento pelo trabalho
dos PMs e sabemos da existência
da "caixinha' para os PMs", afirmou o delegado responsável pelas
investigações, Lauriston Góes.
Apesar de terem participado da
ação de desocupação, o delegado
afirma que já conseguiu confirmar
que os PMs não estavam no local
do assassinato dos líderes. O promotor do caso, José Godofredo
dos Santos, disse que os depoimentos dos PMs, presos por indisciplina, "mostram o nível terrível
de ilegalidade da desocupação".
O diretor do Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá, Sérgio
Ribeiro Correa, negou ontem que
os fazendeiros tenham oferecido
qualquer dinheiro para os policiais militares.
O presidente do Sindicato dos
Produtores Rurais de Parauapebas, Geraldo Milton Soares, também diz não ter conhecimento de
"caixinha" e condenou a ação dos
fazendeiros.
A ronda feita ontem por tropas
do Exército nas proximidades da
fazenda Goiás 2, que foi reinvadida no domingo pelo MST, impediu que um grupo de 150 sem-terra se juntasse às 35 famílias que estão ocupando a fazenda.
Técnicos da Polícia Científica do
Instituto Médico Legal, em Belém,
esperavam ontem que a polícia de
Parauapebas conseguisse apreender as armas que mataram os
sem-terra.
Sem elas, não há como comparar
com o único projétil calibre 38 que
foi encontrado no corpo de um
dos sem-terra assassinado no conflito. O laudo, antecipado ontem
pela Agência Folha, diz que "Fusquinha" morreu com cinco tiros
-um deles quando já estava morto. "Doutor" morreu com um tiro
no coração.
Segundo o diretor-geral da Polícia Científica do Instituto Médico
Legal, Luiz Malcher, o laudo será
apresentado segunda-feira.
A necropsia dos dois sem-terra
ocorreu 18 horas após as mortes.
Evidências como cápsulas ou projéteis podem ter sido retiradas do
local dos crimes, disse Malcher.
Colaboraram
Luís Indriunas e Fabiana Pereira, da Agência Folha
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