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SENADO EM CRISE
Carlistas ocupam ato contra ACM na Bahia
Decepção, solidariedade, pouco caso, raiva e adoração estavam nos comentários de algumas das cerca de 300 pessoas diante de TV
CYNARA MENEZES
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR
Como na bandeja do vendedor
Robson Trancolino dos Santos, a
manifestação a favor da cassação
do senador Antonio Carlos Magalhães, ontem em Salvador, tinha
cocada de coco e cocada de goiaba
-ou seja, apesar de programada
pela oposição, atraiu também
gente contrária à perda do mandato.
Decepção, solidariedade, pouco
caso, raiva, adoração. Todos esses
sentimentos vinham à tona nos
comentários de algumas das cerca
de 300 pessoas que se detiveram
de pé diante do aparelho de televisão instalado na praça da Piedade,
centro da capital, para acompanhar a acareação que colocou
mais uma vez em jogo o futuro de
do senador baiano.
Acarajé
Duas baianas de acarajé, Vera
Lúcia e Lindinalva, ambas dos
Santos, abandonaram os tabuleiros na calçada para assistir à acareação. Vera deixou claro seu desapontamento com o senador:
"Adoro ACM, mas ele machucou
muito a gente. Demos muito a ele
e não soube aproveitar. Merece a
cassação". Lindinalva, tímida, só
assentia.
Do lado delas, o técnico em eletrônica Gracindo Bispo balançava
a cabeça em sinal de desaprovação. "Sou contra a cassação. A
violação do painel não é nada, este
país já vem sendo violado há muitos anos. Agora, nessa parte social
ele tem um deslizezinho", opinou
Gracindo, que disse ter uma "dívida de gratidão" com ACM por
ele ter-lhe arranjado um emprego
público 20 anos atrás.
Nos bancos da praça, os grupos
se formavam, misturando os que
eram contra e a favor do senador.
"ACM é a honra e a glória da Bahia, é o político mais expressivo
do Brasil", bradava o médico Mário Viana da Silva. "Que nada, rapaz, é um carcomido", rebatia, ao
lado dele, um amigo que não quis
se identificar.
O corretor Carlos Brandão chegou provocando: "Se ele tem o
apoio do povo daqui, como disse,
por que não foi testar no sábado
passado, indo ao jogo do Bahia
contra o Sport? Seria consagrado,
ou... Não foi por causa do "ou'".
Um grupo de palhaços que pedia ajuda para uma campanha social no semáforo e não se aproximou da manifestação dava ensejo
à pergunta: então o baiano está se
sentindo assim? "Ele pode estar
até me fazendo de palhaço, fez errado, é culpado realmente, mas eu
gosto dele. Antes de ACM tomar o
poder a Bahia era péssima", disse
Fabrício Nascimento, um dos integrantes da trupe.
Alemão
Até um gringo que rondava por
ali, o alemão Ingo Melchers, há
seis semanas vivendo em Salvador, quis dar seu palpite na história. "Estou preocupado que ACM
consiga se livrar, é muito esperto.
Eu não gosto dele nem um pouquinho", disse Melchers, que viveu um ano em Recife, em 1992, e
se disse estudioso da política brasileira.
Havia também os que pareciam
não ter muita noção do que estava
acontecendo, como o pedreiro
aposentado Simão de Oliveira, 73,
que dizia "tanto faz" para a cassação de ACM, mas defendia "botar
para fora" o presidente Fernando
Henrique. Ou o vendedor de cocadas Robson, que acreditava estar assistindo à cassação do mandato de ACM em vez da acareação. De todo jeito, era o mais sorridente por ali: tinha trazido 250
cocadas, metade de coco, metade
de goiaba, a R$ 0,10 cada uma.
Vendeu todas.
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