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São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

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QUESTÃO AGRÁRIA

Em resposta, presidente promete reforma "tranquila e pacífica'; liberação de crédito agrícola será antecipada

Pecuaristas cobram de Lula respeito à propriedade rural

LUCIANA CONSTANTINO
ENVIADA ESPECIAL A UBERABA (MG)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu ontem cobranças de incentivo ao setor pecuarista e de respeito ao direito à propriedade rural, durante a abertura da 69ª Expozebu (Exposição Internacional de Gado Zebu), em Uberaba, em Minas Gerais.
O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, José Olavo Borges, em discurso, pediu incentivo a seu setor e respeito ao direito de propriedade -recado claro à política agrária do ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), que estava presente e é associado por ruralistas à linha de ação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Apesar de não ter revogado a medida provisória que suspende a reforma agrária em áreas invadidas, o governo Lula tem deixado a lei apenas no papel.
"Quando se desrespeita o proprietário rural com a invasão de sua propriedade, não é somente o direito do indivíduo que está sendo desrespeitado. Esse desrespeito é uma afronta ao Estado de Direito, à democracia e à paz social", afirmou Borges.
Em resposta, durante discurso, Lula disse que vai promover uma reforma agrária "tranquila e pacífica". O presidente também anunciou medidas para afagar o setor, com o adiantamento em um mês dos financiamentos para a safra deste ano -que terão R$ 17 bilhões disponíveis, contra R$ 13 bilhões do ano passado. Também prometeu a cafeicultores uma solução para assegurar mecanismos que evitam perdas ao setor.
O presidente citou também a questão do dólar, que domina seus discursos nos últimos dias. "Estamos há 120 dias no governo. Havia quem pensasse que o dólar iria a R$ 5. Hoje, tem gente pedindo para ele não cair mais", disse. A agricultura é um dos setores exportadores que temem a valorização excessiva do real.

Reformas
Lula voltou a cobrar ontem pressa do Congresso para aprovar as reformas da Previdência e tributária ainda neste ano.
""Tinha anunciado que ia mandar as propostas de reformas no segundo semestre. Mandei no dia 30 de abril. Acho que cabe a todos nós trabalharmos com deputados e senadores para que sejam aprovadas neste ano", afirmou.
Pedindo apoio dos governadores para que influenciem as bancadas estaduais nas votações das reformas, Lula prometeu isonomia. "Vou tratar o Aécio [Neves, PSDB-MG, que estava presente" como se fosse do meu partido. Ninguém será marginalizado por não participar do meu partido, ou não ter a minha religião ou não torcer pelo meu time."
Num auto-elogio, Lula comparou-se ao mineiro Juscelino Kubitschek (1902-1976): ""Só tem alguém que andou parte do que eu andei, que foi JK quando na Presidência".
O presidente falou ainda sobre a posição do Brasil. ""Durante muito tempo, ficamos nos tratando como se fôssemos uma nação pequena, como se fôssemos um país de Terceiro Mundo, como se a culpa fosse dos países ricos. Ouso dizer que a verdade é que a relação comercial nem sempre é mais igualitária, mas acho que não podemos continuar a jogar culpa da incompetência histórica nossa em cima dos outros", declarou.
Após discursar, Lula falou por 40 minutos com criadores de zebu e saiu para almoçar na fazenda do empresário Jonas Barcelos, dono da Brasif (organização com envolvimento em construção civil e dona da rede de free-shops).



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