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SEM-TERRA
Líder do MST no Pontal nega posse de arma encontrada em carro no qual estava durante blitz da Polícia Militar
Rainha diz que sua prisão é "política" e foi "armação"
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM PRESIDENTE VENCESLAU
O líder do MST no Pontal do Paranapanema (SP) José Rainha Jr.,
41, disse ontem, em entrevista exclusiva à Agência Folha, na Cadeia de Presidente Venceslau, que
é "um preso político". Foi sua primeira entrevista desde 25 de abril,
dia da prisão. Segundo ele,"o
MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] e a luta
pela reforma agrária foram os
mais atingidos com a prisão".
Rainha negou ser o dono da arma apreendida por uma blitz da
PM e acusou "uma armadilha da
banda podre da polícia que é aliada da ultradireita do Pontal".
Segundo ele, José Luiz Silva Santos, que dirigia o Gol no momento
blitz da PM, teria sido pressionado, ao depor na Polícia Civil, para
modificar seu depoimento.
No termo de ocorrência da PM,
Santos disse que dava carona a
Rainha e que era o dono da arma.
No depoimento à Polícia Civil, ele
aponta Rainha como o dono da
espingarda calibre 12, de cano
curto e de uso restrito.
Preso desde o dia 25 de abril,
Rainha aproveitou o tempo na
prisão para ler quatro livros, que,
segundo ele, o fizeram refletir sobre sua "prisão". Leia a seguir os
principais trechos da entrevista:
Agência Folha - De quem afinal
era a arma apreendida pela PM na
blitz que resultou na sua prisão?
José Rainha Jr. - Eu nem sabia da
existência de arma no carro. Peguei carona assim como as outras
duas pessoas [duas mulheres
também estava no carro". Só fiquei sabendo da arma depois que
o soldado disse que ela existia.
Nem sei se era do Zé Luiz, que é
um menino simples. Fui convidado a ir à delegacia como testemunha. Depois do boletim de ocorrência da PM eu estava dispensado. De repente tudo mudou e o
delegado disse que já havia falado
com os policiais e com o Zé Luiz e
que a arma era minha e que eu estava preso. Foi uma armação.
Agência Folha - Que tipo de armação? O motorista teria participação
na armação já que ele mudou o depoimento à Polícia Civil e disse que
a arma era realmente sua?
Rainha - O Zé Luiz foi pressionado a mudar sua versão, foi ameaçado. A prisão foi uma armação
da banda podre das polícias que
agem no Pontal junto com os fazendeiros, com a ultradireita que
manda no Pontal. Eu quero deixar claro à opinião pública que
quem está preso não é o Zé Rainha. O MST e a luta pela reforma
agrária que foram atingidos.
Agência Folha - Mas houve um
flagrante...
Rainha - Eu quero dizer uma coisa. Eu não tinha arma, eu não tenho condenação, não sou criminoso, logo preciso estar livre.
Agência Folha - Como o você analisa a exigência do juiz Athis de
Araújo Oliveira, de Teodoro Sampaio, ao pedir certidões de antecedentes seus em São Paulo e Vitória
(ES) ao seu advogado?
Rainha - Nunca morei em São
Paulo. O mundo inteiro sabe que
fui absolvido em Vitória. Só o
doutor Athis não deve saber disso. Quero alertar que sou um preso político.
Agência Folha - O sr. acredita que
conseguirá liberdade provisória?
Rainha - Espero que a Justiça, seja em Teodoro Sampaio ou no TJ,
analise os fatos à luz da verdade.
Se não cometi crime algum, por
que o pedido de liberdade vem
sendo protelado? Eu acredito na
Justiça, sempre respeitei as determinações judiciais. Ainda quero
crer que as leis funcionam no Brasil e que um fato como esse da minha prisão, na verdade uma cilada, nunca mais ocorra.
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