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PROGRAMA NUCLEAR
Reinício consta de resolução de setembro de 2002, acertada entre o governo FHC e interlocutores petistas
Acordo prevê retomada de obras de Angra 3
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao defender o programa nuclear e a retomada da construção
da usina de Angra 3, no Rio de Janeiro, o ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral (PSB),
pode estar desagradando a parcelas ligadas ao mundo acadêmico e
ambiental, mas ele não está falando sozinho. Ao contrário, tem
apoio da cúpula do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva.
Conforme a Folha apurou, o
reinício de Angra 3 foi acertado
discretamente, ainda no governo
de Fernando Henrique Cardoso,
entre a então equipe do Ministério de Ciência e Tecnologia e os
seus interlocutores no PT. O resultado foi uma resolução jogando a decisão para maio de 2003
-ou seja, para o novo governo.
Essa resolução, que é do CNPE
(Conselho Nacional de Política
Energética), foi aprovada em setembro de 2002, às vésperas do
primeiro turno da eleição presidencial, quando o petista Luiz
Inácio Lula da Silva já era considerado virtualmente eleito.
Com base nela, a Eletronuclear,
subsidiária da Eletrobras para essa área, deverá apresentar ao
CNPE agora em maio um relatório para a continuação de Angra
3. Deverá relatar, por exemplo: 1)
eventuais negociações com bancos e agências de crédito para o financiamento do restante da obra;
2) medidas para os licenciamentos ambiental e nuclear do empreendimento; 3) propostas de
depósito definitivo para o chamado "lixo atômico".
Pendências
Após analisar o relatório apresentado no final do ano passado
para avaliar a viabilidade ambiental de Angra 3, o CNPE concluiu
que havia pendências, como o tratamento do lixo nuclear.
Faltava estabelecer local e modo
adequados para tratar os rejeitos,
um dos pré-requisitos para o licenciamento da usina no Conselho Nacional de Meio Ambiente.
Depois da manifestação deste
mês da Eletronuclear, o passo seguinte será da própria Eletrobras,
a quem cabe formalizar uma proposta de financiamento da construção da usina, incluindo a
amortização do serviço da dívida
nos primeiros anos de operação.
O Brasil já investiu cerca de US$
750 milhões no projeto de Angra
3, que vem se arrastando desde a
década de 60, nos governos militares, e deveria estar pronta em
1988. A maioria dos equipamentos já foi paga e está no país, o que
representa um gasto anual de cerca de US$ 20 milhões somente para manutenção.
Para concluí-la, seriam necessários pelo menos mais US$ 1,8 bilhão para um cronograma de
obras de cinco anos.
"Eu defendo Angra 3. Não só
pela importância da usina como
geradora, mas pelo efeito multiplicador do programa nuclear.
Não é só uma pesquisa física. Para
ter projeto nuclear, você desenvolve engenharia, biologia, química e toda uma gama de ciências
que tem efeito multiplicador na
sociedade", disse Amaral.
A retomada da usina também
tem apoio do governo do Rio, onde fica o município de Angra dos
Reis. O ex-governador do Rio Anthony Garotinho, que é do PSB
como Amaral e casado com a
atual governadora, Rosinha Matheus, defende Angra 3 desde a
campanha presidencial de 2002.
Saneamento
O presidente da Eletrobras, físico Luiz Pinguelli Rosa, porém, entra com um argumento pragmático. Ele diz que "a proposta [de
Angra 3" continua viva", mas faz
uma ressalva poderosa: "Angra
pode entrar no cronograma de
obras, sim, mas antes é preciso sanear a Eletronuclear, que opera
no vermelho".
Um dos motivos: a energia nuclear é mais barata do que o gás
natural produzido pelas termelétricas. O que cria uma situação curiosa: o Brasil precisa investir em
energia nuclear, que é mais barata, mas justamente por isso a Eletronuclear está no vermelho e não
tem condições de atrair financiamentos para estimular a produção de energia nuclear. Um choque entre presente e futuro.
Logo depois da posse no ministério, Roberto Amaral se envolveu numa polêmica sobre o desenvolvimento de tecnologia para
a fabricação da bomba atômica,
mas diz que o que ele defendeu e
defende é a energia nuclear para
fins pacíficos, não para a bomba.
Diz que defende o uso dessa tecnologia, por exemplo, para a aplicação em projetos de saúde.
O Orçamento do Ministério da
Ciência e Tecnologia prevê R$
16,745 milhões para aplicações
nucleares na área médica, dos
quais 4,29% foram liberados até
março pelo governo federal.
Além disso, o desenvolvimento
tecnológico na área nuclear tem
R$ 12,593 milhões previstos no
Orçamento da pasta, além de outros R$ 15,762 milhões para segurança nuclear.
Segundo Amaral, o Brasil é o
único país que se posicionou contra a política de proliferação nuclear por dispositivo constitucional. Além disso, permite a fiscalização pela Agência Internacional
de Instalações Militares.
"Somos contra a proliferação
nuclear, signatários do Tratado de
Não-Proliferação de Armas Nucleares", afirmou o ministro, ao
comentar sobre a declaração da
bomba atômica.
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