São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

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ANÁLISE

ACM e Arruda desabaram sozinhos

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Não dá mais. Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda podem voltar para casa. E que fiquem quietos por um bom tempo -uns oito anos, eu diria.
Sinceramente, não pensei que fosse tão fácil. As versões de ACM e de Arruda desabaram sozinhas. Eram umas quatro da tarde. O relator, senador Roberto Saturnino Braga, terminara suas perguntas. Passou-se a palavra ao primeiro inscrito, o senador Jefferson Péres. Bastaram-lhe duas ou três perguntas, em tom respeitoso, mas extremamente severo.
Vi o que não pensei ser possível: ACM confuso, atrapalhando-se. Mais que isso; ele derretia como sorvete.
De José Roberto Arruda eu não esperava muita coisa; é um personagem menor. Um olhar de soslaio, um tom agudo na voz, a gesticulação convencional -nada na sua atitude se afastou do comportamento do ginasiano que, pego com a boca na botija, "repudia", e "com máxima veemência", as acusações de que é inquinado. Sua história é inacreditável. Dizer que fazia apenas uma "consulta" à diretora do Prodasen... bom, não há o que comentar.
Mas Antonio Carlos Magalhães sempre inspira mais temor. Um político capaz de reagir. De ameaçar. Era o ex-presidente do Senado, afinal. Mais do que isso, era ACM. Recebe uma lista com a violação dos votos no Senado e...
E nada? Não pergunta quem violou? Não pergunta quem é o responsável pelo crime? Não repreende a dona Regina? Ah, não sabia que ela tinha organizado a violação? Como não sabia? O senador Jefferson Péres não se dispôs sequer a continuar seu interrogatório.
ACM tentou, por alguns momentos, mostrar-se veemente; fazer discurso. Curiosamente, discursos que elogiavam muito a diretora do Prodasen e seu colega Arruda. Tentou se sustentar. Mas aquilo foi um naufrágio.
Do ponto de vista do espetáculo, claro que eu, como todo mundo, teria preferido ver todos os envolvidos se xingando e estapeando. Seria divertido se a acareação fosse ela própria uma quebra indubitável do decoro parlamentar. Não foi assim. O presidente do Conselho de Ética, Ramez Tébet, estava interessado até as raias do pânico em manter a dignidade da casa.
Isso se conseguiu. Questões fatuais, minúcias de conversa, pontos precisos de interpretação foram examinados e reexaminados com grande paciência e insistência. Não houve show. Não houve baixaria.
Mas houve, sim, um espetáculo: o de um Senado que, como instituição, vai aprendendo a respeitar-se a si mesmo e aos cidadãos. Depois dessa acareação, a festa de ACM e Arruda acabou. Ou renunciam, ou são cassados. Não há outro desfecho possível.


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