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ANÁLISE
ACM e Arruda desabaram sozinhos
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Não dá mais. Antonio Carlos
Magalhães e José Roberto
Arruda podem voltar para casa. E
que fiquem quietos por um bom
tempo -uns oito anos, eu diria.
Sinceramente, não pensei que
fosse tão fácil. As versões de ACM
e de Arruda desabaram sozinhas.
Eram umas quatro da tarde. O relator, senador Roberto Saturnino
Braga, terminara suas perguntas.
Passou-se a palavra ao primeiro
inscrito, o senador Jefferson Péres.
Bastaram-lhe duas ou três perguntas, em tom respeitoso, mas
extremamente severo.
Vi o que não pensei ser possível:
ACM confuso, atrapalhando-se.
Mais que isso; ele derretia como
sorvete.
De José Roberto Arruda eu não
esperava muita coisa; é um personagem menor. Um olhar de soslaio, um tom agudo na voz, a gesticulação convencional -nada
na sua atitude se afastou do comportamento do ginasiano que, pego com a boca na botija, "repudia", e "com máxima veemência", as acusações de que é inquinado. Sua história é inacreditável. Dizer que fazia apenas uma
"consulta" à diretora do Prodasen... bom, não há o que comentar.
Mas Antonio Carlos Magalhães
sempre inspira mais temor. Um
político capaz de reagir. De
ameaçar. Era o ex-presidente do
Senado, afinal. Mais do que isso,
era ACM. Recebe uma lista com a
violação dos votos no Senado e...
E nada? Não pergunta quem
violou? Não pergunta quem é o
responsável pelo crime? Não repreende a dona Regina? Ah, não
sabia que ela tinha organizado a
violação? Como não sabia? O senador Jefferson Péres não se dispôs sequer a continuar seu interrogatório.
ACM tentou, por alguns momentos, mostrar-se veemente; fazer discurso. Curiosamente, discursos que elogiavam muito a diretora do Prodasen e seu colega
Arruda. Tentou se sustentar. Mas
aquilo foi um naufrágio.
Do ponto de vista do espetáculo,
claro que eu, como todo mundo,
teria preferido ver todos os envolvidos se xingando e estapeando.
Seria divertido se a acareação fosse ela própria uma quebra indubitável do decoro parlamentar.
Não foi assim. O presidente do
Conselho de Ética, Ramez Tébet,
estava interessado até as raias do
pânico em manter a dignidade da
casa.
Isso se conseguiu. Questões fatuais, minúcias de conversa, pontos precisos de interpretação foram examinados e reexaminados
com grande paciência e insistência. Não houve show. Não houve
baixaria.
Mas houve, sim, um espetáculo:
o de um Senado que, como instituição, vai aprendendo a respeitar-se a si mesmo e aos cidadãos.
Depois dessa acareação, a festa de
ACM e Arruda acabou. Ou renunciam, ou são cassados. Não
há outro desfecho possível.
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