São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

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SENADO EM CRISE

Globo aproveita a crise para escarnecer de ACM

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), cuja família é proprietária da retransmissora da Rede Globo na Bahia, não tem sido poupado pela emissora na cobertura jornalística da crise do Senado e virou o alvo preferido do humorístico "Casseta & Planeta", que terça-feira usou o trocadilho Antonio Carlos "Fraudalhães".
ACM também não gostou do fato de a novela das oito, "Porto dos Milagres", ter incluído recentemente na trama um senador baiano envolvido em irregularidades. Na véspera do depoimento de ACM ao Conselho de Ética do Senado, na semana passada, foi ao ar um capítulo em que o senador, interpretado por Lima Duarte, tem uma conversa gravada secretamente por um adversário.
O "Programa do Jô", que fez entrevistas com os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Heloísa Helena (PT-AL), adversários de ACM, tem sido chamado pelo senador de "palanque da oposição".
Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, afirma que ACM "está sendo e será tratado como qualquer político seria na cobertura da violação do painel eletrônico e em qualquer outro episódio". Ele diz ainda que o manual jornalístico da emissora afirma que "o jornalismo não tem afetos nem desafetos".
O programa "Casseta & Planeta", que teve de deixar de exibir recentemente um quadro de sátira à cantora Sandy, protagonista da novela das seis, tem, segundo seus diretores, liberdade para tornar ACM avo de suas piadas. "No caso da sátira a ACM, não recebemos interferência nem para colocar nem para tirar nada", afirma Claudio Manoel, ator e redator final do programa.
Jô Soares disse à Folha, com ironia, que "agradece o elogio de ACM". "Meu programa é um fórum aberto de debate, e estamos tentando trazer ACM também para entrevistá-lo."
Ricardo Linhares, autor de "Porto dos Milagres", disse que o senador Vitório (Lima Duarte) "não foi diretamente inspirado em ACM nem em nenhum outro político". "A inspiração vem certamente do escândalo no Senado e do quadro político atual", disse.
ACM sempre teve uma relação próxima a Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo. Os laços se estreitaram quando ACM foi ministro das Comunicações (governo Sarney) e a retransmissão da Rede Globo na Bahia passou para a TV Bahia, propriedade da família Magalhães.
Mas ACM passou a sentir um tratamento diferente da emissora em março de 2000, quando foi exibido o "Globo Repórter" em que seu nome era envolvido nas denúncias de Nicéa Camargo, ex-primeira dama de São Paulo, contra a gestão de Celso Pitta.
Na época, ACM enviou carta aos filhos de Roberto Marinho, dizendo que estranhava a maneira como havia sido tratado no episódio. Recebeu como resposta que um empresário da comunicação deveria entender a necessidade de separar a amizade entre famílias da linha editorial da emissora.



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