São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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SEM-TERRA

Líder do MST no Pontal nega posse de arma encontrada em carro no qual estava durante blitz da Polícia Militar

Rainha diz que sua prisão é "política" e foi "armação"

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM PRESIDENTE VENCESLAU

O líder do MST no Pontal do Paranapanema (SP) José Rainha Jr., 41, disse ontem, em entrevista exclusiva à Agência Folha, na Cadeia de Presidente Venceslau, que é "um preso político". Foi sua primeira entrevista desde 25 de abril, dia da prisão. Segundo ele,"o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] e a luta pela reforma agrária foram os mais atingidos com a prisão".
Rainha negou ser o dono da arma apreendida por uma blitz da PM e acusou "uma armadilha da banda podre da polícia que é aliada da ultradireita do Pontal".
Segundo ele, José Luiz Silva Santos, que dirigia o Gol no momento blitz da PM, teria sido pressionado, ao depor na Polícia Civil, para modificar seu depoimento.
No termo de ocorrência da PM, Santos disse que dava carona a Rainha e que era o dono da arma. No depoimento à Polícia Civil, ele aponta Rainha como o dono da espingarda calibre 12, de cano curto e de uso restrito.
Preso desde o dia 25 de abril, Rainha aproveitou o tempo na prisão para ler quatro livros, que, segundo ele, o fizeram refletir sobre sua "prisão". Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
 

Agência Folha - De quem afinal era a arma apreendida pela PM na blitz que resultou na sua prisão?
José Rainha Jr. -
Eu nem sabia da existência de arma no carro. Peguei carona assim como as outras duas pessoas [duas mulheres também estava no carro". Só fiquei sabendo da arma depois que o soldado disse que ela existia. Nem sei se era do Zé Luiz, que é um menino simples. Fui convidado a ir à delegacia como testemunha. Depois do boletim de ocorrência da PM eu estava dispensado. De repente tudo mudou e o delegado disse que já havia falado com os policiais e com o Zé Luiz e que a arma era minha e que eu estava preso. Foi uma armação.

Agência Folha - Que tipo de armação? O motorista teria participação na armação já que ele mudou o depoimento à Polícia Civil e disse que a arma era realmente sua?
Rainha -
O Zé Luiz foi pressionado a mudar sua versão, foi ameaçado. A prisão foi uma armação da banda podre das polícias que agem no Pontal junto com os fazendeiros, com a ultradireita que manda no Pontal. Eu quero deixar claro à opinião pública que quem está preso não é o Zé Rainha. O MST e a luta pela reforma agrária que foram atingidos.

Agência Folha - Mas houve um flagrante...
Rainha -
Eu quero dizer uma coisa. Eu não tinha arma, eu não tenho condenação, não sou criminoso, logo preciso estar livre.

Agência Folha - Como o você analisa a exigência do juiz Athis de Araújo Oliveira, de Teodoro Sampaio, ao pedir certidões de antecedentes seus em São Paulo e Vitória (ES) ao seu advogado?
Rainha -
Nunca morei em São Paulo. O mundo inteiro sabe que fui absolvido em Vitória. Só o doutor Athis não deve saber disso. Quero alertar que sou um preso político.

Agência Folha - O sr. acredita que conseguirá liberdade provisória?
Rainha -
Espero que a Justiça, seja em Teodoro Sampaio ou no TJ, analise os fatos à luz da verdade. Se não cometi crime algum, por que o pedido de liberdade vem sendo protelado? Eu acredito na Justiça, sempre respeitei as determinações judiciais. Ainda quero crer que as leis funcionam no Brasil e que um fato como esse da minha prisão, na verdade uma cilada, nunca mais ocorra.


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