São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

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SENADO EM CRISE

Carlistas ocupam ato contra ACM na Bahia

Decepção, solidariedade, pouco caso, raiva e adoração estavam nos comentários de algumas das cerca de 300 pessoas diante de TV

CYNARA MENEZES
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

Como na bandeja do vendedor Robson Trancolino dos Santos, a manifestação a favor da cassação do senador Antonio Carlos Magalhães, ontem em Salvador, tinha cocada de coco e cocada de goiaba -ou seja, apesar de programada pela oposição, atraiu também gente contrária à perda do mandato.
Decepção, solidariedade, pouco caso, raiva, adoração. Todos esses sentimentos vinham à tona nos comentários de algumas das cerca de 300 pessoas que se detiveram de pé diante do aparelho de televisão instalado na praça da Piedade, centro da capital, para acompanhar a acareação que colocou mais uma vez em jogo o futuro de do senador baiano.

Acarajé
Duas baianas de acarajé, Vera Lúcia e Lindinalva, ambas dos Santos, abandonaram os tabuleiros na calçada para assistir à acareação. Vera deixou claro seu desapontamento com o senador: "Adoro ACM, mas ele machucou muito a gente. Demos muito a ele e não soube aproveitar. Merece a cassação". Lindinalva, tímida, só assentia.
Do lado delas, o técnico em eletrônica Gracindo Bispo balançava a cabeça em sinal de desaprovação. "Sou contra a cassação. A violação do painel não é nada, este país já vem sendo violado há muitos anos. Agora, nessa parte social ele tem um deslizezinho", opinou Gracindo, que disse ter uma "dívida de gratidão" com ACM por ele ter-lhe arranjado um emprego público 20 anos atrás.
Nos bancos da praça, os grupos se formavam, misturando os que eram contra e a favor do senador. "ACM é a honra e a glória da Bahia, é o político mais expressivo do Brasil", bradava o médico Mário Viana da Silva. "Que nada, rapaz, é um carcomido", rebatia, ao lado dele, um amigo que não quis se identificar.
O corretor Carlos Brandão chegou provocando: "Se ele tem o apoio do povo daqui, como disse, por que não foi testar no sábado passado, indo ao jogo do Bahia contra o Sport? Seria consagrado, ou... Não foi por causa do "ou'".
Um grupo de palhaços que pedia ajuda para uma campanha social no semáforo e não se aproximou da manifestação dava ensejo à pergunta: então o baiano está se sentindo assim? "Ele pode estar até me fazendo de palhaço, fez errado, é culpado realmente, mas eu gosto dele. Antes de ACM tomar o poder a Bahia era péssima", disse Fabrício Nascimento, um dos integrantes da trupe.

Alemão
Até um gringo que rondava por ali, o alemão Ingo Melchers, há seis semanas vivendo em Salvador, quis dar seu palpite na história. "Estou preocupado que ACM consiga se livrar, é muito esperto. Eu não gosto dele nem um pouquinho", disse Melchers, que viveu um ano em Recife, em 1992, e se disse estudioso da política brasileira.
Havia também os que pareciam não ter muita noção do que estava acontecendo, como o pedreiro aposentado Simão de Oliveira, 73, que dizia "tanto faz" para a cassação de ACM, mas defendia "botar para fora" o presidente Fernando Henrique. Ou o vendedor de cocadas Robson, que acreditava estar assistindo à cassação do mandato de ACM em vez da acareação. De todo jeito, era o mais sorridente por ali: tinha trazido 250 cocadas, metade de coco, metade de goiaba, a R$ 0,10 cada uma. Vendeu todas.


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